Trata-se, segundo os promotores, de uma iniciativa piloto e, num território com problemas de cobertura de rede de todas as operadoras telefónicas, vão também ser colocados retransmissores próprios da rede sigFox para tornar o sistema mais viável.
A cabra de raça bravia Parda foi a primeira do rebanho de António Teixeira a receber a coleira com o dispositivo de GPS.
“Pode ser uma ajuda grande e pode ser uma coisa boa”, afirmou à agência Lusa o pastor de 39 anos, residente na aldeia Lamas, concelho de Ribeira de Pena, no distrito de Vila Real.
António Teixeira é pastor desde que se lembra. Disse que foi assim criado, que possui 200 cabras bravias e 10 vacas maronesas e que os seus dias são todos de cuidado com os animais.
A serra do Alvão é o seu local de trabalho e é por lá que às vezes as cabras se perdem. Podem adoecer, magoar-se, ser feridas por outros animais e adormecer e ficar para trás.
“Ou até numa necessidade em que a gente tenha que as deixar um pouco, com a coleira GPS já se consegue dar com elas rápido. Senão temos que andar muito tempo à procura delas. É vantajoso”, salientou.
Avelino Rego, criador ligado ao projeto, explicou que se trata de um sistema GPS, com uma autonomia estimada de seis meses a um ano, e que a cada 30 minutos emite um sinal que indica a localização do animal.
“Essa posição é enviada para um servidor central e ao qual os criadores, através de uma aplicação instalada nos seus telemóveis, podem aceder e perceber como os seus rebanhos se estão a movimentar na serra”, salientou.
Esta é, na sua opinião, uma ferramenta que pode facilitar o maneio animal.
Mas é também, frisou, importante para ajudar “a compreender o impacto que os animais têm pela sua passagem e permanência na serra”.
“Teremos os dados de onde andaram a pastar e podemos, depois, confrontar com o impacto que teve na vegetação e, com isso, conseguir de uma forma documentada melhor explicar à opinião pública o trabalho fundamental que estes rebanhos fazem na gestão da paisagem”, frisou.
Nesta fase piloto do projeto vão ser distribuídos 30 dispositivos por produtores dos concelhos com área na serra do Alvão: Ribeira de Pena, Vila Pouca de Aguiar, Mondim de Basto e Vila Real.
Este é, no entanto, um território onde a falta da cobertura de rede é um problema que tem grande impacto. “Mesmo nas aldeias não temos uma boa cobertura de rede. Se avançarmos para a serra essa cobertura de rede é residual”, referiu Avelino Rego.
Para ultrapassar o problema vão ser instalados retransmissores de rede sigFox ao longo da serra para, segundo salientou, se “ter um sinal que garanta a conectividade destes dispositivos que os animais transportam com a Internet”.
Avelino Rego adiantou que os retransmissores deverão estar a funcionar em duas semanas.
O projeto “Rebanhos + Clima Positivo” resulta de um consórcio que junta a associação AguiarFloresta, sediada em Vila Pouca de Aguiar, e a Associação Nacional de Criadores de Cabra Bravia (Ancabra), a Associação Nacional de Caprinicultores da Raça Serrana (Ancras) e a Associação de Criadores do Maronês.
Duarte Marques, da AguiarFloresta, afirmou que o projeto visa o recurso a rebanhos para uma melhor gestão e conservação das áreas naturais e, ao mesmo tempo, para ajudar a reduzir o risco de incêndios.
O objetivo é, frisou, “modernizar e melhorar as condições para o desenvolvimento da atividade”.
“Há bloqueios que fazem com que haja cada vez mais dificuldade em ter criadores na atividade e, havendo menos rebanhos, há menos intervenção no território, há menos gestão e há mais problemáticas como os incêndios”, frisou.
Para além das coleiras GPS, o projeto incide ainda em outros utensílios de apoio ao maneio como cercas, bebedouros, comedouros e na capacitação como, por exemplo, o curso de operacional de queima, que está a dar formação a 18 pastores e produtores, que ficarão credenciados para executarem as queimas.
O “Rebanhos +” procura também melhorar a rentabilidade da atividade e, nesse sentido, está a ser criado um “selo verde” que indica aos consumidores que a origem da carne está, segundo Duarte Marques, “numa cabra ou vaca que faz um trabalho positivo do ponto de vista ambiental e de redução de risco de incêndios”.
O projeto estende-se até ao início de 2022, tem um orçamento de 230 mil euros e é financiado pela Fundação “La Caixa”, no âmbito do programa “Promove Regiões Fronteiriças”.
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