A declaração de guerra fora proclamada a 09 de março de 1916, sete dias depois da apreensão pelo Estado português de quatro navios alemães que se encontravam no porto do Funchal - o Colmar, o Petrópolis, o Guahyba e o Hochfeld.
Hoje, na ilha, são escassas as evocações àquele domingo de dezembro de 1916, quando o submarino da marinha imperial alemã entrou no porto do Funchal, comandado pelo capitão-tenente Max Valentiner, e investiu contra a canhoneira francesa La Surprise, o navio francês Kanguroo, o vapor mercante inglês Dácia, e, por se encontrarem em operações de abastecimento, duas embarcações madeirenses fornecedoras de carvão, da casa Blandy.
A operação saldou-se no afundamento destes navios, tendo sido, no entanto, poupado o iate americano Eleanor A. Percy (os Estados Unidos ainda não tinham entrado na guerra).
"O bombardeamento teve a ver com a necessidade, não de atingir a Madeira, mas de inutilizar três unidades de guerra, duas francesas e uma britânica, que tinham um papel concreto no esforço de guerra aliado, porque a Madeira, e gradualmente os Açores, inseria-se já num quadro Atlântico de muita importância. Não foi um bombardeamento gratuito", explicou agência Lusa o historiador Paulo Miguel Rodrigues.
Na investida, que durou cerca de duas horas, o U38 disparou também, já na retirada, contra alvos em terra, designadamente a fortaleza de São Tiago e a bateria da Vigia, rudimentarmente equipadas.
O pânico instalou-se e muitas pessoas fugiram para "os subúrbios do Funchal".
Segundo os relatos da época, da canhoneira francesa La Surprise desapareceram 33 homens da guarnição, além do madeirense Henrique Rodrigues Teixeira, que se encontrava a bordo a supervisionar o fornecimento de carvão.
Manuel Vieira, José Gomes Camacho, Augusto Garcez, Manuel Rodrigues e Francisco Franco foram também vítimas madeirenses do torpedeamento, por se encontrarem na embarcação que apoiava o abastecimento.
"O espírito de covardia, traição e maldade da raça teutónica", como escrevia, então, o Diário de Notícias do Funchal, fez emergir a problemática da defesa da ilha e as consequências económicas e sociais da insegurança daí resultantes.
No debate que então se seguiu, o semanário A Verdade criticou a "vulnerabilidade" a que o Governo central remetia o arquipélago: "Não obstante estar declarado o estado de beligerância de Portugal, e o Funchal ser considerada a terceira cidade do país, nunca o Governo central pôde ou quis dispensar um chaveco ao menos para policiamento do nosso porto".
Estampando "A Madeira bombardeada por um submarino alemão", o Diário da Madeira escrevia: "a verdade nua e crua - embora triste seja confessar - é que se apurou estarmos, aqui, no meio do mar, quase desamparados (…), nunca se cuidou a sério da defesa da Madeira".
O semanário Trabalho e União, com o título "Pobre Madeira", expunha: "afirmou-se, sob influências de cálculos científicos, que a ação dos submarinos alemães seria impossível nos países mais afastados como Portugal e os ‘bárbaros do norte’, zombando dos civilizados do sul (…) acabam de vir à pobre e indefesa ilha da Madeira em pleno dia".
"E é, isto, um dos mais importantes portos dum país em guerra nada menos do que com a formidável Alemanha! Um único submarino adversário não nos derreteu, aqui, no domingo, simplesmente - porque não quis! Esta é a dolorosa verdade. São estas as consequências de quem se mete em cavalarias altas?", acrescentava.
Para o historiador Paulo Rodrigues, "é evidente que a defesa, numa perspetiva exclusivamente militar, na Madeira, será sempre inevitavelmente periclitante, quer queiramos, quer não, porque não há capacidade do Estado português de fazer isso".
Para este investigador, "ontem, como hoje, Portugal procurou sempre estar próximo e com boas relações com aquela que era a potência naval, ontem a Inglaterra, hoje os Estados Unidos", reconhecendo não haver a menor "hipótese de sobrevivência" para o país "se não tiver o apoio daqueles que são os seus aliados".
Há cem anos, o diretor do Diário da Madeira, Juvenal Abreu, resumia assim o ataque de que foi alvo o porto do Funchal: "espreitou a fera, matreira e traiçoeira, o momento de cair sobre a presa - pequenina e débil".
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