A Organização Mundial de Saúde (OMS) informou na quinta-feira que cinco países da região europeia — França, Irlanda, Países Baixos, Suécia e Reino Unido – registaram aumentos de casos de infeção invasiva pela bactéria estreptococos do Grupo A (iGAS na sigla em inglês) e, em alguns casos, escarlatina.

Segundo a OMS, alguns desses países registaram ainda um aumento do número de mortes relacionadas com iGAS, nomeadamente o Reino Unido, que registou, em Inglaterra, até oito de dezembro, 13 mortes de menores de 15 anos nos sete dias após o diagnóstico.

O que é esta bactéria?

A Streptococcus pyogenes do tipo A, ou Strep A, é uma bactéria bastante comum, altamente infecciosa e uma das maiores responsáveis pelas amigdalites agudas, sobretudo em crianças, faringites e infeções cutâneas. A escarlatina também surge na sequência da infeção com esta bactéria.

O que está a fazer soar o alarme?

As infeções por estreptococos do grupo A geralmente afetam a população, especialmente pediátrica, durante os meses de inverno e início da primavera. A infeção é geralmente não invasiva (faringite, impetigo e escarlatina), sendo raras as formas mais graves da doença.

No entanto, vários países europeus registaram aumentos de casos de infeção invasiva — o que é um cenário raro neste tipo de infeções e que acontece quando a bactéria ultrapassa o nosso sistema imunitário e consegue “invadir” as nossas defesas, o que pode, em casos extremos, levar à morte. Há registo de casos em França, Irlanda, Países Baixos, Suécia e também em Espanha, onde, inclusive, já morreram duas crianças, mas é o Reino Unido, até ao momento, o epicentro da preocupação.

Os óbitos são ainda assim uma minoria, mas foram o suficiente para fazer soar os alarmes. Ao The Guardian, Susan Hopkins, conselheira da Health Security Agency e especialista em saúde pública, refere que não há provas de que esteja a circular uma nova estirpe e atribui o aumento da incidência a um aumento de circulação de bactérias devido ao maior convívio social, após o fim das restrições de combate à pandemia de Covid-19.

Os países afetados e o Centro Europeu de Controlo e Prevenção das Doenças referem também que, até ao momento, não há evidência de que esteja a circular uma nova estirpe bacteriana, nem que tenha ocorrido um aumento de resistência antibiótica ao agente.

No entanto, as notícias têm levado a uma corrida aos antibióticos no Reino Unido.

Quais são os sinais de alerta a que os pais devem estar atentos?

Os principais sintomas associados a esta infeção bacteriana são febre persistente, dores musculares, dores de garganta, amígdalas inflamadas, dor ao engolir, dificuldades respiratórias, erupções na pele ou língua avermelhada e inchada, também conhecida por 'língua de morango'.

Na forma mais grave de infeção a escarlatina pode surgir como sintoma.

A escarlatina, uma doença predominantemente infantil, geralmente acompanha uma infecção estreptocócica da faringe; menos comummente, resulta de infeções estreptocócicas em outros locais como a pele.

Como se transmite?

Tiago Correia, investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, explica ao Expresso que a transmissão desta bactéria se faz "através das gotículas respiratórias e do contacto direto com as lesões cutâneas”.

A presença da bactéria é identificável através de análises clínicas.

Como se trata?

O tratamento é feito através de  antibióticos. Nos casos mais graves pode haver necessidade de existir algum tipo de vigilância e acompanhamento médico.

Qual é o cenário em Portugal?

Numa nota emitida hoje, a DGS refere que “tem acompanhado a evolução da situação internacional, tendo circulado, junto dos profissionais de saúde, através da rede das autoridades de saúde e das unidades (públicas e privadas) de prestação de cuidados de saúde, informação sobre a necessidade da deteção precoce de casos de infeção por estreptococos do Grupo A e sobre o seguimento dos protocolos clínicos em vigor”.

No entanto, a autoridade de saúde diz que “até à data não foram reportados casos em Portugal com perfil semelhante aos reportados nos países afetados”.