A existência do projeto, inicialmente noticiada pelo jornal A Nação, foi confirmada hoje à agência Lusa pelo presidente da Câmara Municipal da Praia, Óscar Santos, adiantando que a proposta da autarquia será submetida para apreciação por parte da sociedade.
Segundo Óscar Santos, a ideia é dar melhor localização e visibilidade ao memorial, atualmente situado na zona do Taiti, bairro da Várzea, próximo da biblioteca nacional e a poucos metros do Palácio do Governo.
“Existe este sentimento de uma estátua que está escondida num sítio que não é central”, disse Óscar Santos, considerando que a questão é saber “se é possível ou não a sua transladação para um sítio mais central, sendo um herói nacional, para ter mais visibilidade”.
O autarca sublinhou que nada está ainda decidido e que a questão será discutida “sem complexos e sem partidarização”.
“Vamos discutir desapaixonadamente para ver se as pessoas concordam ou não. Mas ainda não há uma decisão definitiva”, clarificou Óscar Santos.
Na reportagem, A Nação indicava como local proposto para acolher o memorial, que inclui uma estátua em bronze de Amílcar Cabral e um museu, a rotunda do “Homem de Pedra”, numa das principais avenidas da cidade da Praia e a menos de 500 metros do atual local.
Questionado sobre essa possibilidade, o presidente da câmara da Praia disse que ainda não há uma decisão sobre o local.
“A questão essencial que deve ser discutida é a localização da estátua. Essa é a questão de fundo: está bem ou não localizada? Pode ser colocada num sítio melhor, com mais visibilidade? Sim ou não? O resto, de sítio menor ou maior, isso é questão de os engenheiros verem e trabalharem os projetos”, disse, considerando que não é preciso pânico nem alarme.
A proposta de mudança do memorial é contestada pela a Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria (ACOLP), uma das organizações a quem a autarquia já apresentou o projeto.
O presidente da ACOLP, Carlos Reis, disse à agência Lusa que recebeu um “convite” do presidente da câmara da Praia para tomar uma posição sobre a proposta, adiantando que esta foi “analisada longamente” em assembleia-geral realizada no fim de semana.
Para a ACOLP, a proposta é “despropositada e destituída de qualquer justificação legítima” e arrisca “banalizar a figura história e simbólica, nacional, africana e mundial”, de Amílcar Cabral.
Carlos Reis enalteceu a “cortesia” do edil praiense em consultar a ACOLP, mas disse que o “perturba a ideia de transferência” do memorial de Cabral, sobretudo numa altura em que a zona circundante está a ser requalificada.
“A ideia é mesmo valorizar o espaço”, disse, indicando que a ACOLP é contra a mudança e irá transmitir essa sua “posição oficial” ao presidente da Câmara da Praia.
A ACOLP exortou as instituições cabo-verdianas, públicas e privadas, a “valorizarem e honrarem este importante espaço de memória”, sustentando que o significado histórico do memorial “ultrapassa o país” e tem inspirado Cabo Verde e da Guiné-Bissau.
A autarquia pediu igualmente uma posição sobre a matéria à Fundação Amílcar Cabral (FAC), presidida por Pedro Pires, antigo companheiro de luta de Cabral e ex-Presidente da República de Cabo Verde.
Contactado pela Lusa, Pedro Pires escusou-se a comentar o assunto, no entanto, em declarações citadas pelo jornal A Nação, o antigo chefe de Estado considerou que a proposta “não faz sentido”.
Assinalou, por outro lado, que existe um “certo sigilo” no tratamento da questão e considerou que “o mais razoável” seria que se dissesse “claramente” aos cabo-verdianos do que se trata.
O projeto para a transladação do memorial surge numa altura em que a Câmara da Praia está a requalificar o espaço circundante, com a construção de uma praça, mas Óscar Santos salientou que o que se pretende é a reorganização de toda a cidade da Praia.
“É normal que as pessoas, à partida, estejam contra, mas conhecendo todo o projeto provavelmente poderão mudar de ideia. É preciso conhecer o projeto na sua globalidade antes de ter uma opinião mais bem fundamentada”, pediu Óscar Santos.
O memorial Amílcar Cabral foi edificado pelo Governo de Cabo Verde, com cofinanciamento da China, e inaugurado em 2000 pelo então Presidente da República, António Mascarenhas Monteiro, por ocasião das comemorações do 25.º aniversário da independência de Cabo Verde.
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