"Eu não devo nada ao engenheiro Sócrates. Sejamos claros quanto a isso", respondeu Fernando Teixeira dos Santos ao deputado do PSD Duarte Marques no final da audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD).
"Não falo com o engenheiro Sócrates há seis anos. E praticamente estivemos de relações cortadas desde o dia 06 de abril [de 2011], que foi o dia de pedido de ajuda [externa]", acrescentou o ex-ministro das Finanças.
O atual presidente do banco EuroBic revelou que depois de sair do Governo, o ex-primeiro ministro "fez uma abordagem 'vamos um para cada lado, escusamos de estar zangados'", mas que só se cruzou com Sócrates "uma vez, num jantar promovido pelo Jornal de Notícias no Porto, em que ele foi apresentar o seu livro".
"Foi a única vez desde que saí do Governo que eu me cruzei com o engenheiro Sócrates. Falámos nesse período meia dúzia de vezes ao telefone. Quando ele regressou de Paris e tinha um programa em que intervinha e comentava na televisão, telefonou-me para perguntar a minha opinião sobre isso", revelou Teixeira dos Santos.
O ex-ministro de Sócrates acrescentou que "desde o dia 23 de outubro [de 2013], que foi o dia em que ele lançou o livro dele aqui em Lisboa, fiz-lhe um telefonema e nunca mais lhe falei desde aí".
Na audição de hoje, Fernando Teixeira dos Santos reiterou o que tinha dito na fase de instrução na Operação Marquês, afirmando novamente que José Sócrates o tinha alertado para as repercussões políticas da escolha de Armando Vara para administrador da CGD.
Teixeira dos Santos é uma das cinco testemunhas arroladas por José Sócrates para prestar esclarecimentos nesta fase do processo, apesar de ter sido uma das mais de 200 inquiridas pelo Ministério Público na fase de inquérito.
Sócrates está acusado de corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal qualificada.
Entre outras imputações, o Ministério Público acredita que o antigo primeiro-ministro recebeu cerca de 34 milhões de euros, entre 2006 e 2015, a troco de favorecimentos a interesses do ex-banqueiro Ricardo Salgado no Grupo Espírito Santos e na PT, bem como para garantir a concessão de financiamento da CGD ao empreendimento de luxo Vale do Lobo, no Algarve, e por favorecer negócios do Grupo Lena.
Entre os 28 arguidos estão ainda Carlos Santos Silva, Henrique Granadeiro, Zeinal Bava, Armando Vara, Bárbara Vara, Joaquim Barroca, Helder Bataglia, Rui Mão de Ferro e Gonçalo Ferreira, empresas do grupo Lena (Lena SGPS, LEC SGPS e LEC SA) e a sociedade Vale do Lobo Resort Turísticos de Luxo.
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