Ouça aqui o segundo episódio da série "O que se ouve quando o país pára":
Fomos ao Montijo (distrito de Setúbal) no dia 1 de julho. Seria o último dia das tradicionais Festas Populares de S. Pedro, não fora as festividades locais terem sido canceladas por causa da pandemia — aliás, como aconteceu por todo o país.
Diz-nos quem é de lá que em qualquer outro ano haveria música e fogareiros espalhados pela cidade, feira com carrosséis e farturas, becos enfeitados e uma rua coberta de terra onde a multidão se juntaria para as largadas de touros.
Desta vez, encontrámos uma terra silenciosa, de praças vazias e muitas portas fechadas.
Enquanto caminhávamos no centro, praticamente deserto, o barulho de uma grande agitação por detrás de uma janela entreaberta despertou-nos a curiosidade.
Metemos a cabeça. Fomos recebidos pelo esganiçado ladrar de um cão sem tamanho para tanto alarido. Atrás dele, uma voz perguntou quem éramos e convidou-nos a entrar.
Prontamente aceitámos o convite, até porque a casa já nos tinha chamado a atenção ao longe. A porta, muito estreita e desengonçada, fazia parte de uma fachada colorida.
Ficámos a saber depois que estávamos a ser recebidos por Joaquim da Maia - figura conhecida da terra - e que tínhamos acabado de entrar na tertúlia “O Aldeano”, um dos vários grupos típicos do Montijo criados por amigos e famílias para viver as festas em conjunto.
A primeira coisa que vimos assim que os olhos se habituaram à escuridão do corredor levar-nos-ia a ficar com aquele grupo até depois das 21h. Essa era a hora a que iam fazer mais uma largada.
Como assim largada se as festas tinham sido canceladas, os ajuntamentos estavam proibidos e a esquadra da polícia era logo ali cinco números ao lado?
Sem festas populares mas com o espírito tauromáquico entranhado, os mais novos tinham transformado duas bicicletas em touros improvisados — à conta de dois pares de cornos e muita fita-cola — e todos os dias ao final da tarde faziam na calçada as alegrias dos poucos que se podiam juntar.
A euforia do ambiente dentro e fora daquela tertúlia, essa só dá para perceber ouvindo o episódio desta semana. Clique no player no início do artigo.
Para a semana, viajamos até ao norte do país, onde haverá gargalhadas de crianças e uma mini aventura com toupeiras.
“O que se ouve quando o país pára” é uma coleção de histórias e de sons que nos mostram como a vida das pessoas e dos lugares foi afetada quando Portugal parou por causa da covid-19.
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