"Ou faltava isto, ou faltava outra coisa, estavam sempre a surgir problemas", disse o ex-governante na Comissão de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM), sublinhando que quem criava esses problemas era Rafael Macedo.
A Unidade de Medicina Nuclear foi inaugurada em 2013, mas só começou a operar em 2017, sendo que Rafael Macedo, o único especialista na Madeira, acompanhou todo o processo de instalação do serviço.
"Cada vez que arranjávamos uma solução, surgiam dois problemas. Arranjávamos a solução para os dois problemas, apareciam mais quatro problemas. A certa altura, entrámos num impasse", disse João Faria Nunes, explicando que, por isso, o Governo Regional recorreu ao Colégio da Especialidade de Medicina Nuclear da Ordem dos Médicos.
O relatório desta instituição concluiu que as instalações e os equipamentos eram de qualidade e estavam prontos para entrar em funcionamento, o que aconteceu em 2017, quando João Faria Nunes já não era secretário regional (exerceu funções apenas entre 2015 e 2016).
No entanto, sublinhou que o recurso ao Colégio da Especialidade foi a "forma de tornar possível" a abertura da unidade, uma vez que o único especialista estava constantemente a "criar problemas" e a "colocar areia na engrenagem".
João Faria Nunes não quis associar esta atitude a uma eventual insegurança da parte de Rafael Macedo, mas lembrou que este esteve sem exercer a atividade desde de 2012, quando terminou a formação, até à entrada em serviço da Unidade de Medicina Nuclear em 2017.
A Comissão de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do SESARAM foi constituída a pedido do PSD, partido da maioria, após uma reportagem da TVI, emitida em fevereiro.
A investigação jornalística concluiu que o Hospital do Funchal encaminhava pacientes para fazer exames de medicina nuclear numa clínica privada instalada na região em 2009, enquanto a sua própria unidade, inaugurada em 2013 e certificada em 2017, estava "praticamente parada".
Rafael Macedo foi um dos protagonistas da reportagem e mais tarde, a 20 de março, foi ouvido na comissão de inquérito, onde afirmou que "alguns colegas são negligentes", quer no setor público como no privado, acusando-os de fornecerem tratamentos que "não são adequados" e apontando ainda deficiências nas fichas clínicas e no registo de doentes.
O médico sublinhou em particular os serviços de Hemato-Oncologia, Urologia e Ortopedia, afirmando que funcionam "muito mal" e, por outro lado, disse que havia "desvio deliberado" de doentes para o setor privado.
Na sequência destas declarações, Rafael Macedo foi suspenso pela administração do SESARAM, sendo também alvo de processo de averiguações na Ordem dos Médicos, onde deram entrada várias queixas de colegas e do Serviço de Saúde da Madeira.
Por outro lado, o presidente da administração da Joaquim Chaves Saúde, José Chaves, revelou na comissão de inquérito ter apresentado queixa no Ministério Público contra o médico.
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