A reflexão sobre a ligação entre estes dois fatores iniciou-se com as declarações da presidente da Câmara de Almada, Inês de Medeiros, ao jornal Público, em janeiro, de que atualmente existem mais bairros degradados no concelho do que nos anos 90 e que a pressão imobiliária sobre Lisboa faz com que a cidade “corra o risco de ver aumentados os bairros de lata”.
Já a vereadora da Habitação, Maria Teodolinda Silveira, confirmou estes dados, ao indicar à agência Lusa que atualmente existem 62 bairros degradados, mais 11 do que existiam nos anos 90.
A Lusa também falou com profissionais do setor e, na visão de Vítor Martins, da Remax Almada, não restam dúvidas quanto à influência da proximidade com Lisboa na subida de preços, tanto a nível de arrendamento, como de venda.
“Deve-se à proximidade com Lisboa, uma vez que há uma pressão muito grande nos preços, o que faz com que as pessoas fujam um bocado para a periferia. Almada continua a ser uma cidade dormitório”, explicou.
Neste sentido, adiantou que os preços têm vindo a subir desde 2014, com “crescimentos na ordem dos 20% ao ano no preço dos imóveis”, fazendo com que atualmente um T2 para venda custe, em média, 130 mil euros e, para arrendamento, 650 euros.
Também Sónia Sá, da imobiliária Feijó Global, referiu que “os preços estão muito elevados” na cidade e que as pessoas têm sido “empurradas da zona de Lisboa para a Margem Sul”.
As estatísticas de renda da habitação ao nível local, divulgadas este mês pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), comprovam as afirmações dos profissionais, ao indicar que entre os 308 municípios portugueses, Almada é o sexto com valor de renda mais elevado do país (7,00 Euro/m2), sendo superado apenas pelos concelhos de Lisboa, Cascais, Oeiras, Porto e Amadora.
Se até aqui a opinião das imobiliárias era unânime, o mesmo não se pode dizer sobre a influência da especulação imobiliária no aumento de bairros degradados em Almada.
“Não creio, não me parece que uma coisa esteja diretamente relacionada com a outra, os bairros sociais nascem, na minha opinião, por uma questão de pobreza e de falta de desenvolvimento e é aí que tem que se combater essas questões. Quem está num bairro social e hoje não pode pagar uma renda de 600 euros, há três anos continuava a não poder pagar uma renda de 400″, afirmou Vítor Martins.
Pelo contrário, Sónia Sá consegue estabelecer uma ligação entre os dois fenómenos: “Os ordenados não aumentam tanto como o preço das casas, tanto do arrendamento como para venda, portanto estamos a falar que de há cinco anos para cá aumentou cerca de 33% e os ordenados não aumentaram tanto. Um t1, por exemplo, para arrendar são cerca de 400 euros e as pessoas recebem o ordenado mínimo, como é que conseguem fazer face ao pagamento de rendas e tudo o resto que uma família precisa? Eu penso que sim, que tudo isso aumentou para os bairros mais degradados”.
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