Com 32,1% dos votos, a vitória é amarga para o PS, que conquista o primeiro lugar nestas eleições, mas fica aquém dos seus objetivos. Com oito eurodeputados a caminho da Europa, todos com lugar marcado no grupo do S&D, os socialistas perdem efetivamente um mandato face a 2019.

Sem querer entregar os pontos, o líder socialista Pedro Nuno Santos, fez questão de começar o seu discurso por dizer que "o PS venceu as eleições e é hoje a primeira força política em Portugal", e que "sem o Chega, a esquerda é maioritária". Mas as contas não se podem fazer assim, mesmo quando a tentação é olhar para o copo meio cheio. Afinal, PS, BE, CDU e Livre representam 44,21% dos votos, enquanto AD, IL e Chega representam 49,98%.

Já a AD, com pouco mais de 31% dos votos, consegue aumentar a sua representação europeia, dos seis eurodeputados eleitos em 2019 para 7 mandatados, que irão integrar o PPE, a família política europeia que venceu estas eleições.

Na reação, Montenegro disse que este resultado lhe dá "alento para cumprir a caminhada que nos trouxe até aqui”. Mas a verdadeira notícia protagonizada pelo líder de governo viria minutos depois, quando anunciou o apoio da AD e do Governo ao seu antecessor António Costa para o cargo de presidente do Conselho Europeu — se este decidir ir à luta.

“É possível que a presidência do Conselho Europeu seja destinada a um candidato socialista. Se o dr. António Costa for candidato a esse lugar, a AD e o Governo de Portugal não só apoiarão como farão tudo para que essa candidatura possa ter sucesso”, disse.

A IL conseguiu aquilo que o seu cabeça de lista caracterizou, ainda em campanha e esta noite, como "uma grande vitória", nomeadamente a conquista de 9,07% dos votos e a eleição de dois eurodeputados, que deverão integrar a família dos liberais europeus (Renew Europe). Visivelmente feliz, Cotrim fez questão de garantir que "Portugal não está condenado a um triste fado".

Menos razões para festejar tem o Chega (9,79%), que apesar de se estrear no Parlamento Europeu ficou muito aquém dos objetivos traçados — queria eleger cinco eurodeputados, mas só conseguiu levar acrescentar à família política do Identidade e Democracia (ID) dois. Ventura assumiu o resultado — "o Chega não venceu" —, mas não deixou de celebrar o facto de o partido "não ter sido ultrapassado", mantendo-se como terceira força política nacional.

E à justa, mesmo à justa, Bloco de Esquerda (4,25%) e CDU (4,12%) conseguem eleger apenas os seus cabeças de lista, reduzindo para metade a força que conseguiram levar ao Grupo da Esquerda na Europa em 2019. Quando Catarina Martins e João Oliveira tomaram a palavra esta noite ainda nem os resultados oficiais davam como certa a eleição de um eurodeputado para cada partido.

O PAN foi incapaz de revalidar a sua presença na Europa (1,22%) — tendo mesmo ficado atrás do ADN, com 1,37% dos votos —, e o Livre (3,75) teve de esperar até à contagem da última freguesia para saber que falhou a eleição de Francisco Paupério.

No conjunto da Europa, olha-se agora para um Parlamento que manteve o equilíbrio das suas forças, com o PPE a eleger 191 eurodeputados. Segue-se o S&D com 135 e o Renew Europe com 83.

O Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), da italiana Meloni elege 71 deputados e o Identidade e Democracia (ID) conquista 57 lugares.

Assim, o eixo político central europeu, composto por PPE, S&D, Renew e Verdes assegura 462 deputados.

Na prática, estes resultados apontam para uma manutenção no equilíbrio de forças no Parlamento Europeu, agora com uma composição de 720 eurodeputados.

Ficam goradas as expectativas da italiana Giorgia Meloni, que não consegue afirmar-se como terceira força política na Europa, nem criar um grupo - em parceira com o ID - que seja alternativa ao S&D na aliança com o PPE para o comando político da União Europeia.

Vamos a contas: ID e ECR com esta sondagem somam 128 eurodeputados, menos do que o S&D.

Aliás, e já com contas feitas, o Partido Popular Europeu fez questão de ainda esta noite convidar os socialistas e os liberais para uma aliança no novo Parlamento Europeu — desde esteja garantido o apoio à candidata do PPE, Ursula von der Leyen, para a liderança do executivo comunitário. E apesar de querer manter em aberto a conversa com o ECR, este convite deixa claro quais as prioridades do PPE.

Mas, à margem do PE, há uma outra narrativa sobre o que se está a passar em cinco países estruturais na história da UE: França. Alemanha, Espanha e Polónia e Itália. Cinco países cujos resultados apontam para uma outra leitura, nomeadamente para um crescimento dos movimentos populistas de direita nos países que, no dia a dia, comandam os destinos da Europa, sendo eles Alemanha (que elege 96 eurodeputados) França (81), Alemanha (96), Itália (76), Espanha (61) e Polónia (53).

O Parlamento Europeu, recorde-se, é a única instituição da União Europeia (UE) eleita por voto direto. No total, cerca de 361 milhões de eleitores dos 27 países da UE foram chamados a escolher a composição do próximo Parlamento Europeu, elegendo 720 eurodeputados, mais 15 que na legislatura anterior.

Nas anteriores eleições de 2019, foram eleitos 751 eurodeputados, quando o Reino Unido ainda fazia parte da UE, mas com a sua saída, passaram a existir 705 lugares.

A Portugal cabem 21 lugares no hemiciclo, agora com presença nas famílias europeias do PPE, S&D, Renew Europe, ID e Esquerda.