Da espécie 'Parabuteo unicinctus', foi comprada com seis meses a um criador e ensinada em Quarteira, no Algarve, viajando no último mês para o Porto para passar a estar três horas por dia no hotel The Yeatman e ser a solução, depois de várias alternativas testadas serem contornadas pelas gaivotas.
Nuno Silva, diretor de alojamento do hotel, descreveu à Lusa os esforços anteriores para tentar evitar os ataques e que passaram por “sistemas de som, redes, mochos de plástico colocados no telhado e, por último, pássaros negros em papel, simbolizando águias, que a inteligência das gaivotas, pouco depois, contornou”.
Distribuído por nove pisos na encosta de Vila Nova de Gaia, com várias esplanadas e uma piscina, depressa a administração do hotel percebeu que "tinha ali um problema, nomeadamente de manhã, na altura dos pequenos-almoços”, mas a “solução tardou em ser encontrada”, contou o responsável.
Um contacto com a empresa TFalcon, da ilha da Madeira, abriu a porta à atual solução, uma águia-de-Harris, que começou por chamar-se Nemo, mas que acabou batizada de Lúcifer, porque o “nome anterior não assustava tanto”, contou, entre sorrisos, o falcoeiro Eduardo Esteves, enquanto exibia a ave que, pelo seu pequeno porte, é comummente confundida com um falcão.
Três horas por dia, sete dias por semana, a ave de rapina surge entre as 08:00 e as 08:30 na esplanada do nono piso do hotel para acabar com a presença das gaivotas, como comprovou a Lusa no momento em que Lúcifer, no braço do falcoeiro, chegou ao seu local, onde estava uma gaivota atenta às mesas, e que imediatamente abandonou o local.
Alternar os horários entre a manhã e a tarde, “para passar às gaivotas a impressão de que a águia está sempre presente”, explicou à Lusa o falcoeiro, é uma aposta de futuro num projeto com outra questão essencial: o controlo da agressividade da ave.
Com o peso controlado diariamente e, no melhor cenário, pesando sempre entre as 650 e 660 gramas, Lúcifer tem, dessa forma, o seu instinto de caçar controlado pela ação do falcoeiro, que a alimenta na luva com frequência durante a vigilância.
“Se o peso estiver controlado, não há o risco de atacar as gaivotas”, disse Eduardo Esteves, exemplificando logo depois com o assobio que fez a ave voar do parapeito da esplanada para a luva para comer mais um pedaço de carne.
Em funções desde 01 de agosto, a “ação da águia alterou por completo o cenário, que até então era de 10 gaivotas a rondar aquele espaço, passando para apenas uma”, contou o responsável do hotel.
Em face do “grau de satisfação da administração do hotel e dos clientes”, Nuno Silva admitiu à Lusa que o horário “poderá a vir a ser alargado”, passando a abranger, também, a “zona da piscina” onde é frequente as “gaivotas também aparecerem, e não apenas para beber água”.
Tiago Cardoso, proprietário da TFalcon, disse à Lusa que o trabalho “irá decorrer mês a mês” e que “não foi feito nenhum contrato formal”.
Por forma a rentabilizar as funções da águia, está a ser negociada a vigilância de um novo espaço de restauração no Porto, desta vez para afastar os pombos da esplanada.
Em 2015, as Câmaras do Porto, Matosinhos e de Vila Nova de Gaia colocaram em curso medidas para travar a proliferação de gaivotas naquelas cidades, tendo sido proibida a alimentação de aves, para além da colocação de pinos em edifícios e falcões no rio Douro.
Em dezembro de 2011, o relatório de controlo da população de gaivotas na Área Metropolitana do Porto concluiu que a forte presença de aves aquáticas só seria atenuada com a “eliminação ou redução acentuada de alimento”.
*Por Jorge Fonseca (texto) e Estela Silva (fotos), da agência Lusa
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