“Aqui está como um dia normal, ou até mais. Quais serviços mínimos, quais 50%? Isto aqui está tudo a 100%”, afirmou José Rego, um dos coordenadores do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP).
Pelas 10:00, continuavam a entrar e sair camiões da Refinaria da Petrogal no concelho de Matosinhos, distrito do Porto, e os cerca de 40 trabalhadores do piquete de greve no exterior saudaram o um breve “buzinão” vindo do interior, segundo constatou a Lusa no local.
A essa hora, um dos camiões que se dirigia à refinaria parou junto ao piquete de greve, tendo o motorista saído para cumprimentar os colegas e mostrar um papel onde se lia: “estou em greve e sou obrigado a trabalhar”.
“Em quase 20 anos de descontos, este é o pior dia da minha vida de trabalho. Sinto-me de mãos atadas, não sinto liberdade nem democracia. Estamos só a pedir que o nosso salário base seja aumentado”, explicou aos jornalistas o motorista que se apresentou como Virgílio.
O trabalhador disse estar “em greve” e “a cumprir com os serviços obrigatórios”.
Teve “dúvidas” ao ver o piquete de greve, mas acabou por parar e sair para cumprimentar os colegas.
“Estou solidário. Sinto-me mal em estar a trabalhar. Não há definição clara para o que estou a sentir. Estou em greve, vou cumprir com os serviços obrigatórios, mas isto não é uma greve, é uma manifestação”, lamentou.
O responsável sindical José Rego notou ainda não ter condições para deixar de cumprir os serviços mínimos, como defendeu esta manhã o presidente do SNMMP, Pardal Henriques.
“Não temos condições nenhumas. Como este aparato policial todo, o que vamos fazer?”, questionou.
José Rego referiu a presença de elementos da PSP, “três carros da polícia de choque, tropa e exército”.
“Cheguei aqui e pensei que vinha para a guerra”, lamentou.
O sindicalista observou também que, pelas 09:30, cerca de 100 camiões já tinham passado pela refinaria e que os parques de abastecimento de combustível estavam “cheios”.
“Os camiões vão descarregar e alguns são capazes de vir carregar outra vez. É um dia normal de trabalho, está tudo cheio. Estão a trabalhar a 150%”, afirmou.
“Estão sempre a passar”, lamentou.
O coordenador do sindicato criticou ainda que não esteja a ser usado, nos camiões em serviço, o dístico que devia “ser feito na Casa da Moeda”.
“Puseram um papel qualquer a dizer Serviços Mínimos. Se tiverem 30 ou 100 camiões, põem em todos”, criticou.
Os motoristas cumprem hoje o primeiro dia de uma greve marcada por tempo indeterminado e com o objetivo de reivindicar junto da associação patronal Antram (Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias) o cumprimento do acordo assinado em maio, que prevê uma progressão salarial.
A greve foi convocada pelo Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e pelo Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), tendo-se também associado à paralisação o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte (STRUN).
O Governo decretou serviços mínimos entre 50% e 100% e declarou crise energética, que implica “medidas excecionais” para minimizar os efeitos da paralisação e garantir o abastecimento de serviços essenciais como forças de segurança e emergência médica.
Os motoristas de matérias perigosas anunciaram esta manhã que vão deixar de cumprir os serviços mínimos.
O presidente do SNMMP, Pardal Henriques acusou hoje o Governo e as empresas de não estarem a respeitar o direito à greve, dizendo que há trabalhadores “a ser subornados” e “polícia e Exército a escoltar os camiões”.
(Por: Ana Cristina Gomes da agência Lusa)
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