“O ano está melhor a nível de pastagens, não tem nada a ver com o ano passado. Está muito melhor, graças à natureza, não foi ao Ministério da Agricultura”, afirma à agência Lusa o produtor de ovinos Manuel Martinho, de Alcácer do Sal (Setúbal).
Este agricultor, de 55 anos, que possui 800 ovelhas – “mas se tivesse espaço tinha 8.000”, tão grande é o seu gosto pelos animais -, diz que “a chuva que tem caído tem ajudado e muito”.
“Os meses piores estão por vir [os do verão] e, por isso, não há um alívio completo, mas já temos muita pastagem e muito para dar de comer aos animais”, argumenta, insistindo nas críticas aos governantes: “O ano não está melhor devido aos apoios do ministério, está melhor devido à ajuda do tempo, tem chovido mais”.
Entre agricultores e produtores pecuários que participam na feira Ovibeja, que arrancou na terça-feira e termina hoje, no parque de feiras e exposições de Beja, as perspetivas para este ano agrícola são animadoras, face a tempos mais recentes.
Mas todos os elogios vão para a ‘mãe natureza’, que foi mais ‘amiga’ nos últimos meses, após ‘anos madrastos’, marcados pelo aumento dos fatores de produção, nomeadamente devido à guerra na Ucrânia, e pela seca, que prejudicou colheitas e levou produtores até a desfazerem-se de parte do efetivo pecuário.
“Passámos dois ou três anos muito difíceis” no sul do país “e estamos finalmente a ter uma primavera extraordinária”, afiança à Lusa Pedro Vaz, secretário-geral da Associação Aberdeen Angus Portugal, que reúne os criadores nacionais desta raça de bovinos, que está muito presente no Alentejo.
Tem existido “uma diminuição significativa de bovinos em Portugal, ao longo dos últimos anos”, segundo Pedro Vaz. Tal não foi tão notório nesta raça, que está “em crescimento”, mas, em 2023, “o crescimento foi menor do que em anos anteriores”, admite.
Uma situação decorrente da seca, da falta de comida para os animais e dos elevados preços da mesma, enumera Pedro Vaz, desejando que este “continue a ser um ano agrícola bom, que permita encarar tudo isto com maior otimismo e segurança”.
E que contribua “para evitar essa ‘sangria’, essa diminuição de efetivos”, que é também decorrente “da falta de apoios, da burocracia, de uma série de fatores que tem levado ao desânimo e ao abandono da atividade”, frisa. Essas “dificuldades mantêm-se, mas felizmente o São Pedro deu aqui alguma ajuda”.
“Agora, vemos aí, por esses campos fora, o pessoal a trabalhar nas ervas e com uma maior disponibilidade de alimento”, sendo possível “encarar o verão e o início do próximo inverno com maior otimismo”, reitera.
Apesar de este ser um ‘hobby’, Tiago Graça, de 37 anos, é produtor de ovinos no concelho de Beja e possui “à volta de 70” animais, a maioria da raça Suffolk e os restantes “de duas raças exóticas”, cujos reprodutores vende a outros criadores.
Assume-se “animado” com o atual ano agrícola, que arrisca qualificar como “um dos melhores de sempre no que concerne a forragens”, e compara com o que se passava em 2023, nesta altura.
“Estava tudo seco, estávamos a dar comida à mão, tínhamos fenos na ordem dos 35 cêntimos o quilo, o que é muito. Hoje, conseguimos achar bons fenos dentro dos 12 cêntimos, é uma mudança brutal”, sustenta.
As dificuldades enfrentadas pelos agricultores explicam-se, não só com a seca, mas também com “ajudas [do Governo] programadas que não foram cumpridas”, critica.
“Os fatores de produção aumentaram todos, nos últimos anos, e alguns agora baixaram derivado do que a natureza nos deu”, destaca. E, este ano, com a chuva e os campos do Alentejo verdes e floridos, “até se sente aqui uma lufada de ar fresco”.
A agricultura da região ainda “precisa de mais um ou dois anos como este”. Talvez assim, “consigamos repor ‘stocks’ de alimentação para o gado e viver um bocadinho mais desafogados”, diz Tiago, esperançado em novas ajudas do São Pedro.
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