“Eu quero estar de bem com o CDS, eu ainda não percebi se o CDS está de bem comigo”, afirmou Manuel Monteiro, numa conferência organizada pela Tendência Esperança e Movimento (TEM) do CDS-PP.
Desafiado por um militante democrata-cristão da Batalha a dizer quando voltará a filiar-se no partido que liderou entre 1992 e 1998, Manuel Monteiro admitiu ainda ter “imensas dúvidas” a esse respeito.
“Mas também não tenho nenhum comboio à espera nem horários a cumprir (…) Eu estou de bem com o CDS-PP e, portanto, se isso tiver de acontecer acontecerá com naturalidade. Se não tiver de acontecer, não será por isso que, se me convidarem, deixarei de fazer campanha pelo CDS”, assegurou.
Dizendo concordar com a maioria das ideias do partido, Monteiro salientou ter “o maior respeito pela presidente do CDS-PP”, Assunção Cristas, - cuja presença foi anunciada no encerramento da iniciativa pela TEM, mas acabou por não constar da sua agenda oficial – com quem esteve na quinta-feira, depois de a ter convidado para dar uma aula na cadeira que leciona na Universidade Lusíada, no Porto.
Monteiro, que saiu do CDS-PP para fundar um partido, a Nova Democracia, revelou que, na rua, as pessoas continuaram sempre a associá-lo aos democratas-cristãos.
“Eu não preciso de ser militante do CDS para, sempre que o CDS queira, eu esteja disponível para ajudar no que eu puder e desde que isso não cause nem ciúmes, nem engulhos, nem perturbações que não fazem sentido”, disse.
Na sua intervenção, subordinada ao tema “Portugal e o Mundo: Como nos reafirmamos?”, o antigo presidente centrista defendeu que se vive “um momento ímpar na vida política portuguesa”.
“Pode permitir que o CDS se catapulte em termos eleitorais, mas desde que seja para fazer diferença e não apenas para eleger mais umas quantas pessoas”, alertou.
Manuel Monteiro apontou um enviesamento ao sistema político português, salientando que “um regime que começa à esquerda e termina ao centro é um regime que lhe falta algo”.
“Houve uma época em que o CDS se afirmou claramente precisamente na ideia de que nenhum regime pode ser um regime estável se é coxo”, disse.
Afirmando-se como “uma pessoa de direita”, o antigo deputado referiu que hoje “há jovens que têm vergonha, receio, medo” de se assumirem como tal, o que considerou “profundamente grave e preocupante”.
Apontando a “crise de valores” como o principal problema do país, Monteiro considerou que esta deriva de um problema mais vasto no mundo ocidental e manifestou-se contra o que chamou uma “Europa de portas escancaradas”.
“Não tenho nada contra a emigração, mas atenção à ideia de que quem entra tem liberdade de ser exatamente como é. Amanhã serão a maioria na Europa e nós não teremos liberdade de sermos como somos”, alertou, lembrando que, no passado, os cristãos sempre tiveram como objetivo converter os que não partilhavam da sua religião.
Para o antigo líder do CDS-PP, atualmente os partidos, mesmo quando acreditam nestes princípios, “têm medo de os afirmar, convencidos que perdem voto”.
“Não perdem”, defendeu.
No encontro organizado pela TEM, liderada por Abel Matos Santos, que defende abertamente o regresso de Monteiro ao CDS, participaram várias personalidades, entre elas os economistas João Ferreira do Amaral, os professores universitários Nuno Garoupa e Paulo Otero, além de Francisco Rodrigues dos Santos, presidente da Juventude Popular.
Líder dos centristas entre 1992 e 1998, Manuel Monteiro saiu do CDS em rutura com Paulo Portas, para fundar o Partido da Nova Democracia, em 2003, extinto em 2010 pelo Tribunal Constitucional.
Candidato da Nova Democracia em Braga nas eleições legislativas de 2009, Monteiro obteve apenas 0,7% dos votos e a sucessão de desaires ditou o fim do partido que disputava o espaço da direita ao CDS.
Comentários