A mostra é inaugurada hoje e, ao longo de nove núcleos expositivos, num equilíbrio entre arte contemporânea, arte antiga e objetos inéditos, aponta para vários ângulos e perspetivas da história da pequena capela.
“É uma peça de origem popular, aceite pela hierarquia, que não é trabalhada em gabinete de arquitetura, mas que tem uma força gravitacional e simbólica que, ao longo de um século, transporta dos mais diversos pontos do globo pessoas para a sua intimidade”, sublinhou o diretor do Museu do Santuário, Marco Daniel Duarte, no final de uma visita da imprensa à exposição.
Intitulada “Capela-Múndi”, a mostra apresenta uma réplica à escala natural da Capelinha das Aparições que, desde a sua recomposição nos anos 1980, está inacessível ao comum dos peregrinos.
Por um dos núcleos, uma caixa de esmolas e uma carta de um crente ao padre simboliza a importância da iniciativa popular nos primeiros anos após as aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos – relevância que é reforçada com uma homenagem, no final da exposição, a Maria Carreira, primeira guardiã da capela.
“Fátima tem uma componente, logo à nascença, mais do que popular, laical. É a partir da força laical que Fátima sobrevive e se impõe”, sublinha Marco Daniel Duarte.
O cariz popular desta capela acaba por estar muito vincada na exposição, como é o caso de algumas das 400 placas votivas que estavam na capelinha e que foram retiradas nos anos 1970, onde se podem ler agradecimentos de peregrinos em várias línguas e onde surge até uma referência à guerra colonial.
Para o diretor do Museu do Santuário, é na força dessa iniciativa popular inicial que reside a explicação de a capela, de desenho simples, ter aguentado um século, ainda que a Igreja tenha manifestado, por várias vezes, a intenção de a reformular para uma arquitetura mais erudita, como mostra a exposição, com desenhos de propostas de uma outra capela.
“É, de facto, intrigante, como é que um edifício que, do ponto de vista artístico, não tenha qualquer valia que a diferencia de tantas outras ermidas que estão no nosso país de norte a sul. Uma ermida que não tem configuração artística de uma época específica consegue sobreviver a essa tentação que a Igreja teve ao longo das épocas de tornar a capela mais erudita. A resposta só pode ser dada a partir do conceito da verdade do que está feito. Aquela capela é um sinal feito por mãos populares, por iniciativa popular que queria de facto corresponder a um pedido que entendia ser do Céu. A constituição desse pedido leva a que ganhe essa força de tal maneira emblemática que a fez resistir a qualquer traçado erudito”, salienta Marco Daniel Duarte.
“Capela Múndi” faz ainda uma referência a 1922 e ao momento em que a Capelinha das Aparições foi dinamitada, “numa ação de dolo para destruir aquilo que era o símbolo mais forte do Santuário de Fátima”, refere o responsável da exposição, que vai apresentar um pedaço da porta destruída nesse episódio.
A exposição conta com várias obras de arte e objetos de arte sacra cedidas por museus, paróquias ou confrarias, algumas delas “peças âncora” da mostra, como é o caso de “Promessas”, de José Malhoa, “Agnus Dei”, de Josefa de Óbidos, e “História Trágico-Marítima”, de Maria Helena Vieira da Silva (que apenas estará patente no Santuário a partir de maio).
A exposição temporária comemorativa do centenário da construção da Capelinha das Aparições estará patente ao público até 15 de outubro de 2019, diariamente entre as 09:00 e as 18:00.
A exposição é de entrada gratuita.
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