Questionado pela Lusa a propósito do aumento do uso de materiais descartáveis, entre os quais o plástico, devido à pandemia de covid-19, o MAAC garantiu que se mantêm as medidas previstas para este ano, como a proibição de produtos de plástico de uso único (como pratos, talheres, palhinhas ou cotonetes), antecipando uma diretiva nessa matéria, ou a contribuição sobre embalagens de pronto a comer, que está prevista no Orçamento do Estado para este ano.
“Neste período entre o surgimento da covid-19 e o fim do período de Estado de Emergência, assistiu-se a uma pausa nestes imperativos comuns, em favor do princípio da precaução. Mas, à medida que o conhecimento científico sobre a propagação do vírus vai evoluindo, e com o regresso progressivo da atividade socioeconómica, as políticas ambientais revestem-se ainda de maior importância, dadas as implicações claras entre ambiente e saúde pública”, afirmou fonte oficial do MAAC.
Salientando sempre a importância da saúde pública, e justificando o uso de descartáveis pela necessidade de agir rapidamente a pensar nessa saúde pública, o Ministério admite, contudo, que está preocupado com o “aumento considerável de produção de resíduos, pela opção de utilização de produtos e equipamentos descartáveis”.
Agora, com mais conhecimento sobre o vírus, e porque também já há no mercado “equipamentos e produtos que permitem prescindir das opções de descartibilidade”, é altura, diz o Governo, “de atuar de forma a que soluções futuras” sejam “sustentáveis e robustas”.
O MAAC, com os ministérios da Economia e da Saúde, vai desmistificar a necessidade de recorrer a produtos descartáveis para que a saúde pública seja assegurada, diz o Governo.
Questionado pela Lusa sobre a necessidade de, por exemplo os cabeleireiros deverem usar toalhas descartáveis o Ministério salientou que tal decorre de um documento de “compromisso do setor” no qual se refere que os materiais devem ser preferencialmente descartáveis. Mas tal, salienta o Governo, “não afasta a possibilidade de se utilizarem os produtos não descartáveis após a devida higienização”.
Sobre a futura abertura dos restaurantes, “a questão da necessidade em recorrer ao descartável, como opção única, já não se coloca”, pelo que está a estudar medidas a introduzir neste âmbito “para que tal opção não ganhe terreno nesta nova fase de mitigação da presente pandemia”, diz também o Governo, numa resposta por escrito às perguntas da Agência Lusa.
O MAAC admite também que um maior volume de descartáveis potencialmente infetados pode constituir um “risco sério”, quer pelo aumento da quantidade de resíduos produzidos quer pelo risco potencial a que os vários trabalhadores ficam expostos ao longo da cadeia de recolha e tratamento desses resíduos.
Mas salienta que para a maioria dos setores há alternativas aos descartáveis, e que mesmo para aqueles onde elas parecem não existir tem de ser incentivada a inovação.
“O Ministério do Ambiente, em articulação com a autoridade de saúde, tomará todas as medidas necessárias para garantir a saúde pública, caso se verifique, mesmo assim, um aumento do volume de descartáveis potencialmente infetados”, assegura, garantindo que no depender do MAAC o regresso à normalidade “não irá resultar num recuo em políticas que estavam a ser ativamente promovidas”.
A Assembleia da República debate hoje um projeto de lei e cinco projetos de resolução sobre a gestão de resíduos no âmbito da atual pandemia de covid-19, quer sobre as melhores práticas de gestão de resíduos descartáveis, como máscaras ou luvas por exemplo, quer sobre a, quando possível, opção por materiais reutilizáveis.
Há alternativas aos descartáveis na luta contra a pandemia
A associação ambientalista Zero alertou hoje que há alternativas aos materiais descartáveis na luta contra o covid-19 e condenou a perspetiva de que “é mais seguro o que é para deitar fora”.
Susana Fonseca, da direção da associação, disse à Lusa que em matéria de cuidados sanitários há que ter “alguma razoabilidade”, porque não é o uso intensivo de materiais descartáveis que resolve o problema da contaminação e propagação do novo coronavírus, que provoca a doença covid-19.
A ideia é também defendida por outra dirigente ambientalista, Catarina Grilo, da Associação Natureza Portugal, que alerta mesmo para a “falsa sensação de segurança” que os descartáveis podem dar.
Questionada pela Lusa sobre o aumento recente e utilização de materiais descartáveis (muitos deles de plástico), contrariando as políticas seguidas até agora, Susana Fonseca salientou que os cuidados são importantes, mas que “o descartável não é o melhor”.
E deu exemplos. O uso de toalhas descartáveis nos cabeleireiros não é mais seguro do que lavar as toalhas, já que o vírus não subsiste após a lavagem, como não é mais seguro usar um copo de plástico para o café do que uma chávena que é lavada a altas temperaturas.
Nas palavras de Susana Fonseca a nível europeu “não há qualquer recuo nem intenção” de parar as políticas defendidas até agora nesta matéria, e adiantou também que o uso de material descartável dá nalguns casos uma falsa sensação de segurança.
É que, disse, há situações em que luvas não se justificam e que é suficiente a lavagem frequente das mãos, além de que se podem criar riscos acrescidos ao manusear objetos contaminados.
“Temos é de aumentar as medidas de higiene e se tudo for cumprido o risco é eliminado. Não há necessidade de recorrer tanto ao descartável”, salientou nas declarações à Lusa.
Nesta matéria, disse ainda, “há uma grande oportunidade para empresas” encontrarem as melhores soluções, tanto mais que o plástico é a superfície onde o vírus permanece por mais tempo, podendo chegar a 72 horas.
E depois “não nos podemos esquecer que não é só esta crise que estamos a viver”, avisou.
Catarina Grilo, diretora de Conservação da Associação Natureza Portugal, que em Portugal trabalha com a internacional World Wide Fund for Nature (WWF), também admitiu que a pandemia de covid-19 está a provocar um “retrocesso temporário” em relação aos descartáveis, mas considerou que tal não terá qualquer reflexo nas políticas públicas sobre a matéria.
Ao contrário, acrescentou em declarações à Lusa, “será mais um sinal” de que se devem acelerar medidas mais amigas do ambiente, de que empresas devem continuar a procurar substituir o plástico descartável por outros materiais.
“Vemos como um sinal muito positivo da elevada perceção que as pessoas têm dos problemas associados ao plástico descartável os inúmeros alertas que vemos nas redes sociais sobre o aumento do uso destes materiais desde que se iniciou a pandemia”, afirmou a dirigente ambientalista, acrescentando ter esperança que com a normalização da situação decorrente da covid-19 vai haver “largo apoio e adesão dos cidadãos a medidas de redução de descartáveis”.
Catarina Grilo entende o medo e a incerteza sobre quanto tempo vive o vírus nas diferentes superfícies, mas considera que os descartáveis para fins sanitários se devem restringir “o mais possível” aos profissionais de saúde, e acredita que os copos de plástico e embalagens “take-away” vão diminuir progressivamente.
“O medo e receio de contaminação não são bons conselheiros, tanto por conduzir a uma utilização excessiva e desnecessária de materiais descartáveis, como por poderem dar uma falsa sensação de segurança”, defendeu a responsável.
E tal como Susana Fonseca, mas citando a Direção-Geral da Saúde e a Organização Mundial de Saúde, Catarina Grilo diz que o contágio se previne com a etiqueta respiratória, o distanciamento físico e a lavagem frequente das mãos.
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