Admitindo que os números apurados durante a manhã no hospital do Porto ficaram "um pouco aquém" do previsto pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap), o dirigente Carlos Lopes disse à agência Lusa que, ainda assim, a adesão é grande.
"O balanço relativamente ao Hospital São João é que, neste momento, temos apenas a funcionar quatro das 11 salas de cirurgia, pois apenas apareceram quatro das auxiliares, houve uma grande adesão", disse.
Segundo o responsável do Sintap, "ao nível das consultas externas, verifica-se também um grande atraso”.
“As pessoas aderiram, não tanto como queríamos. Sem números concretos, a adesão andará à volta dos 50%, um número que fica um pouco aquém da expectativa", declarou.
Para o sindicalista, os números da adesão devem-se ao facto de "a grande maioria das pessoas ter medo de perder o seu posto de trabalho", situação que Carlos Lopes considerou "compreensível".
A greve dos trabalhadores do setor público da saúde não pareceu repercutir-se entre as pessoas que acorreram às consultas externas daquele hospital, como deu disso conta Manuela Silva, da Maia.
"Vim para uma consulta de controlo de sangue e correu tudo dentro da normalidade", disse à agência Lusa enquanto, no extenso corredor do hospital, esperava para "conhecer o resultado da análise".
Afirmando saber que "havia greve", mostrou simpatia pelos dois dias de paralisação sem, contudo, deixar de considerar "parecer ser um dia normal" no hospital.
Na mesma linha de pensamento, Adão Brito, de Lousada, deslocou-se ao Porto para "uma consulta de cirurgia", garantindo ter sido "atendido dentro do tempo previsto".
"Estou neste hospital pela segunda vez numa semana e não noto diferença nenhuma", reforçou em declarações à Lusa.
Em passo apressado, mas sem dispensar um sorriso por ter conseguido a consulta para a filha, Alice Matos, de Vila do Conde, foi ao hospital para "uma consulta de Oncologia" onde foi "atendida rapidamente".
Greve dos trabalhadores da saúde no Algarve com adesão entre 60 e 70%
A adesão à greve dos trabalhadores do setor público da saúde no Algarve situou-se hoje entre os 60 e os 70%, causando atrasos nas consultas externas e o encerramento dos centros de saúde de Lagos e Albufeira, disse fonte sindical.
João Barnabé, coordenador regional do Algarve do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap), fez um balanço da adesão verificada hoje na região e afirmou que se situava, cerca das 10:30, em “mais ou menos 60 a 70%”, havendo “alguns serviços fechados, quer em centros de saúde, quer em serviços do hospital de Faro”.
“Os centros de saúde de Lagos e Albufeira estão encerrados e Olhão está a funcionar a meio gás”, disse ainda João Barnabé, frisando que esta greve se “sente mais nas consultas externas”.
O coordenador regional do Sintap lembrou que “há serviços mínimos” a serem garantidos, mas “mesmo assim deve-se verificar atrasos nas marcações de consultas”, porque “os serviços mínimos apenas abrangem tudo o que é urgência e oncologia previamente marcada”.
“Há pessoas que vão ficar sem consultas, porque está lá o médico, o enfermeiro, mas depois não está o operacional ou o administrativo para dar apoio ao médico”, afirmou a mesma fonte, acrescentando que “o serviço até pode estar aberto e o médico estar presente, mas não haver consultas”.
Ana Paiva, dirigente sindical do Sintap no hospital do Barlavento, disse que “em Portimão a greve está a rondar os 70%, com vários serviços fechados”, valor "ligeiramente superior ao verificado em Faro".
A mesma fonte referiu que “as consultas externas deviam ter aberto às 08:00, com seis funcionários, todos com contrato individual, que faltaram”, e “abriu só às 09:30, com uma funcionária, que tem centenas de pessoas à espera” e muitas delas poderão não ser atendidas.
A greve está-se a fazer sentir também na “medicina interna de pediatria”, que está a trabalhar “sem funcionários e assistente operacional”, precisou, acrescentando também que “há coordenadores de serviço a assegurar serviços mínimos” devido à adesão dos trabalhadores à paralisação nacional, que começou hoje às 00:00 e prolonga-se até às 24:00 de quinta-feira.
Adesão à greve foi de 100% nas consultas externas no Hospital do Funchal
A adesão à greve dos trabalhadores da saúde na Região Autónoma da Madeira foi de 100% nas consultas externas e na cirurgia em ambulatório do Hospital Central do Funchal, no turno da manhã, informou hoje o sindicato do setor.
"O bloco operatório e os andares têm serviços mínimos assegurados, mas nas consultas externas e na cirurgia em ambulatório a adesão foi total", disse à agência Lusa Carlos Moniz, delegado Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap), responsável pela convocatória da paralisação nacional de dois dias.
O Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM) não confirma para já estes números e remeteu a divulgação de dados para mais tarde.
A greve não está, contudo, a afetar o funcionamento de várias unidades de saúde e tão pouco está a gerar protestos por parte dos utentes, como por exemplo no Centro de Saúde de Santo António, um dos maiores do Funchal e da Madeira, onde constatamos que nenhum trabalhador aderiu à paralisação na parte da manha.
No Hospital dos Marmeleiros e no Hospital João de Almada, também na área do Funchal, o sindicato informou que a adesão foi de 25% e 45% respetivamente.
"Há trabalhadores não podem fazer greve nos dois dias e, por isso, só poderemos divulgar dados mais concretos no final", explicou.
Vários serviços afetados em Coimbra devido à greve dos trabalhadores de saúde
No Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), registaram-se, durante a noite, níveis de adesão de cerca de 70% nos internamentos e de 100% nas urgências e cuidados intensivos, números que se refletem no turno da manhã, disse à agência Lusa Ricardo Domingos, membro dos órgãos regionais do Sintap.
"Há serviços encerrados como o secretariado clínico. Nas enfermarias, há uma média de 70% de adesão e há blocos de cirurgia programada fechados e consultas em que o secretariado está fechado", sublinhou.
O dirigente sindical é também assistente operacional no serviço de urgência do CHUC, onde está há 16 anos com contrato individual de trabalho, o que significa que são "16 anos sem progressão de carreira", com uma carga horária superior (40 horas semanais) à dos restantes trabalhadores e sempre a receber o salário mínimo nacional, "como tantos outros com 20 e 30 anos de profissão".
"De uma vez por todas, temos que marcar a nossa posição e fazer chegar ao Governo que estas injustiças, nomeadamente no setor da saúde, não podem continuar, com uns trabalhadores de primeira e outros trabalhadores de segunda", criticou.
Para além disso, Ricardo Domingos chamou a atenção para a sobrecarga de trabalho, referindo que no CHUC os assistentes operacionais do serviço de urgência tinham, em média, "11 mil horas que vão ficando em bolsa", sem uma solução definida.
O coordenador regional do Sintap, Jacinto Santos, afirmou à agência Lusa que os níveis de adesão à greve na região Centro, nomeadamente nos hospitais da Figueira da Foz, Coimbra, Aveiro, Estarreja e Santa Maria da Feira estão entre "os 80 a 90%".
Piedade Silva, de 79 anos, era para ter consulta hoje no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra.
"Cheguei lá e não tive consulta. O médico estava lá, mas não havia auxiliares", referiu a utente, que esperava à porta do CHUC pela sua filha, que tinha ido ver se a consulta que tinha marcado também teria sido suprimida face à greve.
Já António José Barros foi atendido no serviço de oftalmologia do CHUC, mas notou que, na secretaria, apenas estava uma pessoa.
"Disse-nos que ia atender uma pessoa de cada vez e para não arranjar confusão que toda a gente ia ser atendida", contou.
Já uma utente no Centro de Saúde de Celas disse à agência Lusa que notou "muita gente" na sala de espera, mas que tudo se processava normalmente.
Greve provoca cancelamento de consultas e lentidão nos hospitais do Alentejo
Consultas canceladas e “lentidão nos serviços” de atendimento devido à falta de funcionários são constrangimentos hoje sentidos nas principais unidades hospitalares do Alentejo, devido à greve dos trabalhadores da saúde, disse o sindicato do setor.
“Há algumas consultas que têm sido canceladas e há serviços dos hospitais que estão a funcionar, mas com lentidão. Deveriam ter quatro e cinco funcionários, mas só estão com dois”, afirmou à agência Lusa Joaquim Grácio, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap).
Segundo o sindicalista, coordenador da secção regional do Alentejo do Sintap, a adesão à greve, neste que é o primeiro de dois dias de paralisação, “ronda os 70%” nos hospitais alentejanos.
“A adesão ronda os 70%” nos hospitais de Beja, Évora e Portalegre”, sendo ligeiramente superior, na ordem “dos 75%”, no Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém (Setúbal), precisou.
A paralisação, destacou Joaquim Grácio, “está a ter um efeito importante” e “os trabalhadores necessitam de mostrar claramente ao Governo” as razões que os levam ao protesto.
“Os trabalhadores estão a lutar pela dignificação das carreiras e pelas 35 horas de trabalho para todos. E alguns deles, há 10 anos ou mais, têm sempre o mesmo salário, que é baixíssimo, pelo que reivindicamos a progressão nas carreiras e a assinatura do acordo coletivo de trabalho que está em cima da mesa há cerca de seis anos”, resumiu.
No Hospital de Portalegre, Margarida Bragança, residente em Avis, foi uma das utentes afetadas esta manhã, como constatou a Lusa no local.
A habitante viajou de táxi desde casa até à sede de distrito, numa distância de cerca de 80 quilómetros, para uma consulta de cirurgia, mas teve de voltar para trás sem ser observada por um médico e sem obter respostas sobre uma futura deslocação à unidade hospitalar para ser examinada.
“Não há autocarros com horários normais para deslocar-me de Avis para Portalegre. Tenho que pagar cerca de 60 euros de táxi e agora é isto, não tenho consulta”, lamentou à Lusa.
Igual sorte teve o utente João Ameixa, que viajou desde a freguesia de Vale de Cavalos, no concelho de Portalegre, para desmarcar uma consulta que estava agendada há mais de seis meses.
“Queria desmarcar a consulta e pedir para remarcar para outra data, mas já vi que não vai ser possível. Eu vi isto (balcão de atendimento) fechado e já estava aqui há um bocado à espera, pois, pensava que abria mais tarde, mas afinal não”, lamentou.
Ao longo da manhã foi este o “filme” nas consultas externas do Hospital de Portalegre, como observou a Lusa. A maioria dos utentes que se deslocou ao serviço abandonou pouco depois o edifício, apesar de uma “minoria de resistentes” ter optado por aguardar por uma resposta, junto aos respetivos gabinetes médicos ou na sala de espera.
“Os serviços estão a ser afetados na ordem dos 90%. Os restantes setores do hospital e centros de saúde estão a funcionar com normalidade”, disse à Lusa o porta-voz da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA), Ilídio Pinto Cardoso.
Já no Centro de Saúde de Portalegre, a Lusa constatou que os serviços funcionavam com normalidade, não se fazendo sentir os efeitos da greve, que continua na quinta-feira.
Atrasos nas consultas e confusão dos utentes marca greve no Hospital S. José
Atrasos nas consultas e alguma confusão dos utentes no encaminhamento para as consultas marcava a manhã de hoje no Hospital de São José, em Lisboa, onde a adesão à greve dos trabalhadores da saúde ronda os 80%, segundo o sindicato.
“Há uma forte greve no Hospital de São José e nos outros hospitais de Lisboa”, disse à agência Lusa Carlos Moreira, do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap), que assegurou um piquete de greve junto às consultas externas do hospital, que integra o Centro Hospitalar de Lisboa Central.
Na porta de entrada das consultas externas está fixado um comunicado do hospital que alerta os utentes para a possibilidade de haver “algumas perturbações no funcionamento das consultas” devido à greve dos trabalhadores do setor da saúde.
Alguns utentes contactados pela agência Lusa disseram que não sabiam da greve marcada para hoje e quinta-feira, mas adiantaram que não demoraram muito tempo a ser atendidos. Outros foram atendidos à hora marcada, como Ana Santos que já tinha feito o penso e esperava apenas a ambulância para a levar de regresso a casa.
A confusão maior era junto às máquinas de retirar a senha para as consultas de especialidade. “Onde está a senhora que costuma estar aqui para nos ajudar?” era a pergunta mais ouvida na sala de entrada das consultas externas, onde a maioria dos utentes eram idosos.
Sobre os impactos da greve neste hospital, Carlos Moreira disse que “há um atraso nas consultas”, explicando que as consequências não são maiores porque estão a ser cumpridos os serviços mínimos.
“Os serviços não encerram porque há sempre colegas a assegurar o serviço, mas obviamente há mais demoras e algumas especialidades estão a ter dificuldades porque o número de trabalhadores que tem de apresentar-se ao serviço é [decidido] consoante os rácios que existem e, portanto, há serviços em que a demora está a ser maior do que noutros”, disse o sindicalista.
Carlos Moreira adiantou que todos os trabalhadores que “não têm que prestar os serviços mínimos estão a aderir” à paralisação, que visa exigir a aplicação do regime de 35 horas de trabalho semanais para todos os trabalhadores, progressões na carreira e o pagamento de horas extraordinárias vencidas e não liquidadas.
A nível nacional, “há uma adesão forte à greve, na ordem dos 70 a 80%”, disse, adiantando que “há alguns serviços fechados, nomeadamente no Hospital de Portimão”.
“Infelizmente, há também alguns hospitais e algumas chefias que estão a procurar que os trabalhadores não façam greve”, disse o sindicalista, denunciando que no “Hospital da Figueira da Foz houve estagiários que foram substituir trabalhadores que estão a fazer greve”.
“As administrações hospitalares têm que cumprir aquilo que são as obrigações legais”, defendeu Carlos Moreira.
Sobre os números de adesão à greve, o sindicalista afirmou que “são altamente satisfatórios” e que revelam “a insatisfação” dos trabalhadores para “com as entidades patronais e sobretudo com o Governo”.
Para o sindicalista, o “Governo deve olhar para os seus trabalhadores com sentido de igualdade”, considerando que “não faz sentido que haja dois colegas com horários diferentes a receber o mesmo salário”.
As reivindicações
A paralisação nacional começou hoje às 00:00 e prolonga-se até às 24:00 de quinta-feira, dia em que o sindicalista "aposta no crescimento da adesão".
O protesto pretende exigir a aplicação do regime de 35 horas de trabalho semanais para todos os trabalhadores, progressões na carreira e o pagamento de horas extraordinárias vencidas e não liquidadas.
O Sintap reivindica ainda a aplicação do subsistema de saúde ADSE (para funcionários públicos) a todos os trabalhadores e um acordo coletivo de trabalho para os trabalhadores com contrato individual de trabalho.
No dia 25 deste mês, trabalhadores do setor da saúde voltam a cumprir um dia de greve, uma paralisação marcada pelos sindicatos afetos à CGTP.
A greve abrange todos os trabalhadores da saúde, exceto médicos e enfermeiros, dos serviços tutelados pelo Ministério da Saúde, como hospitais ou centros de saúde.
Já na próxima semana, são os sindicatos médicos que têm uma greve de três dias agendada, para dias 8, 9 e 10.
(Notícia atualizada às 13h01)
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