Apesar da pandemia, foram vários os hospitais públicos do Norte a bater recordes de cirurgias realizadas em 2021. Aproveitando incentivos financeiros para recuperar a atividade em atraso, reorganizaram os tempos dos blocos operatórios — e alguns chegaram mesmo a arrendar espaço em unidades privadas e do setor social para acelerar a resposta, reduzindo os tempos de espera, revela esta quarta-feira o ‘Jornal de Notícias’, que coloca o Centro Hospitalar São João, no Porto, como líder no número de cirurgias em Portugal.
Para além do São João, o Santo António, também no Porto, e os hospitais de Braga e Gaia melhoraram indicadores. A nível nacional, a atividade cirúrgica realizada até novembro estava acima do período homólogo de 2019, que já tinha sido o melhor ano de sempre, revela o diário.
Estes resultados foram empurrados para cima pelo Centro Hospitalar Universitário São João, que com 53.720 cirurgias foi a instituição que mais operou em todo o país. Naquele hospital do Porto, a mediana de tempo de espera caiu para os 1,5 meses, tendo dado resposta a todos os doentes que aguardavam há mais de um ano e cumprido os tempos máximos de resposta garantida em 94% das cirurgias, disse Elisabete Barbosa, a diretora da Unidade Autónoma de Gestão do São João ao JN.
A recuperação permitiu ao hospital deixar de emitir vales cirúrgicos — para os doentes serem operados no privado —, invertendo mesmo a situação: “desde maio, invertemos este circuito e começámos a receber doentes de todo o país, colaborando com outros hospitais do SNS e competindo de forma inovadora com as instituições privadas e sociais”, diz ainda Elisabete Barbosa.
Também o Hospital de Braga conseguiu um ano de recordes: apesar da menor dimensão, foi o segundo hospital do país a realizar mais cirurgias, 42.873 — são mais 11.455 do que em 2019. A mediana de espera baixou para os 2,7 meses.
Esta antiga PPP recorreu ao arrendamento de blocos operatórios em hospitais do setor privado e social para ultrapassar as limitações de espaço, permitindo que as suas equipas trabalhassem mais.
O mesmo fez o Centro Hospitalar Universitário do Porto, de que faz parte o Hospital de Santo António. A organização dos blocos e dos tempos no Santo António, no Centro Materno-Infantil e no Centro Integrado de Cirurgia de Ambulatório permitiram ao Centro Hospitalar Universitário do Porto ter também os melhores resultados de sempre, 41.301 cirurgias, mais 1.160 que em 2019.
“Os dados de melhoria contínua desmentem a perceção geral de que os doentes ‘não-covid’ estão a ser prejudicados no acesso a cirurgias”, diz o diretor clínico do CHUP ao ‘Jornal de Notícias’. “Pelo contrário, nunca o Centro Hospitalar Universitário do Porto operou tantos doentes como em 2021.”
Os recordes foram batidos também no Centro Hospitalar Gaia/Espinho, com 29,5 mil cirurgias, mais 3.400 do que em 2019.
Com recordes a Norte e apesar e uma recuperação em quase todo o país, face a 2020, nem todos os hospitais conseguiram chegar aos números pré-pandemia: o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, por exemplo, chegou apenas às 38.747 cirurgias, são menos 2.509 do que tinha conseguido em 2019.
E em Lisboa, o Centro Hospitalar Lisboa Central, que inclui o São José e a Maternidade Alfredo da Costa, operou 38.132 pessoas, menos 258 que em 2019.
Em Coimbra, a justificação dada ao ‘Jornal de Notícias’ é a de que, no final de 2020 e no primeiro trimestre de 2021, o CHUC terá sido a unidade hospitalar com mais camas dedicadas à covid-19 em Portugal. Também a pandemia é usada como justificação em Lisboa, com o CHLC a apontar os “fortíssimos condicionamentos à atividade cirúrgica” nos primeiros meses de 2021, recuperada no resto do ano.
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