O chefe da missão de resgate da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), Juan Matias Gil, manifestou um “grande alívio” com a decisão das autoridades italianas no final de um dia longo, em que especialistas do ministério italiano da Saúde regressaram a bordo para estudar o estado de saúde das mais de duas centenas de pessoas resgatadas há quinze dias no Mediterrâneo central e que ainda se encontravam retidas no navio.
O Geo Barents atracou no porto de Catânia no passado dia 5 com 572 imigrantes a bordo, mas inicialmente apenas os considerados “vulneráveis” desembarcaram, essencialmente mulheres, menores e doentes, enquanto outros 215 tiveram de permanecer no navio.
O novo governo italiano de ultradireita liderado por Giorgia Meloni começou por autorizar o desembarque dos migrantes que tivessem sido avaliados medicamente como estando numa situação de vulnerabilidade, dando ordem para que os restantes permanecessem no navio e fossem depois devolvidos às águas internacionais.
A MSF pediu, no entanto, uma segunda avaliação médica das pessoas ainda a bordo, todos os homens, provenientes do Paquistão, Bangladesh, Egito e Síria, devido ao surgimento de um surto de sarna e à generalização de ataques de pânico e outros problemas mentais entre os migrantes ainda no navio.
Os funcionários do ministério da Saúde regressaram esta manhã ao navio e, após quase doze horas de exames, decidiram permitir o desembarque de todos os restantes migrantes retidos.
O chefe de missão da MSF anunciou o desembarque iminente dos migrantes ainda que não soubesse para onde seriam transferidos. Disse ainda que a decisão das autoridades sanitárias italianas foi recebida com alegria e lágrimas pelos migrantes que permaneciam no barco.
Esta madrugada, outro navio humanitário, o Rise Above, com migrantes resgatados no Mediterrâneo, atracou na Sicília após receber “luz verde” das autoridades italianas, de acordo com a organização não governamental (ONG) alemã Mission Lifeline.
O Rise Above é um navio pequeno, em comparação com três outras embarcações da ONG, com cerca de 500 pessoas a bordo, que se mantêm ao largo das costas de Itália, que mantém restrições severas ou até proibições ao desembarque.
Depois de semanas no mar, o navio de bandeira alemã Humanity 1, da ONG SOS Humanity, foi autorizado a atracar em Catania este domingo e a desembarcar 144 pessoas, principalmente mulheres e menores. A bordo, permanecem 35 migrantes adultos do sexo masculino aos quais a Itália não permitiu a entrada no país, numa decisão semelhante à que tinha tomado em relaçãol ao Geo Barents.
Outro navio ainda, o Ocean Viking, pertencente à ONG europeia SOS Méditerranée, também de bandeira norueguesa, não teve autorização para atracar em qualquer porto italiano e mantinha-se esta manhã ao largo de Siracusa, segundo a agência de notícias France-Presse.
“A situação a bordo do Ocean Viking tornou-se insuportável para 234 sobreviventes. Após 17 dias a bordo, a saúde mental dos migrantes no navio está gravemente afetada: muitos sofrem de insónias e apresentam sinais significativos de ansiedade e depressão”, alertou a ONG na segunda-feira.
No mesmo dia, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) instaram os governos europeus a garantirem o desembarque seguro e a partilha de responsabilidades que perimita o desembarque das centenas de migrantes resgatados no Mediterrâneo e retidos em navios pertencentes a diversas ONG.
A maioria das 88.000 pessoas já chegadas a Itália este ano por via marítima foram resgatadas pela Guarda Costeira italiana e outros navios de resgate fretados pelo Estado italiano ou chegaram de forma autónoma, revelam o ACNUR e a OIM no comunicado.
O novo Governo da Itália prometeu adotar uma linha dura contra os migrantes. O novo ministro do Interior, Matteo Piantedosi, afirmou que os migrantes resgatados no mar são de responsabilidade do Estado sob cuja bandeira os navios navegam.
Pelo menos 1.337 pessoas desapareceram nas rotas de migração do Mediterrâneo Central este ano, de acordo com o Projeto de Migrantes Desaparecidos da OIM.
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