• Marcelo Rebelo de Sousa

O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou hoje a morte do cantor e compositor Fausto Bordalo Dias e considerou que o seu legado musical se confunde com a própria história de Portugal.

Numa nota de pesar publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, Marcelo afirma que "recebeu com tristeza a notícia da morte de Fausto Bordalo Dias, que ao longo de décadas deixou um legado musical que se confunde com a própria história de Portugal".

"Fausto pertencia a uma constelação de músicos que traduziu para as canções de intervenção o sentimento do povo português, e é por isso inevitável associar o nome de Fausto aos nomes maiores da música portuguesa, como José Afonso, José Mário Branco ou Sérgio Godinho", acrescenta-se na mesma nota.

O chefe de Estado envia "as mais sentidas e afetuosas condolências" aos familiares e amigos de Fausto Bordalo Dias.

  • Luís Montenegro

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, lamentou hoje a morte do músico português Fausto Bodalo Dias, e considerou que “o contributo que deu à música e à portugalidade são eternos”.

“A música de Fausto Bordalo Dias encantou-nos durante décadas. É com profundo pesar que recebo a notícia da sua morte, que não significa o seu desaparecimento”, escreveu o primeiro-ministro na rede social X.

  • Paulo Rangel

O ministro dos Negócios Estrangeiros também reagiu à morte de Fausto Bordalo Dias na rede social X.

"Trouxe à música popular a cor e o imaginário do universalismo português. Onde dantes havia terra e raízes, passou a haver mar, naus e asas. A música popular desatou a navegar, navegar", pode ler-se.

  • Rui Pato

O guitarrista Rui Pato disse que o músico Fausto Bordalo Dias deixa uma marca singular na música portuguesa.

“Fausto deixou uma marca como poucos deixam”, declarou o médico de Coimbra que, a partir dos anos de 1960, acompanhou à viola José Afonso em vários dos seus espetáculos e na gravação de discos.

Para Rui de Melo Rocha Pato, Fausto, a par do seu amigo Zeca Afonso, ficará para a história como “grande referência” da música portuguesa dos séculos XX e XI, “pelo génio das suas composições”.

Rui Pato enalteceu a forma como o cantor e compositor, na década de 1980, “se distanciou até de um tipo de canção de protesto que estava a ser banalizada” em Portugal, alguns anos após a revolução do 25 de Abril de 1974.

“Nunca lidei pessoalmente com Fausto, mas sou um admirador fervoroso dele e da sua obra”, acrescentou. Na sua opinião, Fausto Bordalo Dias “foi o mais completo e original em tudo o que fez” na área musical e nas letras.

  • Dalila Rodrigues

A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, manifestou hoje “profundo pesar” pela morte do músico português Fausto Bordalo Dias, assinalando que a sua obra fica para sempre ligada à “oposição ao regime ditatorial português” e à “resistência contra o fascismo”.

“Fausto legou-nos uma das mais belas memórias de Abril, uma música sublime – ‘Por este rio acima/ Os barcos vão pintados/ De muitas pinturas’”, destacou a ministra.

Dalila Rodrigues lembrou que Fausto “foi um músico pioneiro e renovador, cujo legado artístico é reconhecido pela forma como cantou uma parte fundamental da História portuguesa”, tendo influenciado gerações de novos artistas.

  • Catarina Martins
  • EGEAC
  • Ana Gomes

Pedro Nuno Santos

"Em meu nome pessoal e do Partido Socialista, reconheço o guitarrista, o cantor, o compositor, o poeta, o cidadão atento e comprometido com as causas da cultura, manifestando o nosso profundo pesar pelo falecimento de Fausto Bordalo Dias, prestando-lhe homenagem e transmitindo à sua família e amigos as mais sentidas condolências", escreveu Pedro Nuno Santos no X.

  • Maria Rueff 
  • Pedro Abrunhosa

Nas redes sociais, o músico Pedro Abrunhosa chamou-lhe o “inventor de estéticas”, lamentando “o silêncio das rádios”, “os prémios que não ganhou” e “os festivais que não fez, porque a sua música não era quadrada”.

“Morreste-me, Fausto. Morreste a um país inteiro cego para a Música e surdo para a Poesia. Até sempre! E perdoa a nossa miséria”, partilhou Pedro Abrunhosa.

  • Pedro da Silva Martins

Pedro da Silva Martins, músico e compositor, cofundador dos Deolinda e Cara de Espelho, lembrou o dia em que agradeceu a Fausto Bordalo Dias a mestria artística: “Somos muito mais com o Fausto do que seríamos sem ele! Acho que muita gente partilha deste sentimento e é por isso que o Fausto nunca nos faltará”.

  • Pierre Aderne

Para o músico brasileiro Pierre Aderne, morreu “um dos maiores compositores, artistas da música de língua portuguesa”, enquanto a cantora Eugénia Melo e Castro, que fez coros em alguns dos álbuns do músico, escreveu no Facebook que “Fausto é o mais importante, o melhor autor/cantor/poeta e compositor da sua geração. Imortal”.

  • Alexandra Leitão

A deputada socialista Alexandra Leitão considerou que “sem Manuel Cargaleiro [escultor que morreu no domingo] e sem Fausto, Portugal ficou mais pobre”, enquanto o deputado do Livre Jorge Pinto escreveu: “Deixou-nos hoje um dos nomes maiores da música e cultura portuguesa dos últimos 50 anos”.

  • Pilar del Río

“A voz de Fausto ouvia-se em casa de José Saramago em Lanzarote ou em Lisboa. ‘Por este rio acima’ era uma forma de começar um dia de trabalho ou simplesmente de conviver”, partilhou Pilar del Río, tradutora, mulher do Nobel da Literatura e presidente da Fundação Saramago.

  • Sérgio Godinho

O cantor e escritor Sérgio Godinho lamentou hoje a morte de Fausto, considerando que o músico e compositor “inventou uma estética muito própria” o que faz dele “alguém muito identitário”.

“O desaparecimento do Fausto é um acontecimento muito triste embora infelizmente esperado”, disse o cantor e escritor à agência Lusa, admitindo saber que Fausto se encontrava doente.

“Era um grande criador, intérprete , criador de letras e músicas e criou um universo próprio, muito pessoal e muito personalizado. A gente consegue dizer aquela canção é do Fausto porque de facto ele tinha um carimbo”, frisou.

Para Sérgio Godinho, Fausto “deixou uma marca muito, muito forte na música portuguesa”. “Ele, de certo modo, inventou uma estética própria muito inspirada na música popular, na música de raiz, também e não só na popular portuguesa, e ele próprio seguiu essa cartilha que criou. Isso faz dele alguém muito identitário”.

Sérgio Godinho reiterou ainda que a “grande obra, a obra-prima” de Fausto foi “Por este Rio Acima”, um disco “muito conceptual, que não é algo que costuma acontecer, é até raro acontecer”

Um trabalho com um “som muito próprio e muito inspirado”, porque Fausto Bordalo Dias “era um compositor muito inspirado”, com “belíssimas canções”, “muito fortes que retratam também uma maneira muito forte de estar no mundo, muito portuguesa”.

Fausto era ainda “muito bom a tocar guitarra acústica”, lembrou Sérgio Godinho que logo após o 25 de Abril de 1974 privou de muito perto com o músico, por quem tinha “muita admiração”, também pela “maneira pessoal e complexa como tocava guitarra”.

O autor de “Os Sobreviventes” lembrou ainda a aventura a três com José Mário Branco e Fausto – o projeto "Três Cantos" – que, em 2009, reuniu os três para quatro concertos, dois no Campo Pequeno, em Lisboa, e dois no Coliseu do Porto, e que mais tarde daria origem a um álbum, a partir desses concertos ao vivo.

“Ensaiámos muito, durante muito tempo, um grupo de 18 músicos”, numa “aventura muito intensa em que nos empenhámos muito”, lembrou.

“Havia uma intensidade ali muito particular, porque eram os nossos três universos a cruzarem-se”.

Questionado pela Lusa sobre se há uma música e uma canção portuguesa antes e depois de Fausto, Sérgio Godinho respondeu: "De certo modo, porque - lá está - ele criou uma estética própria, uma estética própria que seguiu muito essa cartilha que ele tinha criado”, sublinhou.

Sérgio Godinho lembrou ainda que Fausto tinha algo de perfeccionista e que trabalhava obsessivamente as canções até achar que estava tudo bem”.

A morte de Fausto

Fausto Bordalo Dias, criador de "Por Este Rio Acima", morreu hoje de madrugada aos 75 anos, em casa, em Lisboa, vítima de doença prolongada.

O músico viveu a infância e a adolescência em Angola, onde começou a interessar-se por música, assimilando os ritmos africanos que conjugaria com ritmos e modos da tradição popular portuguesa. O seu primeiro grupo, porém, integrava-se no movimento pop dos anos 60 e tinha por nome Os Rebeldes.

Fixou-se em Lisboa em 1968, quando entrou no antigo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, atual ISCSP - Universidade de Lisboa, para se licenciar em Ciências Sócio-Políticas.

A adesão ao movimento associativo aproxima-o de compositores como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e, mais tarde, de José Mário Branco e Luís Cília, que já viviam no exílio.

"Pró que Der e Vier" (1974) e "Beco sem Saída" (1975) contam-se os seus dois trabalhos iniciais marcados pela experiência revolucionária.

A esses seguiram-se "Madrugada dos Trapeiros" (1977), que inclui a canção "Rosalinda", "Histórias de Viajeiros" (1979), que abre já caminha a "Por Este Rio Acima" (1982), o seu grande sucesso, inspirado na obra "Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto.

Com "Para Além das Cordilheiras" (1989) venceu o Prémio José Afonso.

"O Despertar dos Alquimistas", "A Preto e Branco", "Crónicas da Terra Ardente" são outros dos seus álbuns.

Em 2003 compôs "A Ópera Mágica do Cantor Maldito" (2003), uma perspetiva sobre a história portuguesa pós-25 de Abril.

Em 2009, com José Mário Branco e Sérgio Godinho, fez o espectáculo "Três Cantos", sobre o repertório dos três músicos, dando posteriormente origem a um álbum com o mesmo nome.