O espaço Sopa no Bairro abriu há uma semana, por iniciativa do Grupo Social de Mediação (GSM), uma associação sem fins lucrativos que intervém junto de idosos de Campo de Ourique, através do apoio domiciliário. O Sopa no Bairro funciona como um café normal, aberto ao público, em que o cliente paga o preço de mercado (para os sócios do GSM é mais barato), porque é preciso “manter a sustentabilidade da associação”, explicou Conceição Pratas, assistente social e responsável pelo projeto.
No entanto, o seu principal objetivo é receber donativos sob a forma de legumes, de comerciantes ou de pessoas que tenham a mais, para fazer sopa e refeições que são distribuídas por habitantes carenciados.
Conceição Pratas conhece o bairro "desde sempre" e apresentou a ideia por considerar que Campo de Ourique, “pelo menos do lado de cá da Parada, está muito esquecido e tem muita pobreza escondida”.
Atualmente há 20 utentes a receber diariamente sopa, um número ainda pequeno para as ambições da associação, mas qualquer pessoa pode dirigir-se à associação e “fazer um pedido de avaliação de condição económica”.
“Se percebermos que a pessoa não tem condições económicas para pagar, não paga a sopa”, salientou a assistente social.
Os donativos começam a chegar, mas são precisos mais para alcançar mais gente.
Lívio Dutca trabalha numa loja de informática perto do espaço, ouviu falar no projeto e levou uma caixa com tomates e uma outra com batata-doce da estufa da mãe, em Santa Cruz, Torres Vedras. “É um projeto interessante, é bom para o bairro e ajuda”, disse, salientando que irá levar mais quando tiver oportunidade.
A Sopa no Bairro está também a desenvolver um projeto de colaboração com uma escola primária do bairro, em que uma turma de crianças pode votar na sopa que quer e ir comer àquele espaço uma vez por semana.
No entanto, pretende-se chegar “principalmente à população que está em casa”, que tem vergonha de ir buscar uma sopa ou que não consegue deslocar-se.
A população do bairro é sobretudo “muito idosa, muito carente de afetos, muito abandonada, com grande exclusão; precisa de companhia, sem pressas”, resumiu Conceição Pratas.
Este resumo é confirmado por Jaime Sacadura, de 87 anos, que foi campeão nacional de vela várias vezes, chegou a lugares de pódio em provas internacionais e agora, com a mulher acamada, precisa de ajuda.
“Venho aqui de vez em quando, porque é económico e tenho de ir a restaurantes. Estou sozinho em casa mais a minha mulher, a minha mulher está acamada e venho aqui desde que abriu. E como a dra. Conceição vai três vezes a minha casa por semana, dá-me lá apoio, cá estou com a minha presença dar-lhe apoio a ela para ver se consegue progredir com esta loja, porque faz muita falta”, afirmou, salientando que “o bairro é bonito, mas as pessoas já têm muita idade e precisam deste apoio”.
Ana Apolinário trabalha perto, é cliente pelo menos duas vezes por semana e já levou a amiga Maria Grazia, para experimentar. “Acho que é um projeto necessário para Campo de Ourique, para ajudar as pessoas que precisam, que muitas vezes a gente nem sabe. Quem precisa está ao nosso lado e não sabemos”, salientou.
A Sopa no Bairro funciona no número 114 da rua Tomás da Anunciação.
Comentários