“Não acredito que a gente consiga aguentar até ao mês de dezembro nestas condições. Vai ter de haver um corte drástico na estrutura, se a gente quiser manter a empresa aberta”, afirmou, em declarações à Lusa, Jorge Dias, empresário ligado ao comércio a retalho e à distribuição, com estabelecimento aberto no concelho das Lajes das Flores.
O furacão, que atravessou o arquipélago na madrugada do dia 2 de outubro, destruiu o porto comercial da ilha, impedindo a operação regular dos navios porta-contentores que abasteciam as Flores, serviço que está a ser assegurado, desde então e de forma provisória, por embarcações da empresa de Transportes Marítimos Graciosenses (TMG), que conseguem atracar num cais interior, mais pequeno.
“O problema é que os navios dos TMG só conseguem transportar dez contentores em cada viagem, e a ilha das Flores recebia, quinzenalmente, cerca de 60 contentores antes do furacão” recordou o empresário, para concluir que a atual operação de transporte de mercadorias para as Flores, “não dá para as encomendas”.
Preocupado com o futuro do seu negócio está também Arlindo Lourenço, um dos principais empresários das Flores, que só no concelho de Santa Cruz tem quatro estabelecimentos, incluindo um centro comercial.
“Nos máximos dos máximos, se até ao fim de novembro não estabilizarem a minha empresa, dificilmente vou pode continuar a trabalhar”, alertou o empresário florentino, recordando que o seu negócio tem 33 funcionários, o que representa um custo mensal “exorbitante”, que não conseguirá continuar a suportar num cenário de crise como o atual.
Arlindo Lourenço fala mesmo na existência de uma situação “caótica” para o comércio local, sobretudo agora que se aproxima a época natalícia, devido à chegada tardia de muita mercadoria, alguma da qual é desembarcada já estragada ou fora do prazo de validade de consumo, como é o caso de produtos frescos e perecíveis.
“A situação é caótica. Estão dezenas e dezenas de contentores retidos no porto da Praia da Vitória [na ilha Terceira], alguns já com um mês de retenção no cais, e não encontramos forma de os colocar na ilha das Flores”, lamentou o empresário local, esclarecendo que, por enquanto, não existem ainda ruturas de bens essenciais.
Os empresários das Flores exigem que o Governo Regional encontre uma solução para o problema, nomeadamente através do fretamento ou aquisição de um navio porta-contentores mais pequeno do que aqueles que operavam antes da destruição do porto comercial, mas maior do que as embarcações que atualmente operam na ilha.
A falta de resposta em termos de transportes de mercadorias contentorizadas para as Flores está a afetar também outros setores de atividade, como é o caso da construção-civil (importação de matéria-prima) e da lavoura (exportação de gado-vivo), que têm estado limitados na movimentação de carga, uma vez que a prioridade tem sido o transporte de bens de primeira necessidade.
Durante a passagem do “Lorenzo” pelos Açores, em outubro, foram registadas 255 ocorrências e 53 pessoas tiveram de ser realojadas.
O furacão causou a destruição total do porto das Lajes das Flores.
No total, o mau tempo provocou prejuízos de cerca de 330 milhões de euros, segundo o Governo Regional dos Açores, presidido pelo socialista Vasco Cordeiro.
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