A diretora nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Cristina Batista, demitiu-se. O anúncio foi feito pelo Ministério da Administração Interna, através de comunicado às redações.
A demissão ocorre depois de terem sido instaurados oito processos disciplinares a elementos do SEF, na sequência da morte do ucraniano Ihor Homenyuk no aeroporto de Lisboa, em circunstâncias que, após investigação, já conduziram à acusação de três inspetores, por “tortura evidente”, e à demissão do diretor e do subdiretor de Fronteiras do aeroporto.
A 30 de setembro, o Ministério Público acusou três inspetores do SEF do homicídio qualificado de Ihor Homenyuk.
A 16 de novembro, a diretora nacional do SEF admitiu que a morte do cidadão ucraniano resultou de “uma situação de tortura evidente”.
Quando questionada pela RTP sobre se tinha posto o lugar à disposição do ministro da Administração Interna, que tutela o SEF, ou se tinha pensado demitir-se, Cristina Gatões disse que “não”.
Após a morte de Ihor Homenyuk, o ministro da Administração Interna determinou a instauração de processos disciplinares ao diretor e subdiretor de Fronteiras de Lisboa, ao Coordenador do EECIT do aeroporto e aos três inspetores do SEF, entretanto acusados pelo Ministério Público, bem como a abertura de um inquérito à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI).
Na sequência deste inquérito, a IGAI instaurou oito processos disciplinares a elementos do SEF e implicou 12 inspetores deste serviço de segurança na morte do ucraniano.
No mesmo comunicado, o Governo informa que irá estabelecer "uma separação orgânica muito clara entre as funções policiais e as funções administrativas de autorização e documentação de imigrantes".
Assim, está previsto um trabalho conjunto entre as "Forças e Serviços de Segurança para redefinir o exercício das funções policiais relativas à gestão de fronteiras e ao combate às redes de tráfico humano".
O Ministério da Administração informou ainda que irá reforçar a sua "intervenção estratégica nos domínios do asilo e da gestão das migrações", como está previsto no Programa do Governo, onde se reconhece a importância de “reconfigurar a forma como os serviços públicos lidam com o fenómeno da imigração, adotando uma abordagem mais humanista e menos burocrática”.
Esta redefinição de competências deverá estar concretizada durante o primeiro semestre de 2021, prevendo-se o agendamento de reuniões com as estruturas sindicais representativas dos funcionários do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
O processo de reestruturação do SEF será coordenado pelos diretores nacionais adjuntos José Luís do Rosário Barão, que assumirá a função de diretor em regime de suplência, e Fernando Parreiral da Silva.
Segundo informa, é neste contexto do novo quadro institucional que a Diretora Nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Cristina Isabel Gatões Batista, cessa funções a seu pedido e com efeitos imediatos.
Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Cristina Gatões é inspetora coordenadora superior da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF.
Cristina Gatões assumiu a liderança do SEF a 16 de janeiro de 2019, em substituição de Carlos Moreira, que saiu por motivos pessoais e a sua saída, segundo uma nota do Ministério da Administração Interna (MAI), coincide com um processo de restruturação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
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