“Nós estamos a operar numa zona de guerra, então a preocupação com a segurança está sempre em cima da mesa e é algo importante. Por isso é que também foi um processo tão demorado e difícil de acontecer”, relatou Saviano Abreu, porta-voz do gabinete humanitário das Nações Unidas na Ucrânia.
Rússia e a Ucrânia assinaram acordos separados com a Turquia e as Nações Unidas, abrindo caminho para a Ucrânia – um dos principais celeiros mundiais – exportar 22 milhões de toneladas de cereais e outros produtos agrícolas que ficaram retidos nos portos do Mar Negro devido à invasão da Rússia.
O primeiro carregamento de cereais ucranianos deixou o porto de Odessa hoje de manhã.
Uma das preocupações é a presença de minas marítimas ao redor do porto, colocadas pelas forças ucranianas como forma de defesa dos ataques russos, sendo que a solução foi estabelecer um corredor para que toda a travessia seja realizada em segurança.
“A opção de tirar todas as minas era uma tarefa quase impossível de acontecer num período curto de tempo. Toda a travessia tem um corredor e foi estabelecida e vai ser monitorizada pelos nossos colegas que estão em Istambul, para garantir que decorra de forma segura”, salientou.
Para Saviano Abreu, que se encontra na Ucrânia desde março, este processo representa “uma operação de risco”, mas a ONU “acredita e espera” que as partes envolvidas respeitem os acordos para permitir a saída de mais navios que permitam mitigar a crise alimentar global.
“[Este acordo] Não é uma solução para a guerra, nem está perto disso, pois a guerra continua. Odessa foi mesmo atacada nos últimos dias. Hoje de manhã, quando estava no porto, escutamos algumas explosões”, contou em entrevista telefónica à agência Lusa.
Os acordos também permitem à Rússia exportar cereais e fertilizantes, enquanto prosseguem operações de desminagem nas águas dos três portos selecionados, com a supervisão da Turquia e de uma equipa de peritos de diversos países.
A carga do primeiro navio tem como destino o Líbano, país que enfrenta uma grave crise económica e financeira.
Antes, o cargueiro irá parar na Turquia, para “verificações” que pretendem garantir que os acordos estão a ser respeitados e que não está a ser exportado outro produto que não “exclusivamente cereais”.
“É também por isso que estão sentadas em Istambul todas as partes envolvidas [no acordo]: o governo da Ucrânia, o governo da Rússia, mediados pelo governo da Turquia e com o nosso apoio. Estão lá sentados porque é uma operação de risco”, frisou o porta-voz do gabinete humanitário da ONU.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de cerca de 16 milhões de pessoas de suas casas — mais de seis milhões de deslocados internos e quase dez milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou que 5.237 civis morreram e 7.035 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 159.º dia, sublinhando que os números reais deverão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.
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