Em declarações à agência Lusa, Vítor Poças referiu que “os incêndios de 2017 agravaram muito a situação de escassez de matéria-prima que já se vinha a fazer sentir há bastante tempo”, o que o leva a traçar um cenário pouco animador para o setor.
“Muito provavelmente, algumas empresas com menor capacidade financeira encerrarão, outras poderão eventualmente passar a prestar serviços de serragem”, considerou, acrescentando que “o número de trabalhadores certamente diminuirá”.
Por outro lado, segundo o responsável, “com o aumento da importação de matéria-prima, o valor acrescentado nacional do setor sofrerá uma redução drástica”.
“As exportações diminuirão, a balança comercial tenderá a agravar-se”, lamentou.
Vítor Poças explicou que a falta de matéria-prima afeta diretamente “o corte e abate dos pinheiros, a logística do pinho, a primeira transformação do pinho (serrações e fábricas de painéis), a transformação de produtos ou subprodutos de pinho noutros produtos de valor acrescentado e o fabrico de produtos especiais de pinho”.
Na sua opinião, “no curto prazo, a indústria de serração não vai ter madeira suficiente” para laborar.
“Há que equacionar soluções para a falta de matéria-prima nas serrações, que podem passar pela deslocalização da produção nacional, pela importação de madeira, enquanto a floresta portuguesa é reestruturada e cresce”, defendeu.
Em caso de necessidade, “estas soluções deverão ter um caráter transitório, até que a floresta portuguesa retome os níveis de produção necessários”, acrescentou.
O dirigente da AIMMP lembrou que o objetivo inicial da criação e ampliação de parques de madeira “passava pela valorização da elevada quantidade de madeira ardida em 2017, enquanto matéria-prima relevante para as fileiras florestais nacionais”.
O que se pretendia era “garantir o melhor aproveitamento possível da madeira queimada com diâmetros que permitem a sua utilização nas indústrias de primeira transformação, tendo em conta a nobreza dessa madeira enquanto matéria-prima de qualidade e de valor acrescentado para uso diferenciado em indústrias de segunda transformação”, como carpintarias e mobiliário.
Pretendia-se também “contribuir para o cumprimento de medidas de proteção fitossanitária impostas no âmbito do controlo do nemátodo da madeira de pinheiro e de outros agentes bióticos nocivos, que determinam a necessidade de promover o abate das coníferas hospedeiras com sintomas de declínio, onde se incluem as árvores ardidas”, acrescentou.
No entanto, segundo Vítor Poças, “os objetivos não foram cumpridos” e a fileira de madeira, concretamente a indústria de primeira transformação, “viu agravada a situação que já se fazia sentir antes dos incêndios, de escassez de matéria-prima, vivendo atualmente uma situação que se pode considerar dramática ao nível do abastecimento”.
No seu entender, o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural deve considerar elegível “a madeira parqueada que cumpra apenas um dos requisitos (preço garantido ao produtor ou preço mínimo a garantir à porta da fábrica)”.
Isto porque “as empresas que recebem madeira à porta da fábrica não conseguem, regra geral, os dados (quantidade e valor) do produtor florestal que possibilitariam a elegibilidade dessa madeira”, explicou.
O dirigente associativo lembrou que este facto “prejudica um conjunto significativo de empresas que se propuseram armazenar madeira queimada e que contavam ser ajudadas neste processo”.
Comentários