Seria a viagem de uma vida. Para o comandante Maurício Camilo, capitão de fragata, que estaria à frente desta histórica circum-navegação. Para o médico da missão, Diogo Alpuim Costa, que deixou em terra a mulher com quem tinha casado dois meses antes. Para o navio, que faria a viagem mais longa dos seus 83 anos de existência. Para os 142 elementos a bordo, uma guarnição com média de idades de 24-25 anos.

Mais de dois meses depois da pomposa partida e quando ainda faltavam quase dez meses para o fim da missão, foi anunciada a inevitável notícia, a 24 de março: o Navio-Escola Sagres teria de regressar a Portugal. Com a covid-19 a fechar o mundo, o significado desta embaixada itinerante “esvaziava-se completamente”. Uma viagem “de contacto” sem poder tocar em ninguém.

Era o fim desta comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães. Como diz Diogo Alpuim Costa, médico naval com especialidade em oncologia médica, numa das crónicas que escreveu ao longo da viagem: “Outrora era o escorbuto ou o beribéri, agora é a covid-19. Mudam-se os tempos, mantêm-se as enfermidades”.

Naquele momento, frustraram-se mais de dois anos de preparação, objetivos de vida pessoais para alguns, projetos de investigação (este é também um navio científico e durante a viagem iria servir como plataforma para vários estudos, incluindo ambientais), dezenas de eventos culturais nos 16 portos ainda por visitar, a possibilidade de ser a Casa de Portugal nos Jogos Olímpicos de Tóquio (entretanto também cancelados).

Ainda assim, “a viagem não deixa de ser única”, assegurou ao SAPO24 o comandante, de 51 anos (há 32 na Marinha), enquanto o navio passava ao largo das Canárias (pode acompanhar aqui a localização do navio quase em tempo real).

Falámos na segunda-feira, 4 de maio, numa chamada telefónica com muitos cortes e interferências, com a ameaça de que poderia cair a qualquer momento. A conversa foi feita a dois tempos: primeiro com o comandante, sobre como se gerem as operações e as emoções quando se cancela uma viagem destas; depois com o médico, para perceber como se prepara um navio em pleno alto-mar para uma pandemia com que ninguém contava.

Ficámos a saber que este regresso pode não ser um ponto final na missão. Mas o futuro agora escreve-se com reticências.

No momento em que falámos, a previsão de chegada a Lisboa era o dia 12 de maio (à hora de publicação deste artigo passou a ser o dia 10 de maio, já este domingo). Desde que a pandemia se instalou no mundo, esta viagem de linear tem tido pouco.

Mal sabiam, quando saíram de Buenos Aires, a 3 de março, rumo à Cidade do Cabo, que não voltariam a pôr o pé em terra por mais de dois meses, que corriam o risco de não poder atracar em lado nenhum porque todos os países começaram a fechar os portos, que o isolamento em alto mar os tornaria um dos locais mais seguros no mundo no que toca à proteção contra o contágio do novo coronavírus — até agora ninguém no navio manifestou sintomas.

A África do Sul recebeu-os numa condição: não podiam desembarcar, só reabastecer. Chegaram ao porto da Cidade do Cabo na manhã de 25 de março, ao final da tarde já estavam de partida.

O objetivo era fazer a tirada de seguida até Lisboa. Seria um recorde para a Sagres: a viagem mais longa entre dois portos em número de dias. Um imprevisto acabou por forçar uma paragem a meio do caminho.

Tiveram de parar de emergência no Mindelo, Cabo Verde, no final de abril. O que aconteceu?

Comandante Maurício Camilo: Teve que ver com um problema técnico. Uma avaria na produção de energia. Temos três geradores para produção de energia. E estávamos com algumas limitações num deles, e depois num segundo. Tivemos de parar para reparação, para repôr o mínimo das condições para continuar. O navio navega muitas vezes só à vela, mas sem energia elétrica há coisas aqui que não funcionam.

O que é que não funciona no navio sem energia?

Não funciona nada. Não há cozinha, não há comunicações… É imaginar que está em casa e que não tem luz.

Com a questão da pandemia, tiveram de ter cuidados redobrados quando atracaram. Como foi feita essa gestão?

Foi muito simples: não saímos do navio. Ninguém tem autorização para sair de qualquer navio que atraque nos portos de Cabo Verde — aliás, como já tinha acontecido na África do Sul. Portanto, ficámos sempre a bordo.

"Estamos sem sair do navio desde o dia 3 de março, quando saímos de Buenos Aires"Comandante

Conseguiam resolver o problema técnico sem sair?

Quem resolve o problema técnico é o nosso pessoal. Precisávamos era de estar parados. Mas aproveitámos para reabastecer o navio de comida e de combustível. Isso foi feito com o mínimo contacto entre as pessoas de fora e o navio.

Como?

O combustível é através dos encanamentos. Foi ligado um tubo no cais, que pôs o combustível para o navio. A alimentação, as pessoas trouxeram a comida até junto do navio. O nosso pessoal, com equipamento de proteção foi buscar a comida, os congelados, etc. ao cais e colocou-os a bordo. Depois o material foi desinfetado antes de ser arrumado.

Reabastecimento de géneros alimentares no Navio-Escola Sagres, no Mindelo (Cabo Verde), durante uma paragem técnica, no regresso a Portugal devido à pandemia (26 de abril de 2020). créditos: Marinha Portuguesa

Em que dia saíram de Cabo Verde?

No dia 30 de abril. Mas estamos sem sair do navio desde o dia 3 de março, quando saímos de Buenos Aires [a Argentina foi a última paragem com cerimónias oficiais antes da decisão de cancelar a viagem - neste caso, um concerto de Teresa Salgueiro com a Banda da Armada argentina].

Uma tirada é considerada a viagem entre dois portos ou o tempo que se está sem sair do navio?

É uma excelente pergunta (ri-se). Teoricamente é entre dois portos. Mesmo sem ter saído do navio.

"A missão passou a ser regressar a Lisboa. Não há grande drama. A viagem não deixa de ser única"Comandante

Qual foi a tirada mais longa que já fizeram nesta viagem? 

Foi precisamente de Cape Town [Cidade do Cabo] para o Mindelo.

Quanto tempo durou?

Foram 28 dias. Bate o recorde da maior distância, não da maior tirada em tempo. Já houve uma maior há uns anos [o recorde é de 31 dias].

Que distância percorreram nesta tirada? 

Percorremos 4534 milhas. Dá cerca de 9000 quilómetros.

Navio-Escola Sagres em alto-mar na tirada entre a Cidade do Cabo (África do Sul) e o Mindelo (Cabo Verde), 22 de abril. créditos: Marinha Portuguesa

Isto era uma viagem única, que afinal não se vai realizar, pelo menos como estava planeada. Qual é a sensação quando se sabe que uma viagem destas vai ser cancelada? 

A sensação inicial é de pena. Tínhamos muitas expectativas, tínhamos investido muito em preparar a viagem, em termos de navio e em termos pessoais. Não continuar foi uma situação complicada. Mas não havia condições para continuar. Portanto é o que é. A missão passou a ser regressar a Lisboa. Não há grande drama. A viagem não deixa de ser única. [primeiros cortes na ligação]

Porquê?

Não é muito comum começar uma viagem com um objetivo e ter de regressar devido a uma pandemia.

Para si, qual é o impacto profissional e pessoal de ser cancelada esta viagem?

Em termos profissionais, digamos que é a mesma coisa. O objetivo é sempre o mesmo: cumprir a missão que me é dada. Seja a volta ao mundo ou agora, chegar a Lisboa. Cumprir aquilo que foi determinado, com o pessoal em segurança, com o navio em segurança.  [cortes na ligação continuam] Em termos do aliciante da viagem em si, obviamente que é diferente. Mas, neste momento, a preocupação é o regresso.

A nível pessoal, há frustração?

Não. Neste momento não tenho frustração nenhuma. Diria que, daqui a umas semanas, depois de regressar a Lisboa e olhando para trás, com mais calma, poderá haver aqui algum balanço mais profundo. Mas neste momento não é isso que me preocupa. A missão neste momento é o regresso em segurança a Lisboa. Não há tempo para mais nada.

"Foi uma decisão relativamente simples de tomar. A alternativa era... nenhuma."Comandante

A decisão de cancelar a viagem foi tomada a nível ministerial. Como foi receber essa decisão?

Já estava um pouco à espera de que isso acontecesse. Houve ali dois ou três dias em que se começou a adivinhar que isso seria a situação mais provável. Foi só a questão de saber qual é que era o momento em que a missão era alterada. Não foi algo que tenha caído de repente: não foi receber um telefonema e de repente vou para Lisboa.

Concordou com a decisão ou vê que haveria outra possibilidade?

Acho que era absolutamente inevitável que o navio tivesse de regressar, dadas as circunstâncias em que estávamos e em que continuamos ainda. Como aliás se vê: o navio já atracou em dois sítios e nem sequer pudemos sair do bordo. Provavelmente haveria sítios onde nem nos deixariam atracar sequer. A missão deixava de fazer sentido, esvaziava-se completamente. Isto é uma missão de contacto com as pessoas. Estar a ir a portos em que nem sequer podemos sair, nem ninguém pode entrar, não faria qualquer sentido. Acho que foi uma decisão relativamente simples de tomar. A alternativa era... nenhuma.

Tomada essa decisão, foi preciso repensar o itinerário. Só para a preparação desta viagem, desenhou cerca de 80 hipóteses de rotas. Agora, foi preciso redefinir tudo em pouco tempo. 

Isso é relativamente simples. Sabíamos que tínhamos de continuar até Cape Town para reabastecer o navio. Depois era fazer o regresso o mais linear possível, parando no mínimo de portos possível para minimizar os riscos de contágio. Tivemos aquela questão técnica que nos obrigou a parar no Mindelo. Se isso não tivesse acontecido, tínhamos feito diretamente até Lisboa. Em termos de navegação não é nada complicado fazer esse planeamento. [muitos cortes na ligação: “Estou? Estou?”]

Quando comunicou a decisão de cancelamento da viagem ao resto da guarnição, houve pessoas que não concordaram?

Não. Isto não tem nada que concordar ou deixar de concordar. Toda a gente percebeu qual era o contexto e as circunstâncias em que a decisão foi tomada. Houve muitas pessoas que ficaram tristes, isso sim. Uns ficaram mais tristes do que outros. Talvez quem tivesse mais expectativa, mais vontade ainda de fazer a viagem. Agora não concordar... Nem sequer faz sentido essa ideia, até porque os dados eram claros.

Como é que se gerem essas emoções?

[“Está? Não estou a ouvir…!”, "E agora?”, “Sim..."] A questão das emoções é muito simples: tenho de ser o mais claro e o mais objetivo possível e explicar às pessoas o porquê das decisões para elas perceberem o que se está a passar. A partir daí, embora as pessoas fiquem um bocadinho tristes, como eu fiquei também, percebendo a lógica da decisão, é seguir em frente.

Há pessoas no navio com familiares com covid-19?

Tivemos uma pessoa que tinha um familiar em Itália. Tirando isso, de que tenhamos conhecimento, não. [responde depois de perguntar ao médico do navio, que está ao seu lado e com quem falámos a seguir]

"Há uma hipótese de recomeçar a viagem para fazer a parte final"Comandante

Em termos práticos, o que vão fazer quando chegarem?

[“Não ouço... nada...", “Estou…?", silêncio longo] Vamos atracar na base naval e depois cada um de nós há de ir para sua casa. Com os cuidados e as circunstâncias que nós desconhecemos completamente neste momento. Depois logo se vê (ri-se). Ainda falta uma semana para chegarmos. Ainda não sei o que vai acontecer. Mas de certeza que não há de ser igual à situação que tínhamos quando saímos no dia 5 de janeiro.

O que acha que o espera à chegada?

[“Está…?  Não... ouço... nada". "Eu estou a ouvir”] Não faço a mínima ideia. Palavra de honra. Não faço ideia do que vai ser a chegada nem aquilo que nos espera. Mas vai ser uma situação obviamente estranha. Temos acompanhado pelas famílias, mas não é a mesma coisa do que viver a situação. Não temos bem a noção de como é que se vive [muito ruído], como é que as pessoas se deslocam, etc.

E depois? A ideia é retomar a viagem?

Está completamente no campo das hipóteses, mas há uma hipótese de recomeçar a viagem para fazer a parte final. Está a ser equacionado, mas depende. Neste momento é impossível dizer se vai acontecer ou não. Ninguém sabe. [“Está…? Agora não se ouve nada… Alô? Está a ouvir?”]

De que é que depende essa decisão?

De um conjunto de variáveis, em que a principal é a questão da pandemia. Não faz sentido o navio voltar a largar com uma situação semelhante à que temos agora.

Se a viagem for retomada, gostaria de fazer parte dela como comandante? Está disponível?

Naturalmente, naturalmente (ri-se). Claro que estou disponível. Como não podia deixar de ser. ["Está...? A chamada está péssima agora...", "Estou...?", “Sim…?” ]



A chamada entretanto melhorou um pouco e conversámos com Diogo Alpuim Costa, médico do navio

Como é que souberam da covid-19 e como é que se informaram acerca do novo coronavírus a bordo?

Só percebi ‘covid'... [retomaram os cortes] O coronavírus é um vírus já antigo, e portanto eu próprio já tinha algum conhecimento em relação a ele. Nós já vínhamos a acompanhar esta situação, que no início estava contida na China. Íamos sabendo um pouco mais pela internet da evolução do vírus e da pandemia. Quando se começou a tornar uma situação real na Europa, na América e, em particular, na América do Sul, de onde tínhamos saído, imediatamente eu e o enfermeiro fomos acompanhando a situação.

Que medidas tomaram?

Acionámos um plano interno, aqui dentro do navio, em relação à covid-19. Fizemos uma palestra informativa a bordo sobre o que é o novo coronavírus e a história da covid-19. Fizemos uma circular interna, também informativa, sobre esta situação. Inclusive, um pequeno cartão de bolso em que os militares sabiam como deveriam proceder, se tivessem sintomas relacionados com esta infeção.

"Se calhar a nível nacional até podemos dizer que somos o território com o índice ventilador/habitante mais elevado"Médico do navio

Que nível de preparação tinha o navio para um imprevisto destes?

Ninguém antevia que isto viesse a acontecer. Agora, como era uma missão muito longa, com uma duração superior a um ano, tivemos de nos preparar para vários contextos.

Por exemplo?

Nós já tínhamos à partida um ventilador, para alguma situação que se desenvolvesse e que fosse grave. Portanto, desse ponto de vista, se calhar a nível nacional até podemos dizer que somos o território com o índice ventilador/habitante mais elevado. É um luxo: temos um ventilador para 142 pessoas. Depois até tínhamos os meios próprios para diminuir o risco de contágio, porque íamos estar em sítios com um risco médico-sanitário elevado. Até estávamos bem preparados.

De que forma?

No porto da Cidade do Cabo e depois no Mindelo tivemos de reduzir ao máximo o risco de contágio de qualquer elemento da guarnição. Nós tínhamos esses meios: fatos, luvas, máscaras. A guarnição foi informada sobre o que deveria fazer, e nós próprios estávamos a controlar este contacto com o meio exterior.

Foi preciso fazer adaptações no navio para lidar com a pandemia?

Criámos um plano interno. Tínhamos uma sala que não estava a ser usada, com uma capacidade para mais de dez camas, caso houvesse algum caso suspeito. Essa sala tem ventilação própria, casa de banho própria, telefone. Conseguiríamos montar ali uma sala de isolamento.

Se tivéssemos algum caso altamente suspeito, seria para ir o mais rapidamente para um porto para essa pessoa poder ser abordada num hospital. Se víssemos que a situação se estava a agravar rapidamente e que não havia possibilidade de chegarmos a terra a tempo, teria de ser uma evacuação mesmo através de helicóptero. Mas isso só numa situação mais drástica.

Não nos podemos esquecer de que aqui não é só uma questão de se a situação médica é mais ou menos grave, é o risco de contágio para os outros elementos da guarnição. Estamos numa plataforma de 90 metros, com espaços fechados... O risco de contágio é grande.

Que tipo de articulação houve entre as equipas das Forças Armadas em terra e o navio? 

Diariamente temos aqui uma circular da Marinha a informar a guarnição sobre o coronavírus, os números, inclusive os números dentro das Forças Armadas - casos suspeitos, infeções confirmadas. A Marinha foi muito proativa. E nós próprios também temos essa informação diária interna em relação à pandemia e ao que está a acontecer em território nacional.

"Foi feita aqui pequena cirurgia, estabilização de fraturas"Médico do navio

Apesar de não ter havido nenhum caso de covid-19 a bordo, já houve complicações médicas de outra natureza ao longo da viagem. 

Sim. Nestes quatro meses demos quase 400 consultas. Dá para ver bem o tipo de atividade que temos aqui a bordo. Não podemos esquecer que, atendendo à tipologia deste navio — temos pessoas que sobem aos mastros, que estão a puxar cabos — há sempre o risco de haver pequenos traumatismos, de patologia osteoarticular. E às vezes situações mais complicadas. Mas felizmente foi possível resolvê-las a bordo. Quando foi necessário fazer algum tipo de exame complementar, como um raio-x, quando chegámos a terra fizemos.

Elementos da guarnição do Navio-Escola Sagres em fainas gerais de mastros. créditos: Marinha Portuguesa

O que é que já foi preciso tratar a bordo?

Foi feita aqui pequena cirurgia, estabilização de fraturas. Tudo o resto foi mais situações do foro da clínica geral, dos cuidados de saúde primários: amigdalite, otite, gastroentrite. Todas as "ites". Apendicite não! Felizmente. (ri-se) E depois são outras situações... Nós estivemos em ambientes mais quentes, outros mais frios. Há pessoas que podem ter infeções respiratórias, gastroentrite, a chamada diarreia do viajante. Na tirada de Buenos Aires para a África do Sul tivemos muitos elementos da guarnição com uma gastroentrite. Foi uma situação não complicada, mas que afetou muitos elementos.

A equipa médica do navio é composta por quantas pessoas?

Um médico, um enfermeiros e cinco socorristas — dois são cozinheiros e três padeiros. Têm essa função suplementar. Não esquecendo que a maioria das pessoas aqui a bordo tem formação em socorrismo e curso de suporte básico de vida. Mas profissionais de saúde, dois. [cortes na ligação]

O que é que representa, em termos pessoais, este regresso antes do tempo? 

Estou no grupo das pessoas que ficaram tristes com o regresso. Havia expectativas criadas. Muitos de nós abdicámos de muita coisa para poder estar aqui numa missão com esta tipologia. Mas depois há que encarar os números e os factos. O regresso à base era o mais sensato.

"Eu vim para este navio para esta missão. Se a missão retomar, claro que sou voluntário"Médico do navio

Como se gere a nível pessoal?

É frustrante, não digo que não, mas fazer uma circum-navegação com uma pandemia era um contrassenso. Só se fosse uma circum-navegação solitária (ri-se), mas como não estamos numa viagem solitária não dá. Não adiantava estarmos a manter uma missão pelo mundo que é a divulgação da nossa imagem e que é o contacto com as entidades e com os portugueses e lusodescentes além-fronteiras. Não íamos ter esse tipo de contacto. Uma missão assim não dava.

Se a viagem retomar, a ideia é voltar a fazer parte dela?

Claro! Se o Comandante assim quiser, sou logo voluntário. O médico e mais algumas pessoas aqui de bordo estão em diligência, ou seja, não pertencem ao navio numa comissão de dois ou três anos. Eu vim para este navio para esta missão. Se a missão retomar, claro que sou voluntário. Se as pessoas quiserem que eu continue, é bom sinal.

À hora a que este artigo foi publicado a previsão de chegada do navio a Lisboa é o dia 10 de maio, segundo o site da Marinha que indica a localização da embarcação em tempo real. Numa viagem prevista para 371 dias, chegarão 126 dias depois de terem partido. Se na despedida, a 5 de janeiro, tinham com eles centenas de pessoas a acenar, quando chegarem encontrarão uma grande parte do país fechada em casa.