O “Alerta São João” está a ser testado há cerca de três semanas e “não visa prender ninguém” mas “proteger os doentes que podem colocar em risco a sua integridade física” por insistirem em sair do espaço do Serviço de Urgência durante o período de tratamento, descreveu aos jornalistas o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do Hospital de São João, Nelson Pereira.
Em causa estão doentes com quadros demenciais, bem como todos os doentes em que existam dúvidas quanto a eventual risco de fuga ou com incapacidade de perceber a real necessidade de intervenção clínica de urgência.
Somam-se doentes conduzidos por agentes da autoridade, com mandado de condução para internamento compulsivo, pessoas identificadas após tentativas de suicídio e doentes agitados ou com quadros de alteração comportamental de características psicóticas.
“Na triagem, ou em qualquer momento, se identificado o risco [de fuga] é colocada uma pulseira ergonómica que fica no punho do doente e o acompanha em todo o percurso”, descreveu Nelson Pereira.
A diretora do Serviço de Urgência, Cristina Marujo, garantiu que se trata de “algo confortável, até porque muitos doentes permanecem um período considerável no serviço, mas algo que o próprio não é capaz de retirar”.
A somar à colocação da pulseira — processo que é explicado ao acompanhante do utente no processo de triagem — o projeto soma os sensores magnéticos colocados junto às portas do Serviço de Urgência que disparam sinais sonoros e luminosos se o doente identificado se aproximar de forma indevida.
“Os nossos vigilantes reconhecem os sinais e conduzem à pessoa ao espaço onde deve estar”, acrescentou Nelson Pereira, admitindo que o problema, “identificado no passado”, se tornou mais atual com a impossibilidade dos acompanhantes permanecerem o tempo todo com o doente devido a regras associadas à pandemia da covid-19.
Lembrando que o Hospital de São João tem uma urgência metropolitana de psiquiatria e que “todos os hospitais sofrem” com este tipo de fugas, Nelson Pereira apontou que, ainda que “não tenha sido registado um aumento de situações”, esta “solução tecnológica e organizativa permite lidar melhor com o dia a dia”.
“Estamos com maior pressão, maior dispersão dos profissionais de saúde porque temos várias áreas novas para dar resposta. [O projeto] não foi criado devido à covid-19, mas ajuda naturalmente”, referiu o médico.
Cristina Marujo acrescentou que os acompanhantes se sentem “mais seguros”, porque “uma das maiores angústias que demonstram é deixar doentes demenciados no serviço”, receando que os mesmos “não saibam explicar e/ou depois que desapareçam sem ninguém dar conta”.
“Para os familiares é uma forma de estarem mais seguros e tranquilos”, frisou.
Numa urgência pela qual passaram cerca de 250 doentes por dia nas últimas três semanas — um número que reflete já uma diminuição explicada pelo confinamento uma vez que as médias pré-covid apontam 462 doentes/dia — foram colocados entre 15 a 20 pulseiras “Aleta São João” por dia.
As braceletes, inspiradas no sistema dos serviços de neonatologia em que os bebés são protegidos por risco de rapto, são cortadas após cada uso e o dispositivo higienizado.
No total foram adquiridos 50 dispositivos eletrónicos.
A pulseira é removida por alta do doente ou por razões clínicas para a não utilização.
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