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Ao contrário da aventura da coruja contada pela Carolina no episódio de hoje, a história que narramos a seguir não tem um final feliz. Mas o desfecho ajuda a lembrar que cada gesto conta.
Eram cerca de 18h15 de 5 de agosto quando a brigada da GNR chegou ao Centro de Recuperação de Animais Selvagens de Santo André (CRASSA) com um caixote de cartão que trazia dentro uma gaivota viva. Tinha sido encontrada a arrastar uma asa na praia da Ilha do Pessegueiro, perto de Porto Covo.
No CRASSA, à espera do animal, estavam Carolina Nunes, bióloga responsável no Centro, e Sofia, voluntária a residir nas instalações naquele momento.
Levaram a gaivota para a enfermaria, retiraram-na lentamente do caixote, deitaram-na na mesa de observação e começaram os procedimentos: verificar a mobilidade das articulações, o estado das penas, a sujidade, a presença ou não de parasitas, hematomas, feridas.
Este é o quinto episódio da série "O que se ouve quando o país pára". Clique aqui para ouvir:
Até aqui tudo dentro do habitual.
Carolina ia manuseando delicadamente a gaivota, enquanto Sofia ajudava a conter os movimentos do animal, que não oferecia muita resistência.
Confirmava-se: era a asa que parecia precisar de mais atenção. Estava fria, inchada e aparentemente sem circulação. Mas não estava partida.
Carolina e Sofia aconchegaram a gaivota numa toalha, com um saco quente junto à asa, e foram preparar as vitaminas.
Numa questão de segundos, quando voltaram a abrir a toalha, já a gaivota não se mexia.
“Às vezes quando os animais chegam, já vêm num estado de fraqueza extrema”, explicou Carolina, pondo a hipótese de a gaivota ter sido vítima de eletrocussão. “E depois com o stress da manipulação dão o suspiro final. Isto acontece mais com aves stressáveis, como os açores, os gaviões, as garças”. “Com uma gaivota nunca me tinha acontecido”, disse, desanimada.
Mais tarde, Carolina explicou que o que tinha acabado de acontecer “não é comum” e lembrou que “a maior parte dos animais beneficia de ir para o centro de recuperação” e que um resgate atempado muitas vezes faz a diferença.
Ao CRASSA chega todo o tipo de animais selvagens, incluindo animais com níveis de ameaça mais elevados, como o mocho d’orelhas.
"Mas não deixam de ser importantes todos os outros, porque só o facto de cá chegarem implica que há alguma ameaça. Devemos sempre recuperar cada indivíduo que nos chega porque não sabemos daqui a uns anos quais serão as espécies ameaçadas”, afirma a responsável, sublinhando o papel de cada animal no equilíbrio do ecossistema.
O CRASSA está inserido na Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, na costa alentejana (Sines e Santiago do Cacém), é um dos três centros geridos pela Quercus e faz parte da Rede Nacional de Centros de Recuperação para a Fauna, coordenada pela Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
Qualquer pessoa pode participar nas atividades dos Centros de Recuperação, através de voluntariado, do apadrinhamento de animais e da participação na libertação dos animais, ou da entrega de donativos.
“O que se ouve quando o país pára” é uma coleção de histórias e de sons que nos mostram como a vida das pessoas e dos lugares foi afetada quando Portugal parou por causa da covid-19.
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