O presidente da Câmara Municipal de Mira, vereadores, deputados municipais e executivos das quatro juntas de freguesia eleitos pelo PSD, PS e MAR (independentes) reuniram com o secretário de Estado do Ambiente para discutir soluções para o problema de sobrecarga do sistema de tratamento de efluentes, que tem provocado situações pontuais de contaminação de cursos de água e solos na fronteira entre os dois concelhos.
Em causa estão sucessivas descargas de efluentes, sem o devido tratamento, da Estação Elevatória das Cochadas (EECT4), situada na freguesia da Tocha (Cantanhede), propriedade da empresa Águas do Centro Litoral (AdCL), que acabam por afetar o concelho vizinho.
Uma das empresas mais afetadas por estas descargas é a Moinhos do Arraial, situada em Casal de São Tomé (Mira). O proprietário da empresa de cultivo de agrião, Rogério Guímaro, tem acusado repetidamente a AdCL de efetuar descargas poluentes "através de um tubo de grandes dimensões" que faz ligação à ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) das Cochadas, situada no limite da Tocha (concelho de Cantanhede), a montante da sua exploração agrícola.
O caso ganhou dimensão nacional e diversos partidos com assento parlamentar fizeram recomendações ao Governo para que resolva a situação. Depois de ter visitado o local, em junho, o secretário de Estado apresentou aos autarcas de Mira uma proposta que recupera a solução inicial, que passa pela construção, nas Cochadas, de uma nova Estação de Tratamento de Águas Residuais, sendo depois os efluentes encaminhados através de Mira e Vagos.
Esta solução desagrada aos autarcas de Mira, que temem que as descargas poluentes continuem devido ao subdimensionamento do sistema hídrico do concelho, que não está preparado para receber os efluentes do vizinho do sul.
"Face às propostas apresentadas, houve total unanimidade entre os autarcas de todos os quadrantes políticos, deixando bem claro ao senhor secretário de Estado que Mira não aceitará nenhuma solução que não passe pelo tratamento e rejeição dos efluentes de Cantanhede no próprio concelho de Cantanhede, não utilizando, em nenhum caso, o sistema hídrico de Mira", garante uma nota divulgada hoje pela autarquia presidida por Raul Almeida.
O autarca garante que "o município de Mira está disposto a lançar mãos de todos os meios para impedir esta situação". E lembra que aderiu ao sistema intermunicipal de tratamento de efluentes em 1997. A adesão de Cantanhede ocorreu em 2009, com aprovação de todos os acionistas.
Os autarcas de Mira propõem ao Governo, em alternativa, duas soluções. A primeira passa pela construção de uma ETAR na zona da Vala de Levadios, praia da Tocha, com rejeição de efluentes tratados no mar. A segunda projeta um "bypass" entre Cantanhede e Aveiro, com um novo sistema que atravesse a mancha florestal, longe dos centros urbanos e explorações agrícolas, e que esteja dimensionado para encaminhar em segurança a totalidade dos efluentes do concelho gandarês.
"Ficou ainda expressa, de forma unânime por todas as forças políticas e movimentos, a preocupação e a necessidade de serem encontradas soluções intermédias imediatas que acabem de vez com a rejeição de efluentes no sistema hídrico de Mira até que seja encontrada solução final permanente", reforçam os autarcas de Mira.
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