Mais de duzentas entidades e pessoas ligadas à igreja católica subscreveram uma carta dirigida aos bispos portugueses a pedir que tomem medidas imediatas de apoio às vítimas de abusos sexuais.
"Criar de imediato modos de viabilizar apoio e ajuda psicológica, psiquiátrica e espiritual às vítimas de abusos sexuais que o pretendam; instituir um momento solene e coletivo para pedir-lhes perdão; e criar uma nova comissão independente que prossiga o trabalho da anterior, recebendo denúncias e acompanhando casos", pode ler-se na “Carta aos bispos da Igreja em Portugal, sobre as mudanças que todos necessitamos de fazer”, que o 7Margens teve acesso e que antecede a assembleia extraordinária, marcada para esta sexta-feira, em Fátima.
A reunião em Fátima tem como objetivo refletir sobre o relatório divulgado em fevereiro pela Comissão Independente (CI) e espera-se que os bispos tomem ações concretas.
Os signatários da carta, que reúne várias instituições religiosas, propõem que a rede de comissões diocesanas relativas aos abusos se concentrem na "prevenção primária e na formação" e que os "bispos encobridores" de casos se "retirem de funções". Devem, igualmente, ser tomadas medidas relativas a "todos os abusadores que estejam atualmente ao serviço da igreja", lê-se ainda na carta.
Amanhã, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reúne-se em Fátima, em assembleia extraordinária para avaliar o relatório divulgado pela CI.
De acordo com a informação divulgada pelo 7Margens, o coordenador da CI, Pedro Strecht, fará a entrega da "lista nominal, por dioceses, dos alegados abusadores referenciados pelas vítimas".
A lista foi elaborada a partir dos dados obtidos pelo trabalho da Comissão e os dados recolhidos pelo Grupo de Investigação Histórica, que trabalhou nos arquivos das dioceses e congregações religiosas no último ano.
A Comissão Independente validou 512 dos 564 testemunhos recebidos – entre janeiro e outubro de 2022 -, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815. Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.
Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos no período compreendido entre 1950 e 2022, o espaço temporal que abrangeu o trabalho da comissão.
O sumário do relatório, contudo, revela que “os dados apurados nos arquivos eclesiásticos relativamente à incidência dos abusos sexuais devem ser entendidos como a ‘ponta do iceberg’”.
No próprio dia da apresentação do relatório, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reconheceu que os resultados não podem ser ignorados e admitiu estar-se perante uma situação “dramática”.
(notícia atualizada às 11h41)
*com Lusa
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