Em declarações à agência Lusa, o presidente da região sul da Ordem dos Médicos, Valentim Lourenço, disse ter tido conhecimento hoje de que o diretor do serviço de Obstetrícia do Hospital de Setúbal havia colocado o lugar à disposição.
Apesar de não conhecer a carta de demissão, Valentim Lourenço adiantou que os motivos que levaram Pinto de Almeida a deixar o cargo “têm a ver com esta sucessão de eventos que culminaram com os encerramentos da urgência”.
De acordo com o presidente da região sul da Ordem dos Médicos, há uma “incapacidade de gerir uma urgência que tem que encerrar, que não tem pessoal suficiente”.
A agência Lusa tentou contactar o gabinete de comunicação do hospital, mas sem sucesso.
O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) solidarizou-se, entretanto, com “os esforçados médicos de Setúbal, obrigados a fazer entre eles [quando já nem deveriam estar a fazer serviço de urgência] uma média de 120 horas semanais de trabalho extraordinário”.
Numa nota divulgada após ter sido conhecida a demissão do diretor do serviço de Obstetrícia, o SIM refere que “cabe agora ao senhor presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Setúbal conseguir ser recebido pelas instâncias superiores”, do presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, à ministra da Saúde.
A urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, teve de encerrar na quarta-feira, durante 24 horas, devido à falta de médicos desta especialidade, indicou fonte do gabinete de comunicação do Centro Hospitalar de Setúbal na altura.
“O Centro Hospitalar de Setúbal e os hospitais da Península de Setúbal trabalham de forma articulada”, afirmou o gabinete de comunicação, explicando que as grávidas estavam a ser encaminhadas para os outros dois hospitais da região, designadamente o Hospital Garcia de Orta, em Almada, e o Centro Hospitalar Barreiro Montijo.
Na quinta-feira, o Sindicado Independente dos Médicos (SIM) afirmou que a falta de profissionais na urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, é uma situação “crónica”, que “não só se mantém, como se tem agravado”.
“De um quadro de pessoal que deveria estar dimensionado para 23 médicos, apenas existem 11. Desses, oito têm mais de 55 anos, mas continuam solidariamente a fazer urgências”, indicou o SIM, em comunicado, revelando que está previsto que até ao fim deste ano se aposentem cinco médicos.
No mesmo dia, a Ordem dos Médicos manifestou “grande preocupação” com a falta de recursos humanos na urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, alertando que está em risco a segurança de grávidas em situação de emergência.
“O conselho de administração [do Centro Hospitalar de Setúbal] não tem assumido, com clareza, a necessidade de contactar o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] e de informar a população que não tem recursos e tenta mascarar e pôr a cabeça debaixo da areia para uma situação que pode pôr em risco a saúde de uma mãe ou de um bebé na altura do parto”, afirmou o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço.
Em declarações à agência Lusa, o representante dos médicos disse que a urgência de obstetrícia precisa “no mínimo de três especialistas presentes” para poder funcionar aberta ao exterior e com partos, no entanto, “em casos excecionais, a Ordem permite que haja dois especialistas e um interno dos últimos anos”.
“Não há, neste momento, segurança dentro da maternidade de Setúbal caso as equipas de urgência não tenham três pessoas”, reforçou Alexandre Valentim Lourenço
Em 17 de fevereiro de 2020, a Ordem dos Médicos já havia alertado para a possibilidade de encerramento da urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo, devido à saída de cinco médicos daquele serviço no final desse ano.
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