“É com profundo pesar e imensa tristeza que a Escola de Mulheres comunica a morte de Fernanda Lapa, diretora artística desta companhia desde a sua fundação, em 1995”, pode ler-se no comunicado.

"Actriz, Encenadora, Directora Artística da Escola de Mulheres e uma eterna apaixonada pelo Teatro. Desde cedo que Fernanda Lapa soube que o Teatro seria a sua vida. Começou a encenar muito nova, num meio dominado por homens e tem um vasto currículo nos palcos, na televisão e no cinema", recorda a companhia.

O seu percurso artístico iniciou-se no T.A.U.L. (Teatro dos Alunos Universitários de Lisboa) em 1962. Fernanda Lapa foi fundadora da Casa da Comédia, onde se estreou como actriz, sob a direção de Fernando Amado, na peça de Almada Negreiros "Deseja-se Mulher", em 1963. É com essa mesma peça que se estreia como encenadora, também na Casa da Comédia, em 1972.

Em 1979 obtém uma bolsa da Secretaria de Estado da Cultura, que a levou a frequentar a Escola Superior de Encenação de Varsóvia, onde se diplomou em Encenação.

Autora da mensagem do Dia Mundial do Teatro deste ano, a convite da Sociedade Portuguesa de Autores, Lapa defendeu que se exija um plano de desenvolvimento teatral com futuro e que se aposte na força do teatro para as transformações que a atualidade exige.

“Viva o teatro, os seus agentes e o seu público”, escreveu a atriz, encenadora e diretora da Escola de Mulheres, num texto em que explicava por que motivo se escolhe ser dramaturgo.

“Esta opção traz implícitas muitas consequências e uma delas é que o homem de teatro necessita do público de uma maneira carnal, pois o teatro é, em si mesmo, a expressão artística mais carnal de todas, uma expressão em que o verbo ou a sugestão ou a situação emocional elaborada pelo autor, tem de ser encarnada por um ator, que cada vez que a peça está no palco a diz ao vivo para um público vivo”, sustentava.

A fundação da Escola de Mulheres surgiu, em 1995, para “romper com o estado de coisas a que estavam remetidas as mulheres no teatro português”.

“Ao longo dos séculos, a voz das Mulheres foi silenciada em várias áreas, e também na Cultura, e não vale a pena escamotear esta realidade. Sofremos, ainda, as sequelas dessas mordaças, embora muito se tenha avançado, a partir do 25 de Abril em Portugal, pela luta das forças progressistas, mas sobretudo das próprias Mulheres e das suas Organizações”, afirmou.

Várias vezes premiada, Fernanda Lapa coordenou as comemorações do centenário de Bernardo Santareno, que se assinala este ano, de quem a Escola de Mulheres vai levar ao palco, em novembro, a obra “O Punho”, com versão cénica da atriz e encenadora.

"Em 2020, Fernanda Lapa quis voltar a celebrar o Autor e o seu carinho enorme pelos marginalizados, categoria em que ele próprio se inseria. Cumprindo a sua vontade, a Escola de Mulheres estreará a 19 de Novembro a versão cénica de Fernanda Lapa da obra", é referido.

Nomeações e prémios:

  • Nomeada para os "Sete de Ouro" em 1984, 1990 e 1991
  • "Sete de Ouro" para a melhor encenação em 1992 e Prémio da Crítica para a Encenação em 1992 com "Medeia é Bom Rapaz"
  • Nomeada para os "Globos de Ouro" (Prémio SIC na modalidade de Teatro) em 1996
  • Prémio Especial "Procópio" em 1999
  • Globo de Ouro – Melhor Espectáculo – “A Mais Velha Profissão” - 2005
  • Medalha de Ouro de Mérito Cultural – 2005

As reações à morte de Fernanda Lapa

Ministra da Cultura lamenta morte de “figura ímpar” do teatro português

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou hoje a morte da atriz e encenadora Fernanda Lapa, que classificou como uma “figura ímpar da história do teatro português nos últimos 50 anos”.

Numa publicação na rede social Twitter, o Ministério da Cultura salientou que Fernanda Lapa deu, através do seu trabalho, “oportunidade, palco e voz às mulheres na representação”.

Marcelo evoca "voz interventiva" na cultura e na vida cívica

Numa mensagem publicada no ‘site’ da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa enviou sentidas condolências à família de Fernanda Lapa, que morreu hoje aos 77 anos, em Cascais, onde estava hospitalizada.

O chefe de Estado assinalou que Fernanda Lapa teve uma “longa e ativa carreira como atriz, encenadora, professora e militante teatral, inconformada" com o, citando palavras da própria, "‘papel de subalternidade a que a mulher tem sido reduzida no teatro português’”.

Marcelo Rebelo de Sousa assinalou o “importante projeto como a Casa da Comédia, com Fernando Amado nos anos 1960”, e a “companhia Escola de Mulheres, de que foi uma das fundadoras, em 1995”.

“Um dos seus legados, com a Escola de Mulheres, é o trabalho constante sobre textos de ou sobre mulheres, desde os clássicos da Antiguidade (como Medeia) até autoras contemporâneas como Caryl Churchill ou Paula Vogel”, destacou.

Nos últimos tempos, sublinhou ainda o Presidente da República, coordenou também “as comemorações do centenário de Bernardo Santareno, de quem foi aluna e amiga”, defendendo que Fernanda Lapa “nunca deixou de ser uma voz interventiva nas questões do teatro, da cultura e da intervenção cívica”.

Ferro Rodrigues assinala legado para a afirmação do papel da mulher

“Recebo, com muita tristeza, a notícia do falecimento de Fernanda Lapa. O percurso de Fernanda Lapa confunde-se com o do teatro português contemporâneo, de que era uma mais figuras mais conceituadas e queridas do público”, declarou Eduardo Ferro Rodrigues, numa mensagem enviada à agência Lusa.

Ferro Rodrigues defendeu que o legado de Fernanda Lapa é, "sobretudo, o seu enorme contributo para a afirmação do papel da mulher na sociedade portuguesa, e para a desconstrução da imagem estereotipada e idealizada da mulher no Teatro”, assinalando que “até se ouvir a sua voz, quase nenhum texto de autoria feminina era representado e poucas eram as encenadoras em atividade”.

Costa recorda lutadora que "nunca calou a voz" na defesa das mulheres

"Fernanda Lapa foi sempre uma lutadora, que respirou Liberdade, Teatro e Cultura a vida inteira. Nunca calou a voz para defender o papel das mulheres, contra preconceitos e estereótipos. Vamos sentir a sua falta", escreveu o primeiro-ministro, numa mensagem publicada na rede social Twitter.

António Costa recordou que em janeiro, no Teatro São Luiz, em Lisboa, agradeceu à atriz, militante comunista, tal como era o pai de António Costa, a homenagem que prestou ao escritor Orlando da Costa (pai do primeiro-ministro), "ao encenar a peça ‘Sem Flores Nem Coroas’, nunca antes representada".

"Também por isso, muito obrigado, Fernanda Lapa. À família, amigos e membros da companhia Escola de Mulheres, os meus sentimentos”, lê-se.

Figuras públicas e entidades lamentam morte da encenadora e atriz

Várias figuras públicas e entidades, na sua maioria ligadas ao Teatro, usaram hoje as redes sociais para lamentarem a morte, aos 77 anos, da atriz e encenadora Fernanda Lapa, fundadora da Casa da Comédia e da Escola de Mulheres.

Fernanda Lapa morreu hoje, aos 77 anos, em Cascais, onde estava hospitalizada, anunciou a Escola de Mulheres, companhia que dirigiu desde a sua fundação, em 1995.

Ao longo da manhã de hoje, vários atores lamentaram a morte da encenadora e atriz, partilhando fotografias de Fernanda Lapa e pequenos textos.

O ator Nuno Lopes lamentou os “dias cada vez mais tristes”), enquanto a atriz e encenadora Susana Arrais agradeceu a Lapa por tudo o que fez por si “como aluna, como atriz, como mulher em Portugal”.

A também atriz Alexandra Lencastre saudou a “querida maravilhosa talentosa generosa Fernanda”, que fará “tanta falta”, enquanto Diogo Infante enalteceu o “vulto incontornável da cena teatral em Portugal”.

Também ator, o diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues, considera que se perdeu “uma extraordinária artista e um exemplo de integridade”.

Já o realizador Vicente Alves do Ó afirmou que “o país perdeu um tesouro” e o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, fala em “talento e integridade”.

Com “profunda tristeza, reconhecimento e admiração pela pessoa, personalidade e labor artístico de Fernanda Lapa”, a equipa da Companhia de Teatro de Braga partilhou que foi “com total incredulidade” que leu a notícia da morte da encenadora e atriz.

“Será com mais vontade e determinação, agora também em sua Memória, que a CTB continuará a comemorar Bernardo Santareno. Está neste momento a decorrer uma ação nesse contexto (hoje mesmo terá lugar uma sessão). Trata-se da Leitura Encenada do ‘Crime da Aldeia Velha’, com 20 participantes e dirigida pelo Philippe Leroux. Será um momento de Homenagem e saudade à Memória de Fernanda Lapa a um dos seus últimos projetos: a Comemoração Nacional do Centenário do nascimento de Bernardo Santareno”, lê-se na nota da CTB.

A Plateia – Profissionais de Artes Cénicas manifesta “profundo pesar” pela morte de Fernanda Lapa, “figura incontornável do teatro português, imagem de luta e resistência e de profundo amor e dedicação à arte teatral”.

“Esteve sempre, até ao fim, dedicada à procura de melhores e mais justas condições de trabalho na cultura”, salienta.

O recém criado Movimento pelos Profissionais das Artes Performativas considera que não se pode “deixar passar em branco a triste notícia, para o setor da Cultura em Portugal, da morte, de quem muito contribuiu para o Teatro em Portugal, como a atriz, encenadora e até hoje diretora artística da companhia de teatro Escola de Mulheres – Oficina de Teatro”.

Já a Academia Portuguesa de Cinema (APC) tem dificuldade em “resumir em poucas linhas o trabalho de uma vida tão marcante no panorama artístico português”.

“Ao longo da sua vasta carreira em teatro, cinema e televisão, foram demasiadas as obras nas quais participou para poder enumerá-las”, lê-se na nota partilhada pela associação.

A APC salienta que com a criação da Escolha de Mulheres, companhia que fundou em 1995 e da qual era diretora artística, “deu um passo determinante para uma maior representatividade e igualdade do trabalho de mulheres em Teatro”.

A Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) de Lisboa, lamentando “profundamente” a morte de Fernanda Lapa, fala num “nome maior do teatro português”.