Cerca de 400 manifestantes, incluindo mulheres, tomaram as ruas de Kochi, capital do estado de Kerala, na Índia, esta quinta-feira, 3 de janeiro, em protesto contra o governo. Os grupos conservadores Hindus são apoiados pelo partido Bharatiya Janata Party, do primeiro-ministro Narendra Modi.
Vários pequenos negócios fecharam depois dos grupos conservadores apelarem a uma paralisação no estado. A maioria dos autocarros estava sem circular e os taxistas recusavam-se a transportar passageiros com receio de serem atacados, descreve a Reuters.
Em conferência de imprensa, o chefe do governo de Kerala, Pinarayi Vijayan, afirmou que os protestantes já destruíram sete veículos da polícia, 79 autocarros e atacaram 39 membros das forças de segurança e de órgãos de comunicação social, principalmente mulheres.
"Há muita violência em todo o estado", lamentou Pinarayi Vijayan, defendendo que o governo tem a responsabilidade de implementar a decisão histórica do Supremo Tribunal.
Uma questão de fé ou de igualdade de género?
Na origem destes protestos está o facto de duas mulheres, com cerca de 40 anos, terem, esta quarta-feira, com o apoio do governo e acompanhadas pela polícia, entrado no templo de Sabarimala, desafiando uma proibição centenária.
A maioria dos templos Hindus não autoriza a entrada de mulheres durante o período menstrual, mas Sabarimala era um dos raros a proibir a sua entrada entre a puberdade e a menopausa. Assim, a tradição local proíbe mulheres com idade para ser menstruadas — entre os 10 e os 50 anos — de entrar no templo, considerando que isso viola o espaço sagrado.
Estas duas mulheres foram as primeiras a fazê-lo no estado de Kerala, depois de o Supremo Tribunal ter levantado a proibição.
Em setembro último, o Supremo Tribunal ordenou o fim desta proibição, mas o templo de Sabarimala, que atrai milhões de devotos todos os anos, recusou obedecer, tendo as tentativas de várias mulheres de entrar no templo sido frustradas por centenas de crentes.
Nas primeiras horas desta quarta-feira, 2 de janeiro, duas mulheres conseguiram fazê-lo, com o apoio do governo.
Os partidos da oposição em Kerala consideraram o ato uma "traição" e uma "conspiração" do governo, apelando a protestos, que se seguiram de imediato.
Escreve a Reuters que uma mulher polícia foi atacada e molestada por cinco manifestantes num dos distritos próximos de Kochi. Num distrito a sul do estado, segundo as autoridades, um manifestante foi apedrejado e morto.
"Prendemos mais de 600 pessoas na quarta-feira em Kochi e em quatro outros distritos, e levámos cerca de 300 em prisão preventiva", informou o Inspetor-geral da polícia de Kochi, Vijay Sakhare.
A polícia está preparada para eventuais motins, mas os protestos esta quinta-feira têm sido pacíficos.
A entrada no templo por estas duas mulheres aconteceu um dia depois de milhares de mulheres formaram um cordão de vários quilómetros em Kerala para demonstrar o seu apoio à igualdade de género. A iniciativa "muro de mulheres" contou também o apoio do governo.
Mas o que uns consideram uma luta pela igualdade de género, outros vêm como um desrespeito pela fé. Numa entrevista, esta terça-feira, o primeiro-ministro Narendra Modi considerou que a proibição é uma questão de crença religiosa e não de igualdade de género, por exemplo.
A visita polémica ao templo
Detalha a Reuters que as duas mulheres abordaram a polícia depois de uma tentativa frustrada de entrar no templo Hindu a 24 de dezembro. Como resultado, os oficiais fizeram rondas de reconhecimento ao local para determinar a melhor altura para o transporte.
Durante mais de uma semana as mulheres estiveram debaixo de proteção policial numa localização desconhecida, até para as suas famílias.
Na quarta-feira, 2 de janeiro, ainda de madrugada, a polícia levou as duas mulheres ao templo numa ambulância para evitar chamar a atenção. É comum existirem ambulâncias no exterior do templo por causa dos peregrinos.
Depois de fazerem as suas orações, as mulheres misturaram-se com a multidão e saíram, acompanhadas de quatro polícias à paisana.
Assim que se soube da visita das duas mulheres o sacerdote do templo encerrou o espaço para rituais de purificação.
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