Pouco antes de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, discursar na cerimónia de homenagem à Crise Académica de 1969 e a Alberto Martins, presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC) naquele ano, alguns estudantes envergaram uma tarja com as cores da bandeira da Palestina, onde se lia: “Pedimos a palavra porque o silêncio é ensurdecedor”.

“Queremos falar, queremos falar”, pediam os estudantes, imitando o gesto protagonizado por Alberto Martins durante o Estado Novo, a 17 de abril de 1969, e que marcou o início da Crise Académica.

Depois de os pedidos serem ignorados pela dirigente da AAC que fazia as notas introdutórias de cada um dos oradores, Marcelo Rebelo de Sousa deu nota do protesto, constatando de que haveria quem quisesse falar.

“Aproximem-se os que querem falar. Venham, venham”, pediu o Presidente da República.

A estudante de biologia da Universidade de Coimbra Joana Coelho avançou, tomou a palavra e chamou a atenção para “um assunto que toda a gente está a ignorar”, realçando que já morreram “mais de 30 mil pessoas” na Faixa de Gaza, desde outubro de 2023.

“Temos de falar sobre isto. Está a acontecer um genocídio. Os nossos colegas têm as universidades bombardeadas. Nós temos de falar sobre isso”, vincou.

Joana Coelho defendeu, numa intervenção curta, “o reconhecimento do Estado da Palestina independente” e um cessar-fogo “imediato e permanente”.

No início do seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa recordou que Portugal sempre defendeu o direito da Palestina “a um Estado independente”.

Em declarações à agência Lusa, Joana Coelho, do movimento “Coimbra pela Palestina”, explicou que os estudantes recolheram no passado assinaturas para convocar uma assembleia magna para discutir o assunto, mas que a mesma reunião de estudantes foi marcada para um período não letivo e acabou interrompida por “falta de quórum”.

A estudante acusa a atual direção-geral da AAC de tentar demover o assunto e silenciar essa mesma luta.

Questionado pela Lusa, o presidente da AAC, Renato Daniel, disse que a posição da atual direção-geral “é muito clara, da existência de paz e da existência de soberania de todos os estados”.

“Já apresentámos a nossa moção e agora está em período de auscultação com estes colegas para a submissão de propostas de alteração que esperemos que tenha espaço numa futura magna”, disse.

O presidente recusou ainda qualquer tentativa de silenciamento da causa, referindo que os estudantes têm de respeitar a ordem de trabalhos das magnas e que, numa situação, isso não aconteceu.

Na assembleia magna de março, a presidente daquele órgão ameaçou com a chamada de segurança quando Joana Coelho fez uma intervenção sobre a Palestina, segundo vídeo da TvAAC.

“É assim que a mesa decidiu, é assim que vai ser”, disse a responsável da magna, que mais tarde viria a adiar a discussão de uma moção sobre a Palestina por não haver quórum.

Na ata da assembleia magna de janeiro, é referido que Renato Daniel se recusa a fazer uma distinção de vidas humanas, defendendo uma posição genérica que manifeste o pesar “pelos milhares de vidas perdidas na Palestina e Israel”.

O ataque do Hamas em outubro provocou a morte de 1.139 israelitas (dos quais 695 civis), já a contraofensiva de Israel na Faixa de Gaza já matou mais de 30 mil palestinianos, dos quais pelo menos 12 mil crianças.