“Temos um programa bem desenhado que lentamente tenta disseminar-se, o Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos, mas não existe um sentido de determinação nacional para um problema que continua a revelar dimensão assustadora”, lê-se no documento, que será hoje apresentado no Porto.
No relatório são recordados os dados da Infeção Associada a Cuidados de Saúde (IACS) em Portugal, onde a taxa de prevalência é superior a 10 por cento, “praticamente o dobro da média dos restantes países europeus”.
O primeiro estudo europeu, promovido pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) em 2011 e 2012, concluiu que as infeções mais frequentes em Portugal eram as respiratórias (29,3%), as do trato urinário (21,1%) e as do local cirúrgico, com 18%.
As infeções da corrente sanguínea e as infeções gastrointestinais apresentam prevalências de 8,1% e 5,9%, respetivamente.
Para os autores do estudo “Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde: Contributo da Indústria de Meios de Diagnóstico in Vitro para o seu controlo”, “a estratégia de cooperação em vez da imposição é a correta”, mas “será insuficiente se não for acompanhada de um feixe de intervenções, não apenas informativas, mas também normativas” e “se não for apoiada pela inovação tecnológica” em redor, “de que são exemplo os testes de diagnóstico rápido”.
O estudo, coordenado pelo antigo ministro da Saúde António Correia de Campos para a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma), defende que “a mudança cultural deve ser persuasiva” e que “a relação desconfortável que o SNS [Serviço Nacional de Saúde] tem com a inovação tem que ser ultrapassada”.
“O SNS receia a tecnologia, pelos custos acrescidos desta e por não ter a certeza de serem compensados por benefícios correspondentes. Tende a olhar a inovação sempre no curto prazo, no contexto das limitações orçamentais anuais. Dificilmente consegue ver à distância”, lê-se no documento.
Para o fazer, sugere, “teria que substituir a sua posição reativa por uma postura prospetiva que antecipasse o conhecimento e planeasse a disseminação controlada da tecnologia”.
Os autores do documento elaboraram um conjunto de recomendações, entre as quais o alargamento e aprofundamento do conhecimento de “tudo o que respeita à IACS: clínico, organizativo, social e económico, nomeadamente através de estudos que permitam melhor conhecer a dimensão do problema, os seus custos, as alternativas de ação, os riscos e resultados, na linha da proposta apresentada neste relatório”.
“Conduzir, dentro do SNS, uma visão estratégica e de médio-prazo sobre o investimento em inovação tecnológica nos meios de diagnóstico e terapêutica, o planeamento antecipado da tecnologia, a recolha constante de informação e a comparabilidade de resultados” são outras das recomendações.
Outras propostas passam por “aperfeiçoar a logística interna do hospital de modo a encurtar os períodos de tempo despendido entre a terapêutica empírica e a terapêutica dirigida” e uma “especial atenção sobre as unidades de cuidados continuados a idosos e cidadãos em situação de dependência”.
Para os autores, deve ser integrado “o setor privado de saúde na recolha de informação e cumprimento das orientações e boas práticas sobre a IACS, recomendadas pela DGS”.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, em cada 100 doentes internados, sete nos países desenvolvidos e 10 nos países em desenvolvimento adquirem infeções hospitalares.
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