Nascido no Senegal, Mamadou Ba tem sido uma das vozes mais sonantes e um dos rostos mais visíveis — e também mais atacados — da luta antirracista em Portugal.
Em comunicado, a Front Line Defenders, organização irlandesa de defesa dos direitos humanos com duas décadas de existência, justifica a distinção com a dedicação de Mamadou Ba à luta antirracista.
Alvo de ataques atribuídos à extrema-direita e ao movimento neonazi, Mamadou Ba recebeu, no início de 2020, uma carta com uma ameaça de morte e uma bala.
Em fevereiro deste ano, uma petição pedia a sua expulsão de Portugal e, desde junho, a sede do SOS Racismo, em Lisboa, já foi vandalizada duas vezes com cruzes suásticas e insultos racistas.
A distinção “aumenta visibilidade da causa” e “significa que a luta antirracista em Portugal não está isolada e encontra eco fora de portas”, destacou Mamadou Ba, em resposta a uma pergunta da Lusa, na conferência de imprensa ‘online’ realizada esta tarde para apresentar os premiados deste ano.
Além de Mamadou Ba, outros cinco defensores dos direitos humanos foram distinguidos: a brasileira Camila Moradia, que presta assistência a mulheres nas favelas do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro; Aleh Hrableuski e Siarhei Drazdouski, por defenderem as pessoas com deficiência na Bielorrússia; Aminata FabbaChair, que luta pelo direito à terra na Serra Leoa; Sami e Sameeha Huraini, que escoltam crianças para a escola, tentando protegê-las dos ataques israelitas na Cisjordânia, Palestina; e a organização ambiental Mother Nature (Camboja).
Em comum, todos “enfrentaram várias formas de perseguição, intimidação e ameaças” e alguns foram mesmo violentados, detidos e acusados, menciona a Front Line Defenders.
Todos “responderam com dignidade, elegância e determinação”, demonstrando “uma coragem incrível”, assinala.
A distinção — diz Mamadou Ba – internacionaliza a luta antirracista em Portugal, aumentando a responsabilidade dos ativistas antirracistas, mas também colocando Portugal “sob os holofotes” mundiais.
Influência é o resultado que o ativista que promete “nunca ceder” espera desta distinção, apelando à comunidade internacional para “aumentar a pressão sobre o Estado português, no sentido de reconhecer que o racismo existe e tem consequências dramáticas na vida das pessoas”.
A cerimónia de entrega dos prémios — que geralmente decorre na câmara municipal de Dublin, a capital irlandesa, mas este ano vai realizar-se ‘online’, devido às restrições impostas pela pandemia — vai acontecer no dia 9 de dezembro, na véspera do Dia do Direitos Humanos.
Em Portugal, a SOS Racismo vai assinalar a distinção na sexta-feira, no Palácio Galveias, com a presença da diplomata Ana Gomes.
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