“É uma questão de justiça, na mesma maneira que a lei da nacionalidade mudou”, dando o direito à cidadania portuguesa a qualquer família de origem judia “que tenha deixado Portugal na sequência da expulsão em 1498” e a cidadania aos netos dos emigrantes portugueses, afirmou Fernando Nobre.
Em entrevista à Lusa à margem da 2.ª Conferência das Comunidades Portuguesas na Ásia, que juntou no Bairro Português de Malaca representantes das comunidades asiáticas descendentes de portugueses, numa iniciativa de partilha das raízes culturais, com cerca de 300 luso-asiáticos, de várias comunidades do continente, Fernando Nobre disse que não vê qualquer razão “para haver dois pesos e duas medidas em Portugal”.
Estas comunidades “são descendentes de portugueses, falam o português arcaico como era falado no século XV e XVI, mantêm as suas tradições culturais, culinárias e preservaram-nas num período extremamente difícil”, de perseguições e clausura durante três séculos, mas “nunca desistiram das componentes que Portugal deixou por aqui”, sublinhou.
“Todo o catolicismo na Ásia é de origem portuguesa (…) o folclore, o bailar, a comida é de origem portuguesa” e por essa razão, o presidente da AMI acredita que “seria importante que Portugal, evidentemente que em parceria com os Estados que hoje eles habitam, seja aqui na Malásia, seja na Indonésia, seja o Sri Lanka, a Tailândia, o Myanmar (antiga Birmânia), a Índia e outros, discutir a possibilidade de uma segunda cidadania”.
A justiça não é a única razão apontada por Fernando Nobre para dar a cidadania portuguesa às pessoas destas comunidades, visto que Portugal deve olhar para Ásia como se de um interesse estratégico se tratasse.
“Não é só uma questão de justiça, é também uma questão de interesse estratégico para Portugal, numa zona do mundo em que toda a gente reconhece que durante o século XXI e possivelmente durante o século XXII vai ser a zona do mundo dominante", enfatizou.
No que diz respeito a projetos de apoio a estas comunidades, a AMI tem atividades no Sri Lanka, Indonésia e Malaca (Malásia).
No Sri Lanka, em Tricomalli, construíram o Centro Cultural Lourenço de Almeida (3.500 metros quadrados), que dá apoio escolar, entre outros, à comunidade, e ainda estão presentes com uma associação na cidade de Batticaloa.
Na Ilha das Flores, Indonésia, dão apoio a um hospital numa zona em que ainda há muita comunidade descendente e em Malaca construíram um centro de saúde.
A 2.ª Conferência das Comunidades Portuguesas na Ásia decorreu hoje em Malaca com vários alertas dos participantes sobre o risco de extinção que enfrentam comunidades herdeiras do período colonial português no século XVI, mas também com mostras musicais e de dança de algumas destas comunidades.
Com trajes que fazem lembrar os grupos folclóricos portugueses, artistas cantaram em 'crioulo luso-asiático' e dançaram ao som músicas tradicionais, como o "Malhão".
A convite da organização da conferência estiveram presentes o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, professores, especialistas e representantes das comunidades de herança portuguesa da Indonésia, Singapura, Malásia, Timor-Leste, Austrália, Tailândia e Sri Lanka.
Em declarações à Lusa, na cidade conquistada pelos portugueses em 1511, um dos representantes da minoria luso-malaia e organizador da conferência, Joseph Santa Maria, sublinhou que acredita que os países que compõe atualmente a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) têm dinheiro e poder suficientes para apoiar as atividades culturais, linguísticas e históricas destas comunidades que nasceram “através dos feitos dos grandes descobridores portugueses”.
“Nós aqui somos malaios, mas temos muito orgulho em dizer que somos portugueses também”, disse Joseph Santa Maria.
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