Num comunicado enviado à Lusa em resposta às críticas que hoje ganharam forma de uma petição dirigida ao parlamento contra a “destruição da mesquita principal de Lisboa identificada na Sé Patriarcal”, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) refere que a preservação no local das estruturas em causa “não é compatível com a execução da obra em curso”.
Segundo a DGPC, que lembra que já antes foram desmontadas outras composições, a manutenção das estruturas colocaria “em risco a estabilidade estrutural de parte substancial da ala sul do claustro da Sé Patriarcal (Monumento Nacional), pondo em causa a própria implementação do projeto reformulado e o investimento associado”.
“Os trabalhos arqueológicos no local têm decorrido na conjugação de esforços, permitindo a minimização dos impactes sobre o património arqueológico subjacente e os elementos estruturais do imóvel classificado, evitando o seu colapso, não obstante a implementação de fortes e apertadas medidas de estabilização e sustentação dos mesmos”, acrescenta a direção-geral.
De acordo com a DGPC, “as estruturas que foram identificadas e que agora é necessário desmontar através da aplicação da [Lei de Bases do Património Cultural] correspondem a um pequeno troço de parede à qual se encontra adoçado um banco construído em alvenaria de tijolo com dois pequenos arcos, que segundo a direção científica da intervenção poderá associar-se a uma área de vestiário relacionado com os banhos da mesquita e uma área associada à base do minarete que terá existido naquele local”.
No mesmo texto, a DGPC recorda que a segunda fase das obras de recuperação e valorização da Sé Patriarcal de Lisboa começou em 2018, tendo por “objetivo principal a construção de um espaço museológico e cripta arqueológica, a reposição do pátio do jardim do claustro, e a conservação e restauro das capelas e claustro inferior e superior”.
“Os vestígios arqueológicos então postos a descoberto constituíram o móbil do pedido de revisão do projeto inicialmente aprovado, visando a integração destas novas descobertas no discurso e programa museológico das ruínas arqueológicas identificadas há décadas (década de 90) no subsolo do claustro da Sé de Lisboa”, refere a DGPC.
De acordo com a direção-geral liderada por Bernardo Alabaça, “neste contexto, em agosto de 2019, foi aprovado pela DGPC o projeto de alterações do núcleo museológico projetado para o Claustro da Sé de Lisboa, de forma a integrar o conjunto de vestígios arqueológicos relacionados com a suposta mesquita aljama de Lisboa, identificados no decurso das obras de requalificação e valorização daquela área específica do Monumento Classificado”.
O Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia (STARQ) disse hoje ter pedido esclarecimentos à DGPC sobre a possível desmontagem de estruturas de uma antiga mesquita em Lisboa, no âmbito das obras em curso na Sé de Lisboa.
"Não se pode destruir um elemento patrimonial tão importante, do ponto de vista histórico, patrimonial, da cidade de Lisboa; é impossível aceitar uma coisa dessas, principalmente no âmbito de um projeto que o visa valorizar. É uma contradição absoluta e inaceitável", afirmou à agência Lusa a arqueóloga Jacinta Bugalhão, daquele sindicato.
Segundo a arqueóloga, o sindicato recebeu esta semana uma denúncia em como a DGPC tinha dado autorização para a desmontagem de estruturas referentes à antiga mesquita de Lisboa, no contexto do plano de reabilitação do claustro da Sé de Lisboa e musealização do seu espaço arqueológico.
Está também em curso uma petição pública dirigida ao presidente da Assembleia da República, que soma mais de 750 assinaturas, denunciando que a implementação do projeto na Sé de Lisboa implicará que “todos os compartimentos [da mesquita principal de Lisboa identificada na Sé Patriarcal] sejam destruídos com exceção de dois".
Os assinantes da petição querem que seja discutida e avaliada "uma alternativa ao projeto arquitetónico, de modo a preservar todo o complexo", que está debaixo da Sé Patriarcal e que, segundo Jacinta Bugalhão, se estende por três pisos de profundidade ao longo da encosta onde está localizada.
Em 2015, quando foi assinada a adenda, numa sessão pública na Sé, a arqueóloga Alexandra Gaspar explicou que as escavações arqueológicas já realizadas no claustro revelaram vestígios neolíticos, fenícios, romanos, visigodos, islâmicos e medievais, abrangendo 2.700 anos.
A Sé de Lisboa é um dos mais antigos monumentos da arquitetura medieval de Lisboa e a sua construção foi iniciada imediatamente a seguir à conquista da cidade aos muçulmanos, em 1147.
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