Kadaré morreu de ataque cardíaco, informou o hospital de Tirana à France Presse.

O escritor chegou ao hospital "sem sinais de vida" e os médicos ainda lhe fizeram uma massagem cardíaca, mas "morreu por volta das 08:40 (07:40 em Lisboa)”, disse a mesma fonte hospitalar.

Com várias obras publicadas em Portugal, Kadaré foi distinguido com diversos prémios, como o Man Booker International Prize, Reino Unido, em 2005, e o Prémio Príncipe das Astúrias, Espanha, em 2015. Foi nomeado 15 vezes para o Prémio Nobel da Literatura.

Ismaïl Kadaré, "etnógrafo sarcástico", romancista e poeta pautou a obra "entre o grotesco e o épico", explorando os mitos e a História da Albânia para dissecar os mecanismos de um mal universal - o totalitarismo -, destaca a Agência France Presse.

A Albânia viveu durante décadas sob a ditadura de Enver Hoxha (1908-1985), um dos regimes mais fechados do mundo.

"O inferno comunista, como qualquer outro inferno, é sufocante", disse o escritor à France Presse numa das últimas entrevistas, em outubro do ano passado.

"Mas, na literatura, isso transforma-se numa força vital, uma força que nos ajuda a sobreviver, a bater de frente com a ditadura", acrescentava o escritor na mesma entrevista.

Kadaré disse ainda em 2023 que a literatura lhe deu "tudo o que tinha".

"A literatura foi o sentido da minha vida, deu-me a coragem para resistir, a felicidade, a esperança de ultrapassar tudo", explicou a France Presse na casa onde vivia na capital albanesa.

"Pertenço a um dos povos dos Balcãs, os albaneses, que perderam a Europa duas vezes: no século XV, durante a ocupação otomana, e depois no século XX, durante o período comunista", explicava o escritor ao jornal francês Le Monde, em janeiro de 2015.

A obra, que inclui cerca de 50 romances, ensaios, contos, poemas e peças de teatro traduzidos em 40 línguas, foi em parte escrita durante o regime de Enver Hoxha.

Em Portugal estão editadas vários livros de Kadaré, entre os quais, "O General do Exército Morto", "O Acidente", "O Nicho da Vergonha", "Um Jantar a Mais", "A Pirâmide" e "O Palácio dos Sonhos".

Para Ismaïl Kadaré, o "dever do escritor é permitir-se à liberdade total e estar ao serviço da liberdade".

Kadaré nasceu em Girokaster, sul da Albânia, em 1936, estudou em Tirana e na União Soviética tendo publicado a obra "O General do Exército Morto" em 1963, o primeiro livro do escritor albanês a ser traduzido no estrangeiro.