“Uma nova família de microalgas de água doce” foi descoberta por “investigadores da Universidade de Coimbra (UC), com a colaboração da Universidade de Carlos em Praga, Universidade de Ostrava e Instituto de Biologia do Solo da Academia Checa das Ciências, na República Checa, e da Universidade de Ozarks, nos EUA, revela a UC numa nota enviada hoje à agência Lusa.
O estudo, que permitiu “a identificação e descrição desta nova família de microalgas de interesse comercial”, teve a duração de três anos e os resultados acabam de ser publicados na revista científica Journal of Phycology, refere a UC.
Denominada Neomonodaceae, esta nova linhagem de organismos, que pertence à classe Eustigmatophyceae, tem “interesse biotecnológico”, que “é reconhecido devido a algumas espécies serem ricas em antioxidantes, carotenóides e lípidos de valor nutricional e com interesse para biodiesel”, explica Raquel Amaral, primeira autora do artigo publicado no Journal of Phycology.
“À semelhança de outras famílias da mesma classe, os géneros de microalgas agora descobertos têm potencial para dar origem a compostos de interesse farmacêutico, cosmético ou para aquacultura”, exemplifica, citada pela UC, a investigadora.
“As microalgas são vistas como muito promissoras para a produção de compostos de valor biotecnológico porque são fáceis de cultivar e não requerem uso de terreno arável, embora ainda com custos elevados de produção”, sublinha Raquel Amaral.
Para esta descoberta, frisa ainda a investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), foi fundamental “o estudo de estirpes de microalgas mantidas em cultura na Algoteca de Coimbra (ACOI)”, considerada uma das maiores coleções de microalgas de água doce do mundo.
“Sete estirpes da ACOI contribuem para esta nova linhagem genética de microalgas e constituem dois dos novos géneros”, esclarece Raquel Amaral, indicando que a um deles foi “atribuído o nome científico Munda, designação romana do rio Mondego, em homenagem ao rio de onde provém a maioria destas algas”.
O estudo, que faz parte da tese de doutoramento da investigadora, consistiu na “observação morfológica e genética para a determinação filogenética de 10 novas estirpes, o que resultou na descoberta de três novos géneros desta classe”.
As espécies incluídas na nova família são “organismos unicelulares, com uma forma alongada, a maioria com um ‘pé’ por onde se fixa ao substrato”, descreve Raquel Amaral, adiantando que, “além das diferenças genéticas que originam a sua segregação das outras famílias de Eustigmatophyceae, distinguem-se pela ausência de uma estrutura celular intitulada pirenoide”.
No estudo das microalgas, os métodos de base genética “são cruciais, dado que são organismos microscópicos e muitas vezes espécies diferentes podem ser muito parecidas”, assinala ainda a investigadora da FCTUC.
A Algoteca de Coimbra, instalada no Departamento de Ciências da Vida da FCTUC, é coordenada pela cientista Lília Santos, uma das autoras deste estudo e orientadora da tese de doutoramento de Raquel Amaral, que teve financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
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