“É recomendável que se façam estudos imagiológicos do encéfalo antes e depois da quimioterapia para ver como é que os centros cerebrais de modelação da dor são afetados durante o tratamento com citostáticos [substância que se usa na quimioterapia que não é igual e depende do tipo de cancro] porque começamos a perceber que há muitas pessoas que têm neuropatia [lesão nos nervos] induzida por citostáticos”, descreveu a investigadora Isaura Tavares.
À Lusa, a também responsável pela formação de médicos no âmbito da Cátedra de Medicina da Dor da FMUP apontou que os efeitos secundários mais debilitantes associados à quimioterapia podem atingir até 68% dos doentes com cancro submetidos a tratamento, efeitos esses que “importa prevenir e mitigar”.
Dor, formigueiros, sensação de queimadura e de choques elétricos, sensibilidade a estímulos como calor, frio ou toque e alterações motoras são alguns dos efeitos secundários mais debilitantes associados à quimioterapia.
“Através do estudo percebeu-se que a lesão dos nervos periféricos provocada pela quimioterapia afeta significativamente o sistema nervoso central, nomeadamente o cérebro e a medula espinhal (…). Os nervos ficam doentes por terem sido tratados durante a quimioterapia e essa lesão à periferia, que está provada e é muito comum, vai afetar a forma como o sistema nervoso central responde”, explicou.
Até à data, “não existe forma de prevenir ou fazer cessar a dor neuropática”, ao contrário do que acontece com outros sintomas (como os vómitos), o que pode afetar negativamente a sobrevivência dos doentes com cancro que necessitam de quimioterapia.
Razão pela qual a equipa recomenda que os doentes façam exames de imagem antes de iniciarem os tratamentos, procedimento já aplicado em outros países.
“Estes exames permitirão identificar padrões de ativação do cérebro em resposta à quimioterapia. Ao perceber quais são esses padrões, seremos capazes de prever os doentes que estão em maior risco de vir a desenvolver neuropatia periférica”, disse Isaura Tavares.
A neuropatia periférica pode obrigar a reduzir a dose ou mesmo a interromper a quimioterapia devido aos efeitos secundários.
“Há doentes que não conseguem lavar as mãos à temperatura ambiente porque a água passa a ser dolorosa. Outros ficam em cadeira de rodas”, acrescentou a investigadora sobre efeitos que podem persistir mesmo para além do tratamento, de forma irreversível, resultando numa diminuição da qualidade de vida dos doentes e num aumento das despesas em saúde.
Isaura Tavares frisou a importância de testar “os citostáticos por si” porque não é possível fazer um grupo de controlo com humanos como aquele que fez em modelo animal, sendo uns tratados com citostáticos e outros não.
Ou seja, o futuro poderá passar pela estratificação dos doentes oncológicos com recurso a exames imagiológicos antes de iniciar a quimioterapia, à semelhança do que já se faz, por exemplo, em ortopedia.
A equipa da FMUP realizou estudos no Instituto de Investigaciones Biomédicas Alberto Sols da Universidade Autónoma de Madrid, em Espanha.
Além de Isaura Tavares, fazem parte da equipa investigadores e estudantes da FMUP como Rita Oliveira, Joana Oliveira, Carolina Bacalhau, Mário Cunha, Isabel Martins, Paula Serrão e José Tiago Costa Pereira.
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