“Temos falta de ETAR [estações de tratamento de águas residuais] e continuamos a mandar todos os nossos esgotos para o mar. Eu acho que temos um trabalho bastante acrescido relativamente à defesa do nosso ambiente”, declarou Pedro Neves, em entrevista à agência Lusa, acrescentando que a sustentabilidade da região é “fictícia”.
O candidato do PAN pelos círculos de São Miguel e compensação às próximas eleições regionais de 25 de outubro considerou também a “eutrofização das lagoas” e o excesso de fertilizantes “usados pela pecuária” como outros dos “grandes problemas ambientais” do arquipélago.
“As pessoas pensam que o verde dos Açores é um verde natural e normal, mas não é. É a demasia de fertilizantes usados pela pecuária. É por isso que temos um verde florescente. Fica muito bom nas fotografias, mas na realidade o terreno não gosta muito”, afirmou.
Pedro Neves desvalorizou a certificação da Earthcheck, atribuída em dezembro de 2019 aos Açores, que são a primeira região do país com o selo de destino turístico sustentável), e salientou que o turismo na região “está virado para um turismo de massas”.
“Os Açores são muito bons a meter o lixo debaixo do tapete. O selo que nós temos em termos de sustentabilidade, de turismo sustentável, é um selo dado por uma entidade privada e obviamente tivemos de fazer um determinado pagamento para termos esse selo”, disse.
Para as eleições regionais de 25 de outubro, o PAN apresentou candidaturas em sete círculos eleitorais (São Miguel, Terceira, Faial, Pico, São Jorge, Flores e compensação), ao contrário das regionais de 2016, quando concorreu aos dez círculos eleitorais.
Segundo o porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza na região, a mudança deveu-se à “maior responsabilidade” que o partido tem atualmente, uma vez que não foi possível “arranjar pessoas naturais da ilha para concorrer”.
“Tomámos a decisão de em vez de usar uma pessoa de Leiria ou da Madeira não irmos a votos nessas ilhas”, referiu.
Pedro Neves salientou que o partido, que não elegeu um deputado nas últimas eleições por 104 votos, pretende ter uma “representação parlamentar” na próxima legislatura: “este vai ser o nosso ano”.
O assessor político de profissão defendeu que o PAN é a “oposição forte e robusta que não existe neste momento” na região, uma vez que há uma “conivência entre os partidos” na Assembleia Regional, que tem uma “produtividade quase nula”.
O porta-voz do PAN/Açores criticou o Governo Regional do PS, a “quem se deve” os “piores indicadores de pobreza, de desemprego de longa duração e de rendimentos das famílias” registados na região.
Pedro Neves considerou um “gozo completo” para os açorianos o facto de o Governo Regional investir cerca de 10% do orçamento regional na pecuária, comparando com os 6% atribuídos à “saúde, educação e solidariedade”, referindo que a pecuária representa "apenas" 9% do VAB (valor acrescentado bruto) da economia açoriana.
“[Pela] fatia repartida no orçamento por cada secretaria consegue-se ver que existe ou incompetência ou corrupção e obviamente uma permutação com os 'lobbies' que existem nos Açores. E estamos a falar da pecuária”, afirmou, criticando a “cedência ao 'lobby' da Associação Agrícola”.
Pedro Neves disse não “ser contra os lavradores familiares”, mas sim contra as “empresas de média e grande dimensão” que promoveram um “aumento de 80%” nas cabeças de gado na região no último ano.
O PAN/Açores defende a “soberania alimentar”, através da “diversificação agrícola”, uma vez que a região “importa cerca de 80% daquilo que come”.
O partido quer também a “independência energética” do arquipélago, considerando as metas do Governo Regional quanto ao uso de energias renováveis (60% em 2025) “completamente ridículas”.
O PAN, disse, pretende a criação de uma polícia regional, com “autonomia administrativa”, como forma de “dar mais poder autonómico” aos Açores, para a região “não ser submissa ao Governo central” em matéria de defesa.
“Não é normal vermos um partido como o PAN falar da defesa, mas também não é normal perdermos mais de 200 efetivos da nossa força de segurança, tanto da PSP como da GNR”.
Pedro Neves sublinha que “não há uma democracia nos Açores”, porque “não há negociação com os outros partidos”, nem “há sequer abertura para mudar o tipo de política”.
“Para mim, não há honestidade política por parte do Governo Regional. Em setembro, meteram mais medidas do que meteram em quatro anos. Isto para mim é estar a usar o dinheiro dos contribuintes para fazer uma campanha”, acrescentou.
Nas eleições regionais açorianas existem nove círculos eleitorais, um por cada ilha, mais um círculo regional de compensação que reúne os votos que não foram aproveitados para a eleição de parlamentares nos círculos de ilha.
O PS governa a região há 24 anos, tendo sido antecedido pelo PSD, que liderou o executivo regional entre 1976 e 1996.
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