A Exposição Mundial de Lisboa, inaugurada há 20 anos, a 22 de maio de 1998, foi o mote para a transformação da zona oriental da capital portuguesa, até então completamente degradada, “uma lixeira a céu aberto” e fábricas desativadas, numa nova cidade imaginada de raiz.
“No início era preciso ser um visionário para investir ali”, afirmou à Lusa Ruben Afonso, da agência imobiliária Era do Parque nas Nações, salientando que nessa altura os preços “não eram assim tão caros”.
No entanto, de acordo com o responsável, “quem investiu nessa altura, até 2004/05, – quase 100% clientes nacionais de classe média ou média alta - em pouco tempo triplicou o lucro e teve uma valorização de 300%”.
“As pessoas compravam em planta e em meses, semanas até, obtinham valorizações muito interessantes. Vendiam a posição e conseguiam 30 ou 40 mil euros de lucro”, afirmou, realçando que “os próprios construtores aumentavam os preços de uma semana para a outra e vendiam tudo”.
A partir de 2000 o mercado imobiliário do Parque das Nações começou a destacar-se em comparação com outras zonas, mas nada que se compare com o ‘boom’ após o início do programa de Vistos Gold, no final da primeira década de 2000, altura em que o investimento passou a ser sobretudo de estrangeiros.
“O preço cresceu exponencialmente. Se, antes dos ‘Vistos Gold’, um metro quadrado de uma casa ficava à volta de 2.000 a 2.500 euros, após o programa passou a custar cerca de 4.500 euros por metro quadrado”, afirmou, realçando que o preço final também depende de outros fatores.
Estes novos investidores do Parque das Nações são sobretudo chineses, seguidos de brasileiros. O investimento de “angolanos com poder de compra”, que já tinha começado antes dos Vistos Gold, acentuou-se, seduzidos por um país europeu com a facilidade da mesma língua.
Na altura da ‘troika’, também o Parque das Nações esteve em crise, mas “uma crise mais branda do que no resto do país”, salientou Ruben Afonso.
“Há uns anos, um T1 que custasse 170 mil euros demorava mais a sair. Agora, se estiver por 290 mil sai num só dia”, acrescentou.
Outro atrativo tem sido, nos últimos 10 anos, a mudança para a zona de empresas importantes, o que faz com que ali exista uma componente empresarial muito grande, com funcionários com algum poder de compra, o que ajuda a solidificar a procura de habitação.
A Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) confirmou que o Parque das Nações “continua a ser uma zona com muita procura, sobretudo nos segmentos mais altos”, por ser “uma zona moderna, com bons acessos, serviços e infraestruturas”.
“O único obstáculo nos dias de hoje será a falta de stock imobiliário nesta zona, mas este é um fenómeno que é extensível ao resto da cidade de Lisboa”, referiu.
Também Ruben Afonso confirma que, “na última meia dúzia de anos, a construção refreou” e atualmente “só há um prédio em construção no Parque das Nações”.
No entanto, ambos consideram o Parque das Nações “um exemplo de sucesso”, “uma estratégia ganha”, uma “ideia muito feliz”, apesar de Ruben Afonso admitir “um período crítico de abandono” após a extinção da Parque Expo.
“Conseguiu impedir que aquele local se tornasse um deserto depois da realização da Expo 98. A implementação de infraestruturas, zonas comerciais e a proximidade a diversos transportes públicos são fatores que são tidos em conta pelos potenciais compradores, que vêm hoje aquela zona como uma zona habitacional e de lazer”, acrescentou a APEMIP.
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