Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, em Lisboa, o deputado social-democrata Duarte Marques afirmou que este relatório, divulgado na segunda-feira, “vem confirmar tudo aquilo” para que o PSD tinha “chamado a atenção”, no qual se inserem “as tristes declarações do ministro da Administração Interna, que passou para os autarcas a responsabilidade por aquilo que aconteceu”.
O deputado lembrou que, “na altura, o PSD denunciou que parte dos meios aéreos pesados estavam fechados num hangar no norte do país quando deviam estar a atuar”, que “o Governo não tinha feito a sua parte na coordenação dos meios, e o Governo na altura acusou os municípios de não terem feito o seu trabalho, em particular o de Mação, na prevenção e no apoio aos bombeiros”.
Agora, o Observatório Técnico Independente refere que “os meios aéreos pesados que deviam ter estado no ataque inicial não estavam no terreno”, critica a “coordenação operacional do fogo” e “elogia a forma como o concelho de Mação, em particular, preparou o terreno para ajudar nos fogos, e a forma como as aldeias e as comunidades souberam defender-se”, destacou o social-democrata, apontando que estas conclusões vão ao encontro do que o PSD tinha dito na altura.
“No fundo, o que este relatório vem dizer que tudo o que o senhor ministro estava errado, era injusto e, sobretudo, era incorreto”, assinalou Duarte Marques, apontando que “tudo o que o Governo disse era mentira” e era “de muito baixo nível para quem são os responsáveis políticos do país”.
“Mais uma vez Eduardo Cabrita agiu mal, tentou dissipar a poeira sobre o seu mandato, culpando os outros, e mais uma vez, mais tarde, de forma independente, de forma técnica e construtiva, há um observatório que não lhe vem dar razão, que vem sim contrariar aquilo que foi a propaganda do Governo”, criticou.
Duarte Marques acusou igualmente o Governo “não fazer o seu trabalho” e ainda “tentar, de forma cobarde, culpar os outros por aquilo que é a sua responsabilidade”.
Por isso, o PSD manifestou a sua “solidariedade para com os autarcas de Mação e de Vila de Rei, vem pedir explicações ao Governo sobre esta matéria” e espera que “o Governo peça desculpa às populações por, depois de 2017, ter voltado a falhar na proteção das pessoas e no combate aos incêndios, sobretudo quando é sua responsabilidade que os meios estejam conforme o planeado no terreno”.
Notando que “o Governo vem à Assembleia na próxima semana apresentar o Plano de Gestão de Fogos Rurais”, o social-democrata espera que essa seja uma oportunidade para o executivo “se justificar, pedir desculpa ou comentar este relatório”.
“Até lá, vamos esperar por uma reação, quer do ministro, quer do primeiro-ministro porque, mais uma vez, há um relatório independente da Assembleia da República que desmente o Governo, que responsabiliza diretamente o ministro da Administração Interna e até iliba as autarquias, que até acabam por ser elogiadas”.
O relatório de avaliação do incêndio de Fundada, que ocorreu em julho de 2019 em Vila de Rei (Castelo Branco) e Mação (Santarém), considera que, na fase mais crítica de combate, foi “francamente notada” a falta de meios aéreos.
O relatório do Observatório Técnico Independente, hoje divulgado, incidiu naquele que foi o maior de todos os incêndios ocorridos em 2019, com uma área ardida estimada em 9.249 hectares (cerca de 22% da área total ardida o ano passado, que foi perto de 42.000 hectares), e também o que se destacou pela relevância dos impactos nos povoamentos florestais atingidos e na agricultura.
No combate ao incêndio, os técnicos concluem que “a mobilização de meios aéreos acabou por não corresponder à fase de maior necessidade”, estimando-se que “nas primeiras 16 horas do incêndio a área afetada foi cerca de 65% do total da área ardida deste incêndio, que durou três dias a ficar dominado e cinco dias até ser extinto”.
“Na fase mais crítica a falta de disponibilidade destes meios foi francamente notada”, sublinha.
O Observatório reconhece que no concelho de Mação existe, desde 1990, “um esforço que se pode considerar como exemplar a nível nacional, no sentido de uma prevenção geral do território”.
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