Numa declaração escrita à agência Lusa, Nuno Caiado admitiu que “existe uma grande expectativa em muita gente sobre o encontro das vítimas com Francisco e que este faça uma declaração significativa”.
Sobre a possibilidade de uma tomada de posição pública do conjunto de subscritores da carta durante a estadia do Papa em Portugal para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), entre 02 e 06 de agosto, Nuno Caiado disse desconhecer.
Embora sem constar do programa oficial do Papa, um encontro com jovens já foi admitido como possível pela hierarquia da Igreja. Já esta semana, Matteo Bruni, diretor da sala de imprensa da Santa Sé, afirmou aos jornalistas que um eventual encontro entre o pontífice e as vítimas será divulgado sempre “depois” de ter acontecido, “se existir”.
Na carta enviada à CEP em novembro de 2021, mais de duas centenas de católicos, entre eles Nuno Caiado, defenderam que aquele órgão deveria “tomar a iniciativa de organizar uma investigação independente sobre os crimes de abuso sexual na Igreja”.
O documento, assinado por figuras como a escritora Alice Vieira, o deputado José Manuel Pureza, o jornalista Jorge Wemans ou o ex-presidente da Cáritas, Eugénio Fonseca, era perentório: “Se queremos manter um diálogo com a sociedade a que pertencemos e que servimos, não existe alternativa!”.
“Só a verdade nos permite um relacionamento livre e transparente com aqueles a quem a nossa fé nos convida a servir. Por isso, acreditamos que só uma investigação profunda e independente pode confirmar essa eventual excecionalidade da Igreja em Portugal. Se essa iniciativa não for tomada, receamos que a inação da CEP seja vista pela sociedade portuguesa como encobrimento”, advertiam.
Poucos dias depois, o pedopsiquiatra Pedro Strecht era nomeado pela CEP como coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja.
Esta comissão iniciou o seu trabalho no dia 11 de janeiro de 2022 e apresentou resultados em fevereiro deste ano, anunciou a validação de 512 testemunhos de alegados casos de abuso em Portugal, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas. Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
No relatório, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais “devem ser entendidos como a ‘ponta do iceberg’” deste fenómeno. Na sequência destes resultados, algumas dioceses afastaram cautelarmente sacerdotes do ministério.
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