“Para a Síria, isto é uma crise dentro de uma crise. Tivemos choques económicos, [pandemia de] covid-19 e estamos agora nas profundezas do inverno, com nevões a assolar as áreas afetadas”, disse Dhanapala, citado num comunicado do ACNUR.
“Trata-se de um número enorme e chega a uma população que já sofre deslocações em massa”, afirmou, referindo-se à guerra civil na Síria iniciada em 2011.
O nordeste da Síria foi atingido pelos sismos de magnitude 7,8 e 7,5 registados na vizinha Turquia na segunda-feira, que causaram mais de 21 mil mortos nos dois países.
Com 3.377 mortos já confirmados, a ajuda às populações na Síria tem sido afetada pela guerra civil, com algumas zonas do país sob controlo de forças que combatem o Governo de Damasco, incluindo o noroeste.
A guerra civil já tinha provocado 6,8 milhões de deslocados internos antes dos sismos.
O Presidente sírio, Bashar al-Assad, que tem o apoio da Rússia e do Irão na guerra civil, apareceu hoje em público pela primeira vez desde os sismos, ao visitar um hospital em Aleppo, uma das zonas mais destruídas pelo conflito e agora pelos terramotos.
Algumas horas depois, o regime de Al-Assad anunciou que aceitará a entrega de ajuda internacional nas zonas afetadas controladas por rebeldes, com supervisão da Cruz Vermelha Internacional e do Crescente Vermelho Sírio, e com a ajuda da ONU.
O anúncio seguiu-se também a um apelo para um cessar-fogo imediato feito pelo Alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, para facilitar a ajuda às vítimas dos terramotos.
No ponto de situação que fez a partir de Damasco durante uma conferência de imprensa da ONU em Genebra, o representante do ACNUR na Síria disse também esperar que “um acordo com o Governo permita o acesso rápido e regular” às áreas do noroeste do país.
“O acesso tem sido muito dificultado pelos danos”, contou também Sivanka Dhanapala.
O representante do ACNUR referiu que os chamados “fornecimentos transversais”, de áreas governamentais para o noroeste do país, já tinham ocorrido antes dos sismos para serem distribuídos a partir de armazéns.
Disse que o ACNUR tem vindo a apressar a chegada de ajuda às zonas mais afetadas para assegurar que os centros de acolhimento “disponham de instalações adequadas” e artigos indispensáveis, incluindo tendas, cobertores térmicos e vestuário de inverno.
“Temos vindo a distribuí-los desde o primeiro dia, e ontem à noite [quinta-feira] distribuímos 9.440 ‘kits'”, referiu.
Entre os afetados pelos sismos, Dhanapala destacou “os idosos, as pessoas com deficiência e as crianças”.
“Há algumas crianças que foram separadas dos seus pais”, disse.
Dhanapala contou que a segurança dos edifícios é de tal forma dramática que alguns dos funcionários do ACNUR têm dormido fora das suas casas por estarem preocupados com os danos estruturais procurados pelos sismos.
“Isto é apenas um microcosmo do que está a acontecer em todas as áreas afetadas”, notou.
“Tudo isto, é claro, tem impacto no acesso à ajuda. As estradas foram danificadas e isso dificulta-nos a tentativa de chegar às pessoas. Tem sido muito, muito difícil”, reconheceu.
Dhanapala disse ainda que após a fase inicial de socorro, o ACNUR vai concentrar-se durante as próximas oito a 12 semanas, no apoio a meios de subsistência, instalação de ‘kits’ de abrigo de emergência e pequenas reparações em habitações danificadas.
Disse que irá, na próxima semana, para Aleppo, Hama e Latakia, onde o ACNUR tem ‘stocks’ preposicionados de 30.000 artigos de socorro de base e 20.000 tendas.
“Para fazer eco das palavras do secretário-geral da ONU [António Guterres], falando ontem [quinta-feira] à noite: trata-se aqui de pessoas. Isto é tudo o que importa”, acrescentou.
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