De acordo com as autoridades indonésias, o tsunami pode ter sido provocado por um aumento repentino da maré, numa combinação entre uma lua nova com uma avalanche no fundo do mar após a erupção do Anak Krakatoa (o 'filho do Krakatoa'), que forma uma pequena ilha no Estreito de Sunda, entre as ilhas de Java e Sumatra no arquipélago da Indonésia. Mas, num primeiro momento, chegou a ser confundido com uma subida de maré pelas autoridades indonésias.
"A combinação provocou um tsunami repentino que atingiu a costa", segundo o porta-voz da Agência Indonésia de Gestão de Desastres, Sutopo Purwo Nugroho. "Se houve um erro a princípio, lamentamos", escreveu o mesmo responsável mais tarde no Twitter.
As erupções vulcânicas submarinas, que são relativamente incomuns, podem provocar tsunamis pelo deslocamento repentino de água ou deslizamentos em encostas, de acordo com o Centro Internacional de Informação sobre Tsunamis.
O Centro Indonésio de Vulcanologia e de Gestão de Riscos Geológicos informou que o Anak Krakatoa mostrava sinais de atividade intensa há uma semana. Um pouco antes das 16h00 (hora de Jakarta, 9h00 em Lisboa) aconteceu uma erupção de 13 minutos, que provocou uma coluna de cinzas de centenas de metros.
A Indonésia, uma das áreas mais propensas a sofrer catástrofes no planeta, fica no Círculo de Fogo do Pacífico, onde se encontram placas tectónicas e que registam grande parte das erupções vulcânicas e terremotos do planeta.
O país sofre com frequência terremotos violentos, o mais recente deles na cidade de Palu, na ilha Célebes, onde milhares de pessoas morreram vítimas de um tremor de terra e posterior tsunami.
Em 2004, um tsunami provocado por um terremoto no fundo do mar de 9,3 na escala de Richter na costa da Sumatra, Indonésia, provocou a morte de 220 mil pessoas em vários países do Oceano Índico, 168 mil delas na Indonésia.
A fúria de um jovem vulcão
Anak Krakatoa é uma pequena ilha vulcânica que surgiu no oceano em 1928, meio século depois da letal erupção do vulcão Krakatoa. É um dos 127 vulcões ativos da Indonésia e há cerca de 10 anos que está sob estreita vigilância.
Naquela ocasião, em 1883, uma coluna de cinzas, pedra e fumo foi expelida a mais de 20 km de altura, o que deixou a região no escuro e provocou um grande tsunami, com repercussões em todo o mundo. A catástrofe provocou então mais de 36.000 mortos. No decurso desta erupção, o Anak Krakatoa iniciou a sua vida debaixo d'água, até sua cratera emergir, tornando-se uma pequena ilha vulcânica, cuja cratera alcança agora uma altitude de 300 metros acima do nível do mar.
O Anak Krakatoa, que significa "Filho de Krakatoa" em indonésio, encontra-se em "estado de atividade eruptiva semiperpétua" desde o seu nascimento e cresce com as erupções que ocorrem a cada dois ou três anos, explicou à AFP o vulcanólogo Ray Cas, da Universidade de Monash, Austrália. "A maioria das erupções são relativamente pequenas na escala das erupções explosivas."
Este vulcão tem estado particularmente ativo desde junho passado, e volta e meia lança cinzas para o alto. Em outubro, um barco turístico quase foi atingido pela lava expelida.
O episódio deste sábado parece ter sido uma erupção explosiva relativamente pequena, indicou o especialista, mas pode ter sido desencadeada ou coincidir com um evento subaquático, como um deslizamento de terras ou terremoto, que provocou o tsunami fatal.
Embora ninguém viva naquela ilha, o vulcão é um destino popular entre os turistas e importante objeto de estudo para os vulcanólogos. O Anak Krakatoa faz parte do Parque Nacional de Ujung Kulo, parte do património natural da UNESCO pela sua "beleza natural e flora e fauna muito diversificadas, que refletem uma evolução permanente de processos geológicos".
Quando o Krakatoa entrou em erupção em 27 de agosto de 1883, lançou cinzas a mais de 20 quilómetros de altura numa série de explosões muito potentes, que chegaram a ser ouvidas na Austrália e, inclusive, a até 4,5 mil km de distância, perto das ilhas Maurício.
Devido à grande quantidade de cinzas lançada, a região ficou às escuras por dois dias. No ano seguinte à erupção, e devido à poeira, os amanheceres e entardeceres de todo o mundo foram espetaculares. Também por este motivo, o clima foi alterado por anos.
O tsunami causado por aquela erupção matou mais de 36 mil pessoas e é considerado um dos piores desastres naturais do mundo.
A Indonésia, um arquipélago de 17 mil ilhas com cerca de 130 vulcões ativos, está localizada no Círculo de Fogo do Pacífico, uma área de forte atividade sísmica.
Os efeitos de uma onda gigante
Neste sábado, centenas de edifícios foram danificados pela onda gigante, que atingiu praias do sul da ilha de Sumatra e do extremo oeste de Java às 21h30 locais.
"O número total de mortos chega 222 pessoas, temos 843 feridos e 28 pessoas desaparecidas", afirmou o porta-voz, ao divulgar um balanço atualizado. A contagem anterior situava-se em pelo menos 168 mortos.
As equipas de emergência continuam à procura de sobreviventes entre os escombros.
Um vídeo que circula pelas redes sociais mostra o momento em que a onda gigantesca atinge um espetáculo do grupo de música pop "Seventeen". Os integrantes da banda correm desesperados do palco, enquanto a onda chega aos espetadores. Numa mensagem no Instagram, o vocalista do grupo, Riefian Fajarsyah, anunciou, sem conter as lágrimas, as mortes do baixista e do empresário que organizava a digressão.
Imagens exibidas por um canal de televisão mostram a onda na praia de Carita, um popular destino turístico da costa oeste de Java: na passagem, o fenómeno deixa um rasto de destruição, com pedaços de telhados, madeira e árvores derrubadas.
Em Carita, Muhammad Bintang, de 15 anos, viu a aproximação da onda. "Chegamos às 21h00 para as férias e a água chegou logo de seguida. Ficou completamente escuro e não havia energia elétrica", disse o adolescente.
Na província de Lampung, do outro lado do estreito, Lutfi al Rasyid, 23 anos, contou à AFP como fugiu da praia de Kalianda. "Não consegui ligar a mota e saí a correr. Rezei e corri o mais rápido que consegui".
[Notícia atualizada às 16:20]
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