“Não deixem que o socialismo vos arruine a vida”, disse Milei, na sede da Comunidade de Madrid (governo regional), depois de receber uma condecoração da presidente autonómica, Isabel Díaz Ayuso, do Partido Popular (PP, direita).
Milei, cujas críticas e insultos das últimas semanas ao primeiro-ministro de Espanha, o socialista Pedro Sánchez, estão no centro de uma crise diplomática entre os dois países, disse hoje querer alertar os espanhóis para “o dano e a decadência que causa o socialismo”.
“Os socialistas acreditam num monstro horrível, empobrecedor, chamado justiça social, uma ideia verdadeiramente aberrante”, afirmou Milei, antes de acrescentar que a justiça social é “profundamente injusta e profundamente violenta” porque “tira a uns e dá a outros”, obrigando ao pagamento de impostos.
Entre outras críticas ao socialismo, Javier Milei acrescentou que quando é aplicado de “maneira pura” recorre até ao assassinato, como já aconteceu no passado, referindo-se ao comunismo.
Além desta comparação de governos europeus democráticos liderados por partidos socialistas com o comunismo, Milei estabeleceu também um paralelo com antigos executivos da Argentina, que disse terem aplicado o socialismo no país, empobrecendo-o e criando uma população com mais de 50% de pobres.
“A saída é o liberalismo”, defendeu Milei, que só referiu uma vez o nome de Sánchez – quando considerou que não entendeu o funcionamento da economia -, mas fez uma outra referência ao primeiro-ministro espanhol, sem o citar, e às suspeitas de corrupção que envolvem a mulher.
“[O economista Claude Frédéric] Bastiat falava das porosas mãos dos políticos. Talvez não sejam as do político diretamente, talvez seja a de um irmão, a da companheira… E quem quiser entender, que entenda”, afirmou.
Esta é a segunda viagem de Javier Milei a Espanha e, como a anterior, está envolta em polémica por não prever encontros com o Governo ou com o Rei Felipe VI.
Milei esteve em Madrid no final de maio para participar numa convenção do partido de extrema-direita Vox, sem ter pedido audiências com as autoridades de Espanha, e fez declarações que o Governo considerou insultuosas, tendo retirado a embaixadora de Buenos Aires.
O Presidente argentino chamou corrupta à mulher de Sánchez em Madrid e nas semanas seguintes dirigiu críticas a ministros e chamou cobarde e mentiroso ao próprio líder do Governo espanhol.
Milei tem dito que ele próprio tem sido também insultado por ministros espanhóis, que o acusam de negacionismo e autoritarismo ou sugeriram que consome drogas.
Nesta segunda visita a Madrid, não pediu audiências ao Governo e aquela que solicitou a Felipe VI não se vai realizar, com a Casa Real a lembrar que o executivo tem a tutela exclusiva da política de Negócios Estrangeiros.
O encontro hoje com a presidente da Comunidade de Madrid foi, assim, a única agenda institucional de Milei em Espanha.
O Governo espanhol acusou Isabel Díaz Ayuso de deslealdade com as instituições espanholas e até de violar uma lei que rege as relações externas do país e que obriga os governos regionais a comunicar ao executivo nacional as condecorações e receções oficiais a líderes estrangeiros.
A direção nacional do PP – que criticou as declarações que Milei fez em maio em Madrid, mas considerou a reação do Governo espanhol exagerada – disse hoje que a condecoração e a receção feita por Ayuso é “algo lógico”.
A direção nacional dos populares disse desejar que haja normalidade nas relações de Espanha com a Argentina e criticou que ministros espanhóis tenham também eles insultado um Presidente democraticamente eleito de outro país.
O PP revelou que Milei não pediu qualquer audiência com o presidente do partido, Alberto Núñez Feijóo, que até agora não se pronunciou sobre esta visita.
Javier Milei recebeu hoje a Medalha Internacional da Comunidade de Madrid como reconhecimento dos “vínculos históricos, culturais, linguísticos e económicos” da Argentina com a região.
Num discurso na cerimónia de condecoração, Ayuso – que os socialistas e o Governo espanhol acusam de ter feito hoje apenas uma provocação — elogiou as políticas de Milei e a “coragem” e o “não conformismo com aquilo que existe” do Presidente da Argentina, e reivindicou “medidas liberais” para os dois países.
Milei foi recebido e saudado por algumas centenas de pessoas que se concentraram em frente da sede da Comunidade de Madrid e vai ainda esta noite receber um prémio de uma associação.
No sábado, segue para a Alemanha, onde tem prevista uma “curta visita de trabalho” com o chanceler Olaf Scholz, viajando depois para a República Checa, onde será recebido pelo chefe do Governo, Petr Fiala.
Comentários