A afirmação foi de Paulo Portas, que hoje esteve com Francisco Pinto Balsemão, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, num debate subordinado ao tema “Democracia e jornalismo”, moderado por António José Teixeira.
Integrado na apresentação e debate sobre Bolsas Gulbenkian de Investigação, António José Teixeira fez uma introdução ao tema em debate, sublinhando ainda que “nunca a informação foi tão acessível e nunca foi tão duvidosa” numa alusão às redes sociais e às ‘fake news’.
Depois, questionou Francisco Pinto Balsemão sobre se fazia sentido, hoje, questionar o que o jornalista questionara no livro que escreveu “Informar ou Depender” em 1971.
Ao que o fundador do Expresso e da SIC respondeu que apesar de muita coisa ter mudado – começando pela vivência em democracia, que não acontecia em 1971 – continua a haver problemas que subsistem.
Até porque “a democracia representativa em que acreditamos parece estar em crise”, argumentou, invocando ainda alguns populismos dos tempos modernos.
Defendeu, porém, que é “cada vez mais necessário um jornalismo profissional, cumprindo regras, face ao aumento das redes sociais”.
Um jornalismo que forneça, “com objetividade, o maior número de pontos de vista possíveis para que o cidadão possa pensar e decidir pela sua cabeça”.
Já Paulo Portas mostrou-se mais “pessimista” em relação à democracia, considerando que jornalismo e democracia “vivem crises paralelas”.
Ciente de que “democracia e jornalismo” são uma questão que se põe apenas nas democracias ocidentais, porque em “metade do mundo é uma questão que não se põe já que não vivem em democracia”, o ex-ministro e ex-dirigente do CDS/PP disse que, atualmente, se assiste a uma “grande fragmentação que está muito associada à prevalência das chamadas redes sociais”.
Com as redes sociais, “desaparece a relevância da função de intermediação enquanto no jornalismo tradicional existe a ajuda de um crivo”.
“As redes sociais não têm memória nem têm futuro. Vivem numa sucessão de emoções que se atropelam umas às outras e, normalmente, as emoções provocam indignação, e o que acontece é que toda a gente vai atrás da indignação e amanhã ninguém sabe a história”, frisou.
“E isto é a maior ilusão de igualdade” porque dispensa qualquer critério de qualidade, referiu.
Para Paulo Portas, os políticos e a política dão, contudo, demasiada importância às redes sociais.
Já Francisco Pinto Balsemão defendeu que “os jornalistas não podem trabalhar para brilhar nas redes sociais, mas no jornalismo”.
E, para Francisco Balsemão, para haver bom jornalismo há que continuar a investir em tecnologias, num trabalho sério e na luta pelos direitos de autor, que “é outra causa que os jornalistas têm de abraçar”.
Porque “enfrentar os gigantes Google e Facebook não é fácil”, até porque eles “tomam conta da publicidade, têm vantagens fiscais e uma dimensão que o jornalismo não tem”.
Já Paulo Portas disse que atualmente se vive “num caos e quando há um caos as pessoas querem um aumento de autoridade.
“E eu não me admiro nada que venham a querer isso daqui a uns tempos”, disse.
O debate ficou concluído com perguntas do público aos oradores, tendo a jornalista Maria Flor Pedroso questionado os dois ex-políticos sobre qual seria, hoje, um bom tema para jornalismo de investigação.
Depois de assumir que um bom tema seria saber “se houve mandante moral que mandou 50 ´hooligans` fazer o que se passou em Alcochete na terça-feira”, o ex-dirigente do CDS/PP acabou por concordar com o tema referido por Pinto Balsemão que sublinhou que um “bom tema era uma investigação profunda à transferência do poder em Angola”.
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