“Dizer que recusámos ajuda é uma mentira. A ajuda foi sempre planeada”, disse Pedro Ramos, referindo-se à força ativada através da Autoridade Nacional de Proteção Civil e aos dois aviões Canadair da Força Aérea Espanhola, ao abrigo do Mecanismo Europeu de Proteção Civil.

“Tudo foi bem planeado”, assegurou.

Pedro Ramos falava na comissão de inquérito de “Apuramento de responsabilidades políticas no combate aos incêndios ocorridos entre o dia 14 e o dia 26 de agosto”, que decorreu no hemiciclo da Assembleia Legislativa da Madeira, sendo a primeira entidade a ser ouvida.

O governante foi inquirido pelos deputados durante mais de três horas, depois de na parte da manhã ter sido questionado durante quatro horas no debate potestativo requerido pelo Juntos Pelo Povo (JPP) visando o “esclarecimento cabal e urgente da gestão” do incêndio rural de agosto na ilha da Madeira.

A comissão de inquérito, requerida pelo PS, integra deputados dos sete partidos com representação parlamentar – PSD, PS, JPP, Chega, CDS-PP, IL e PAN – e a audição de hoje terminou já sem a presença dos representantes do PAN, IL e CDS-PP e de vários deputados de outras bancadas.

Pedro Ramos prescindiu da intervenção inicial de 15 minutos a que tinha direito, considerando que diria o mesmo que no debate potestativo, e reiterou tudo o que antes afirmara, uma vez que as perguntas foram semelhantes.

A deputada socialista Marta Freitas, que protagonizou a maioria das intervenções, quis saber se a estratégia adotada no combate ao incêndio foi mesmo um “sucesso”, conforme disse na altura o presidente do Governo Regional (PSD), Miguel Albuquerque, tendo em conta que o fogo lavrou durante 13 dias, arderam mais de 5.000 hectares de floresta, foram afetados 200 agricultores e 40 produtores de gado e cerca de 200 pessoas tiveram de ser retiradas de casa.

“A resposta, obviamente, é sim”, disse Pedro Ramos, sublinhado que o “sucesso” resultou de não ter havido mortos, nem feridos, nem casas ou infraestruturas essenciais destruídas.

O incêndio rural deflagrou na ilha em 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Santana. No dia 26, ao fim de 13 dias, a Proteção Civil regional indicou que o fogo estava "totalmente extinto".

Pedro Ramos foi também questionado por vários deputados sobre o facto de ter regressado ao Porto Santo, onde estava de férias, apesar de o incêndio continuar ativo, ao que respondeu dizendo que “os governantes nunca estão de férias” e que se manteve em contacto constante com o Serviço Regional de Proteção Civil.

Já sobre o facto de a região autónoma não integrar o plano nacional de combate aos incêndios rurais, o governante afirmou que “a Madeira não foi tida nem achada” na elaboração desta estratégia.

“Nunca nos perguntaram nada. É falso dizer que a Madeira não quis integrar”, disse, salientando que, neste momento, o que a região espera do país é financiamento de mais meios aéreos de combate a incêndios.

Pedro Ramos explicou, por outro lado, que o facto de no dia 17 de agosto ter dito que os meios na Madeira eram suficientes para combater o incêndio e horas depois ter sido desencadeado o pedido de ajuda externa teve apenas que ver com evolução do fogo e considerou normal a mudança de posição em situações de catástrofe.

“A ajuda não foi recusada, foi sempre planeada”, insistiu.

O secretário regional assegurou também que não houve qualquer indicação do Governo Regional, nem da Proteção Civil para impedir os jornalistas de aceder aos locais onde o fogo lavrava, contradizendo a denúncia feita na altura pela delegação da Madeira do Sindicato dos Jornalistas.

A Comissão de Inquérito de “Apuramento de responsabilidades políticas no combate aos incêndios ocorridos entre o dia 14 e o dia 26 de agosto” agendou para quinta-feira a audição ao presidente do Governo Regional, mas Miguel Albuquerque disse que irá responder às perguntas por escrito.