O sacerdote, na véspera da visita do Papa Francisco à Cova da Iria, disse desconhecer se o pontífice vai aproveitar a sua presença no santuário para abordar o problema dos abusos sobre menores no seio da Igreja, sublinhando que “o Papa, ao querer iniciar, logo na chegada a Portugal, a visita com a questão dos abusos, deu um sinal muito claro de que não ignora este drama vivido em Portugal”.

O Papa conhece “este drama que atinge a Igreja portuguesa, não ignora este crime cometido contra as vítimas, não quer que ignoremos as vítimas. Isso foi muito claro”, afirmou à agência Lusa.

Para Carlos Cabecinhas, Francisco, “o Papa, ao receber as vítimas, ao falar diretamente com um pequeno grupo de vítimas, deu este sinal claro [de que] a Igreja não pode, de forma alguma, ignorar as vítimas, não pode, de forma alguma, deixar de as escutar, de as ouvir e de as levar muito a sério. Esse sinal está dado”.

“Se o Papa vai ou não em Fátima falar da questão dos abusos, não sei”, mas que “Fátima será sempre um lugar em que a questão da defesa das crianças, da proteção das crianças, tem de ter um lugar absolutamente primordial, isso é muito claro”, disse o reitor à agência Lusa.

Desde logo, “até por esse facto histórico evidente que é: os protagonistas de Fátima foram crianças, foram crianças e são crianças que nos chamam a atenção para a necessidade permanente do cuidar dos mais frágeis, concretamente dos menores e das crianças”.

“E quando falamos dos mais frágeis, eu digo particularmente as crianças, porque a questão dos abusos nos vai mostrando que não é apenas um problema com as crianças”, acrescentou.

Carlos Cabecinhas mostrou-se ainda convicto de que Fátima, “a esse nível, tem esse papel fundamental de alertar as consciências para essa proteção das crianças, que é absolutamente decisiva e que tem que ser uma causa que a própria igreja em Portugal abraça”.

“A Igreja, ao aceitar fazer todo o caminho que aceitou fazer, nomeadamente com a criação da Comissão independente, com toda esta investigação, com um pedido de perdão que apresentou, agora tem de ser consequente e o ser consequente obviamente, se Fátima é o Coração espiritual de Portugal – para utilizar essa expressão belíssima do Papa Bento XVI – não pode estar ausente também desta questão dos abusos. Tem de abraçar necessariamente esta causa e de ser esse lugar pioneiro da defesa das crianças, dos seus direitos e da sua proteção”, concluiu Carlos Cabecinhas.